“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
TRANSPLANTES INTER VIVOS
O fígado é um órgão que
permite transplante inter vivos. Duas pessoas, geralmente parentes, são participes
desse procedimento. O fígado do receptor é totalmente removido e substituído
por uma porção saudável de um órgão tirado de um doador vivo. O fígado
remanescente do doador se regenera e recupera seu volume original em algumas
semanas. Por incrível que pareça até mais de 50% pode ser doado. A porção
transplantada também cresce e assume as funções de um fígado completo.
A cirurgia de transplante
inter vivos envolve a consecução de dois procedimentos concomitantes. Para a
realização ser coroada de êxito é necessário reunir uma equipe composta por
diversos médicos-cirurgiões e anestesistas altamente treinados, um hospital que
forneça um ambiente sofisticado e medicamentos antirrejeição que serão
aplicados pelo resto da vida do
receptor. Ao tratamento médico-hospitalar deve ser agregado um prévio e
posterior acompanhamento psicológico prolongado e a assistência do serviço
social.
Atualmente se cogita
realizar transplantes a partir de doadores animais, ainda em forma de estudos,
são executados quando inexistem doadores humanos potenciais e não há mais
condições de sobrevivência do receptor. Quando se alega os riscos enfrentados
pelo receptor nessa modalidade não devemos esquecer que até dezembro de 1967
transplantes eram considerados impossíveis devido aos problemas ocasionados
pela rejeição do órgão transplantado. Nessa data, no Hospital Groote Schuur, na
cidade do Cabo, o cirurgião Christiaan Nuthling Barnard transplantou o coração
de Denise Durval, 36 anos, morta em um acidente. O paciente, Louis Washansky,
55 anos. Morreu 18 dias depois e não foi por efeito da cirurgia e sim por
pneumonia.
O primeiro transplante de
coração de porco em receptor humano ocorreu nos Estados Unidos, em 2020 e seu
resultado chamou a atenção do mundo científico para um americano de 57 anos.
Bateu no peito de receptor durante oito semanas antes de parar, não por falha
na cirurgia, mas como consequência de uma infecção com citomegalovírus, agente
oportunista que se aproveitou da imunossupressão associada aos transplantes.
Esse primeiro
xenotransplante chamou a atenção do mundo científico porque órgãos ou células
de outra espécie, quando transplantados para receptores humanos são
reconhecidos como corpos estranhos e começam a ser rejeitados em minutos. Na
comparação, oito semanas representam uma eternidade.
Meses depois, dois grupos
independentes realizaram os primeiros xenotransplantes renais em três pacientes
que se encontravam em UTI em estado de morte cerebral legalmente documentada.
Os rins recebidos produziram urina durante dois a três dias, sem sinais de
rejeição. Esses casos foram precedidos por centenas de transplantes de órgãos
de porcos em babuínos, muitos dos quais sobreviveram anos depois de receber
fígados, corações, rins ou células beta do pâncreas, as produtoras de insulina
que falta a quem sofre de diabete.
Os transplantes de órgãos
de porcos puderam avançar a partir dos anos 1990, quando David Cooper,
cirurgião do Hospital de Boston descobriu que a rejeição ocorria principalmente
quando o sistema imunológico reconhecia na superfície das células do órgão
recebido uma molécula de açúcar, a alfa-gal, que precisava ter sua produção
silenciada. O surgimento da técnica CRISPR-CAS9 nos anos 2010 tornou possível
modificar genes com mais facilidade e a partir daí porcos transgênicos estão
sendo desenvolvidos em várias companhias de biotecnologia, nos Estados Unidos e
Europa. Transplantes de células e órgãos de porcos transgênicos em humanos
deixaram de parecer ficção científica. Lembremos um pensamento de Júlio Verne :
“Tudo o que um homem pode imaginar, um
outro homem realizará”. Do deputado federal, jornalista, advogado e
professor, Jorge Alberto Beck Mendes Ribeiro: “Aponta muito baixo quem mira as estrelas”.
O CÉU É O LIMITE.
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
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