“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
EVOLUÇÃO
Uma fera não nasce fera. Um
filhote de tigre é um fofo gatinho que nem de longe deixa antever o que será
quando adulto.
A corrupção no Brasil
nasceu com um singelo apelo de Pero Vaz de Caminha na célebre “Carta de
Achamento do Brasil”. Assim conclui: “E pois que, Senhor, dou aqui a Vossa
Alteza, assim neste cargo que levo, como de qualquer coisa que de vosso serviço
for, Vossa Alteza há de ser muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer
singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge Osório, meu genro – que
d’Ela receberá em muita mercê. Beijo
as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro, a Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje sexta-feira,
primeiro dia de maio de 1500.
Corruptos não foram
aliciados, no início, com quantias vultosas (o preço dos votos para a PEC da
reeleição de FHC foram míseros R$ 200 mil), nem empreiteiras despenderam
milhões de reais para conseguirem primazia em obras públicas, ao menos no início.
Assim como um deslizamento inicia com o deslocamento duma minúscula porção de
neve e se transforma numa avalanche que arrasa tudo o que se anteponha, uma
gorjeta abre a primeira porta para chegar a quem pode autorizar um contrato
bilionário.
Uma simbiose conluia
corruptor com corrupto, nem sempre nessa ordem. Contratos são ajustados e o
dinheiro do suborno é agregado no orçamento ou aposto em aditivos posteriores.
A Odebrecht tornou-se a
maior provedora de recursos a serem distribuídos e as licitações tinham como
parâmetros o “quem dá mais” como prioridade.
O BNDES financiou a juros
subsidiados e sem garantias de ressarcimento, bilhões de dólares a países do
exterior enquanto obras no território brasileiro não são executadas ou
permanecem inconclusas por falta de recursos. E teriam, seguramente, maiores
possibilidades de serem pagas.
Porto Mariel, em Cuba,
concluída. Porto de Santos, nem foi cogitada a possibilidade da
modernização. Metrô na
cidade do Panamá e Caracas financiados. O de Porto Alegre sequer saiu do
papel. Ponte sobre o rio Orinoco idem. E a ponte do rio Guaíba? Aeroporto Macala, Moçambique. E o Salgado Filho? BRT de Mabuto, Moçambique; autopista Maddam-Colon, Panamá e nossas BRs
sucateadas. Hidrelétricas
de San Francisco (Equador); Manduriacu (Equador) e Chaglia (Peru). No Brasil?
Problemas ambientais, de localização e falta de verbas impedem a construção.
Todos os supracitados foram
executados depois de 2003.
Financiamentos para
empresários brasileiros também foram aprovados, Eike Batista em 2013 recebeu do
BNDES um aporte de R$ 10,4 bilhões. Hoje está preso.
“Metida tenho a mão na
consciência e não falo senão verdades puras que me ensinou a viva experiência”,
(Camões – soneto) “Já dizia que é uma rede que extrai da nação tudo o que pode. E a
sociedade submissa se adapta”. (Raimundo Faoro, presidente da OAB de 1977-1979,
em “Os Donos do Poder”.
“Ai que saudades que eu tenho... do tijolinho de
banana, do meu autorama, do cinerama, do Mário Quintana e da Petrobras
pré-lama”. (Luís Fernando Veríssimo)
Pode até ser mera
coincidência, mas depois que o BNDES devolveu R$ 100 bilhões ao Governo
Federal, países que tinham obras em andamento ou projetadas a cargo da
Odebrecht estão desistindo delas e processando a empreiteira por suborno a
funcionários. E não são quantias pequenas.
O presidente Pedro Paulo
Kuczynski Godard, do Peru, expulsou a Odebrecht do país andino. A empreiteira
admitiu que corrompeu 100 personalidades do governo, não só para o contrato do
metrô de Lima, mas todos que está tocando no Peru. É a primeira vez que
a Odebrecht é expulsa de um país.
A Odebrecht confessou claramente em um acordo que
assinou entre os governos do Brasil, Suíça e EEUU que corrompeu personalidades
de governos, políticos, jornalistas e publicitários de 12 países. A Odebrecht pagará multa de R$ 3,82
bilhões às autoridades do Brasil, Estados Unidos e Suíça. A empreiteira
informou que o valor será pago ao longo de 23 anos e a soma das parcelas será
reajustada de acordo com a taxa SELIC. Já a Braskem pagará R$ 3,1 bilhões. A
empresa, que é controlada pela Odebrecht e pela Petrobras, informou que o
pagamento será feito em seis parcelas anuais, reajustadas pela variação do
IPCA.
A Odebrecht já está
sofrendo seu “inferno astral”. A partir de fevereiro/2017 o STF referendará as
delações premiadas de 77 executivos, inclusive de seu presidente Marcelo
Odebrecht. O mundo político está em polvorosa com os desdobramentos e “pondo as
barbas de molho”. Inclusive personalidades do primeiríssimo escalão. Deste e de
governos anteriores.
Quando forem examinadas as
circunstâncias da construção dos Estádios da Copa, muito haverá para contar. A
FIFA queria que o Brasil tivesse apenas 8 sedes na Copa do Mundo. O governo
brasileiro bateu pé e decidiu que seriam 12. Para tanto gastou bilhões para
construir estádios que hoje pouca ou nenhuma serventia tem e os responsáveis
pelo desperdício desta montanha de dinheiro público? Estão admirando a sua
obra. Simplesmente.
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
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