terça-feira, 25 de junho de 2019

EVOLUÇÃO





PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

EVOLUÇÃO

Uma fera não nasce fera. Um filhote de tigre é um fofo gatinho que nem de longe deixa antever o que será quando adulto.
A corrupção no Brasil nasceu com um singelo apelo de Pero Vaz de Caminha na célebre “Carta de Achamento do Brasil”. Assim conclui: “E pois que, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza, assim neste cargo que levo, como de qualquer coisa que de vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge Osório, meu genro – que d’Ela receberá em muita mercê.                                                                    Beijo as mãos de Vossa Alteza.                                                             Deste Porto Seguro, a Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.
Corruptos não foram aliciados, no início, com quantias vultosas (o preço dos votos para a PEC da reeleição de FHC foram míseros R$ 200 mil), nem empreiteiras despenderam milhões de reais para conseguirem primazia em obras públicas, ao menos no início. Assim como um deslizamento inicia com o deslocamento duma minúscula porção de neve e se transforma numa avalanche que arrasa tudo o que se anteponha, uma gorjeta abre a primeira porta para chegar a quem pode autorizar um contrato bilionário.
Uma simbiose conluia corruptor com corrupto, nem sempre nessa ordem. Contratos são ajustados e o dinheiro do suborno é agregado no orçamento ou aposto em aditivos posteriores.
A Odebrecht tornou-se a maior provedora de recursos a serem distribuídos e as licitações tinham como parâmetros o “quem dá mais” como prioridade.
O BNDES financiou a juros subsidiados e sem garantias de ressarcimento, bilhões de dólares a países do exterior enquanto obras no território brasileiro não são executadas ou permanecem inconclusas por falta de recursos. E teriam, seguramente, maiores possibilidades de serem pagas.
Porto Mariel, em Cuba, concluída. Porto de Santos, nem foi cogitada a possibilidade da modernização.                                                                      Metrô na cidade do Panamá e Caracas financiados. O de Porto Alegre sequer saiu do papel.                                                                                Ponte sobre o rio Orinoco idem. E a ponte do rio Guaíba?                            Aeroporto Macala, Moçambique. E o Salgado Filho?                                    BRT de Mabuto, Moçambique; autopista Maddam-Colon, Panamá e nossas BRs sucateadas.                                                                        Hidrelétricas de San Francisco (Equador); Manduriacu (Equador) e Chaglia (Peru). No Brasil? Problemas ambientais, de localização e falta de verbas impedem a construção.
Todos os supracitados foram executados depois de 2003.
Financiamentos para empresários brasileiros também foram aprovados, Eike Batista em 2013 recebeu do BNDES um aporte de R$ 10,4 bilhões. Hoje está preso.
“Metida tenho a mão na consciência e não falo senão verdades puras que me ensinou a viva experiência”, (Camões – soneto)                                        “Já dizia que é uma rede que extrai da nação tudo o que pode. E a sociedade submissa se adapta”. (Raimundo Faoro, presidente da OAB de 1977-1979, em “Os Donos do Poder”. 
“Ai que saudades que eu tenho... do tijolinho de banana, do meu autorama, do cinerama, do Mário Quintana e da Petrobras pré-lama”. (Luís Fernando Veríssimo) 

Pode até ser mera coincidência, mas depois que o BNDES devolveu R$ 100 bilhões ao Governo Federal, países que tinham obras em andamento ou projetadas a cargo da Odebrecht estão desistindo delas e processando a empreiteira por suborno a funcionários. E não são quantias pequenas.
O presidente Pedro Paulo Kuczynski Godard, do Peru, expulsou a Odebrecht do país andino. A empreiteira admitiu que corrompeu 100 personalidades do governo, não só para o contrato do metrô de Lima, mas todos que está tocando no Peru.                           É a primeira vez que a Odebrecht é expulsa de um país.
A Odebrecht confessou claramente em um acordo que assinou entre os governos do Brasil, Suíça e EEUU que corrompeu personalidades de governos, políticos, jornalistas e publicitários de 12 países. A Odebrecht pagará multa de R$ 3,82 bilhões às autoridades do Brasil, Estados Unidos e Suíça. A empreiteira informou que o valor será pago ao longo de 23 anos e a soma das parcelas será reajustada de acordo com a taxa SELIC. Já a Braskem pagará R$ 3,1 bilhões. A empresa, que é controlada pela Odebrecht e pela Petrobras, informou que o pagamento será feito em seis parcelas anuais, reajustadas pela variação do IPCA.
A Odebrecht já está sofrendo seu “inferno astral”. A partir de fevereiro/2017 o STF referendará as delações premiadas de 77 executivos, inclusive de seu presidente Marcelo Odebrecht. O mundo político está em polvorosa com os desdobramentos e “pondo as barbas de molho”. Inclusive personalidades do primeiríssimo escalão. Deste e de governos anteriores.
Quando forem examinadas as circunstâncias da construção dos Estádios da Copa, muito haverá para contar. A FIFA queria que o Brasil tivesse apenas 8 sedes na Copa do Mundo. O governo brasileiro bateu pé e decidiu que seriam 12. Para tanto gastou bilhões para construir estádios que hoje pouca ou nenhuma serventia tem e os responsáveis pelo desperdício desta montanha de dinheiro público? Estão admirando a sua obra. Simplesmente.


Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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