terça-feira, 18 de junho de 2019

REPRODUÇÃO DS VIDA - 2






PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

REPRODUÇÃO DA VIDA (2)
Na coluna anterior abordamos os aspectos considerados normais que a natureza utiliza para manter a vida na face da terra. Não só manter como também promover uma evolução contínua através de mutações, adaptações e, inclusive, utilizando artifícios engenhosos, heterodoxos certamente.                                                                         Estamos habituados a considerar a existência de dois sexos: masculino e feminino. São caracterizados por cromossomos X e Y. Quando dois X se juntam (XX), estabelecem a existência do sexo feminino, quando miscigenam (XY), o masculino. Isto como regra, a seguir veremos que diversas nuances existem. É o assunto que abordaremos nesta coluna.
A CIÊNCIA TEM DESCOBERTO CADA VEZ MAIS COISAS SOBRE A SEXUALIDADE NO MUNDO ANIMAL.
O SER COM TRÊS SEXOS.
Cientistas da Faculdade de Wililam e Mary (Virgínia, EUA) estão estudando um animal muito curioso – o verme Auanema Rhodensis que, além de possuir três sexos, desafia a genética de outras formas ainda mais ousadas.                                                   Ter três sexos – masculino, feminino e hermafrodita não é assim tão incomum no reino animal. Em certos organismos, é a norma. O que é mais raro é a existência de hermafroditas autoférteis. Pense nas minhocas: elas são hermafroditas, mas ainda é necessário duas delas para fazer bebês minhocas.                                        
Em Auanema Rhodensis as fêmeas e os hermafroditas são XX, enquanto os machos têm um único X e nenhum Y. Ou seja, esta espécie não só tem três sexos, como seus padrões de herança genética confundem todas as nossas previsões.

O ORGANISMO CELULAR QUE TEM SETE SEXOS DIFERENTES
Acha que sua vida sexual é complicada? Se dois sexos diferentes já são capazes de gerar muita confusão no mundo humano, imagine os problemas do Tetrahymena Thermophila, um organismo unicelular que vai muito além do masculino e feminino: ele tem sete sexos diferentes para escolher.    
                                                                        Um novo estudo publicado no periódico PLoS Biology finalmente lançou uma luz sobre a estranha vida sexual, aparentemente aleatória, desta criatura complexa. É um protozoário de forma oval que pode ser encontrado em água doce. Mas, ao contrário de seus irmãos unicelulares assexuados, estes organismos têm um estágio sexual bastante singular no seu ciclo de vida, que serve para aumentar suas chances de reprodução. Os organismos microscópicos vêm em sete diferentes “sexos”, ou “tipos para acasalamento”. No geral, podem acasalar com qualquer outro tipo, exceto se autofecundarem.
Entender o que vem em seguida já é um pouco mais complicado. Depois de dois indivíduos acasalarem, a “prole” gerada pode ser de qualquer um dos sete diferentes sexos – não importa de que tipos são os dois pais. Isso surpreendeu os biólogos, já que os pais normalmente passam seus próprios genes para sua prole.                              A equipe de pesquisadores, liderada por Marcella D. Cervantes e Eduardo Orias, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara (EUA), descobriu que cada T. Thermophila tem dois genomas, e cada um desses genomas está contido dentro de seu próprio núcleo.                                                                                                                  Um dos núcleos, o núcleo somático, contém o DNA que faz o trabalho diário da célula. O outro, o núcleo da linha germinativa, age como as células nos ovários ou testículos de seres humanos. O DNA da linha germinativa é que passa características genéticas à prole.
Quando dois indivíduos se fundem na sua versão de sexo unicelular, eles produzem um núcleo de gametas, que é o equivalente a um ovo fertilizado em seres humanos. Este núcleo fertilizado começa a fazer cópias de si próprio, algumas das quais se tornam núcleos da linha germinativa, e outras núcleos somáticos.                                    É nesta etapa que o “tipo de acasalamento” do indivíduo é escolhido. Cada núcleo germinal contém uma matriz de pares de genes incompletos – um para cada um dos sete sexos. Quando dois indivíduos se juntam, completam um desses pares de genes aleatoriamente, definindo assim o tipo de acasalamento da prole. O resto dos pares de genes incompletos é descartado.                                                                                           Então, basicamente, cada um dos sete sexos é capaz de “completar” qualquer um dos outros seis sexos – e faz isso ao acaso.                                                                           Parece complicado e até mesmo pouco eficiente, mas, segundo os pesquisadores, sete tipos de acasalamento aumentam a probabilidade de T. Thermophila  topar com um organismo com o qual pode se reproduzir em uma lagoa.                                             A descoberta não apenas lança luz sobre a vida de T. Thermophila. Melhor compreensão dos rearranjos de DNA pode ter potenciais implicações para a saúde humana que vão desde transplante de tecido a câncer.
MESMO QUANDO APENAS OS DOIS SEXOS PREPONDERANTES ESTÃO PRESENTES, VARIAÇÕES NAS COMBINAÇÕES ACONTECEM:
Encontrar meninas é difícil se você é uma Lula do sexo masculino que vive em águas profundas e escuras na costa da Califórnia. É raro cruzar com sua própria espécie – e quando você tem a oportunidade, a escuridão do fundo do mar faz com que seja difícil dizer se o novo amigo é macho ou fêmea. 
                                                                                                                                                   Uma espécie de lula apareceu com uma solução alternativa para este problema, de acordo com um novo estudo. O sedutor de oito braços simplesmente acasala com qualquer lula de sua espécie que cruza seu caminho. A lula em questão, Octopoteuthis Deletron, é uma criatura de tamanho médio, cujo corpo pode alcançar 17 centímetros de comprimento. Utilizando veículos operados remotamente, os cientistas foram capazes de captar imagens de 108 dessas lulas entre 1992 e 2011, que cruzavam as águas de 400 a 800 metros de profundidade. A lula vive uma vida solitária e raramente se encontra com membros de sua espécie. Assim, pode fazer sentido agarrar qualquer oportunidade de acasalar.
O Cardeal – ave que habita a América do Norte – na foto é um raro ginandromorfo: possui a plumagem masculina vermelho brilhante em seu lado esquerdo, e sua outra metade é coberta com a comparativamente monótona e cinza-amarronzada plumagem feminina. Borboletas, lagostas e galinhas ginandromorfas existem naturalmente, mas pesquisadores raramente têm observado animais assim em estado selvagem.         
                                                                                                                  Em um estudo feito com mandarins, aves típicas da Austrália, que tinham cérebros metade geneticamente do sexo masculino e metade geneticamente do sexo feminino os pesquisadores descobriram que as diferenças entre os sexos eram neurais na origem e não gonadais. Quando três galinhas ginandromorfas foram examinadas em detalhe, em 2010, descobriu-se que a metade feminina é majoritariamente constituída por células normais do sexo feminino com cromossomos femininos; do mesmo modo, o lado macho é composto principalmente de células do sexo masculino com cromossomos do sexo masculino. Suas células, ao que parece, seguem suas próprias instruções.
Não tem patriarcado no mundo dos Peixes Palhaços. Lá, as fêmeas reprodutoras ocupam o topo da hierarquia social. Quando elas morrem? Simples: seu parceiro masculino se transforma em outra fêmea. Essa transição acontece com frequência, afinal, todos os peixes-palhaços nascem machos, e só depois se transformam em fêmeas.  

O sapo Argus Red, comum no oeste africano, apresenta uma característica sui generis na hora de procriar. Consegue espontaneamente mudar de sexo, escolhendo sempre a opção mais conveniente para garantir o sucesso da reprodução.


O Polvo-Véu é uma das mais espetaculares criaturas do mundo, que ilustra um dos mais extremos casos de dimorfismo sexual: o macho é 40.000 menor do que a fêmea. Enquanto elas podem chegar a 2 metros de comprimento, eles são minúsculos e alcançam, no máximo, alguns centímetros de comprimento. Esses animais são raramente vistos, já que passam a vida inteira à deriva nos oceanos abertos de regiões quentes em todo o mundo. Os machos têm um terceiro braço especialmente modificado que armazena esperma. Durante o acasalamento, este tentáculo se destaca e se arrasta para o manto da fêmea para fertilizar seus ovos. O macho morre pouco depois do acasalamento.                                                                                             Por seu tamanho minúsculo, o macho dessa espécie não foi sequer visto vivo na natureza até 2003. Recentemente, no entanto, foi fotografado por pesquisadores que conseguiram notar detalhes de sua anatomia.

Não desdenhemos a possibilidade de surgirem outras combinações. Poderão ser de origem natural ou, desde que aprendemos a manipular os genes, provocadas pela intervenção da ciência. Nem mesmo a criação de criaturas híbridas, parte orgânica, parte artificial, podem ser descartadas. Lembremos Júlio Verne, que disse: “Tudo o que um homem pode imaginar, cedo ou tarde outro realizará”. O CIBORGUE VEM AÍ?
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado


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