“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
CIÊNCIA
E CULTURA – 19/06/2020
Marília Gerhardt de Oliveira
Jayme José de Oliveira
A
TERRA NÃO É PLANA
Houve
muitos luminares no decorrer da História, entre os quais Eratóstenes (Cirene,
276 a.C. — Alexandria, 194 a.C.) que foi um matemático, gramático, poeta,
geógrafo, bibliotecário e astrônomo da Grécia Antiga, conhecido por calcular a
circunferência da Terra.
É considerado o pai da Geografia na Antiguidade, em função
dos importantes estudos sobre as medições da Terra que realizou. Foi um dos
principais Cientistas e Pensadores da Grécia Antiga. Praticamente não havia assunto pelo
qual Eratóstenes não se interessasse:
Filosofia, História, Gramática, Poesia, Geografia e Matemática. Tudo o atraía e
sobre cada um desses assuntos ele escreveu trabalhos de grande valor.
Astronomia e números, porém, eram seus temas prediletos e, como toda Ciência
Grega de então sofria a influência das ideias de Pitágoras, Eratóstenes
formou-se pela linha pitagórica, a qual admitia teorias muito avançadas para a
época. Aceitava, por exemplo, que a Terra fosse uma esfera solta no espaço,
girando em conjunto com várias outras ao redor de um núcleo central de fogo (o
Sol), numa antevisão do sistema que só bem mais tarde Copérnico enunciaria.
O Faraó Ptolomeu III do Egito
nomeou-o o bibliotecário-chefe da Biblioteca de Alexandria, a mais importante
da Antiguidade, que chegou a possuir mais de dois milhões de papiros em seu
acervo antes de ser destruída num incêndio criminoso. Há várias versões sobre
quem ordenou esse atentado que privou, certamente, a Humanidade de um tesouro
inestimável. Exerceu este cargo de 236 a.C. até sua morte.
Por volta
do ano 220 a.C. a crença mais aceita era o Terraplanismo, embora houvesse quem
admitisse que a Terra era esférica, mas ninguém sabia dizer qual a medida de
sua circunferência. Inconformado com esse estado de coisas, Eratóstenes resolveu
sanar a falha, para tanto, utilizando como dados a distância entre Alexandria e
Syene, a data de 21 de junho e um ângulo formado pelo Sol ao meio dia concluiu
que era de 40.000 quilômetros.
Para
medir o tamanho da Terra, Eratóstenes
raciocinou assim: Syene e Alexandria situavam-se quase sobre o mesmo meridiano
(linha equivalente à circunferência da Terra). Syene ficava praticamente sobre
o Trópico de Câncer. Portanto, no dia de solstício de verão, ao meio-dia, os
raios solares incidiam perpendicularmente, ou seja, a 900, sobre a
cidade. No mesmo dia, à mesma hora, ficavam a 83,20 sobre
Alexandria, afastada 800 quilômetros de Syene. Vendo que a um segmento de
circunferência medindo 800 quilômetros correspondia uma diferença de
7,2º na incidência dos raios solares, Eratóstenes
precisou apenas fazer uma regra de três simples para achar o correspondente aos
3600 da circunferência terrestre. Obteve como resultado 40.000
Km.
Dos três dados requeridos para o cálculo, apenas a
distância entre as cidades apresentava dificuldades para a obtenção. Lembremos
que na época, 200 a.C., não havia muitas alternativas confiáveis, a mais
prática seria a contagem de passos a ser realizada. Eratóstenes contratou um atleta para percorrer as centenas de
quilômetros em linha o mais possível reta e sem sucumbir à exaustão. Mas, como
contar os passos? Elaborou uma solução genial. Suspendeu no pescoço do atleta três bolsas: uma deixou pender para o
lado direito, a segunda para o esquerdo e a terceira sobre o peito. Numa das
laterais, cem pequenos seixos e orientou que, a cada cem passos um fosse
transferido para o lado oposto. O centésimo contabilizaria 10.000 passos e,
este, seria depositado na bolsa frontal. Invertendo o processo a número 99 iria
para o peito e assim sucessivamente. Observe-se que, a cada transposição
diminuiria um seixo e isso teria de ser considerado ao final. Orientações
finais: lacrar as bolsas e as trazer de volta para o contratante. Matemático da
categoria de Eratóstenes, não teve
dificuldade para tomar conhecimento do total e, com uma simples multiplicação,
encontrar a distância percorrida.
Passados
mais de 2.000 anos, os estudiosos foram conferir os cálculos de Eratóstenes e tiveram uma grata
surpresa: a nova medição, realizada com equipamentos de precisão e modernos
sistemas de cálculo, resultou numa cifra praticamente idêntica à do sábio, ou
seja, 40.070 Km.
Os
cálculos de Eratóstenes sobre a
dimensão da Terra não foram aceitos na época e séculos decorreram antes de ser
abandonada a teoria do Terraplanismo no mundo civilizado. Como poderia ser
admitida uma Terra esferoide? Numa Terra plana havia estabilidade, numa esfera
os habitantes da parte inferior cairiam no vácuo circundante. Lembremos que não conheciam a força da
gravidade. Isaac Newton viria a publicar os estudos e formular a Lei da
Gravitação Universal em 1867 d.C.
De
repente, não mais do que de repente, ressurge o Terraplanismo. Estupefatos, assistimos personagens guindados
à liderança (temporariamente) se apoiarem em retrocessos inimagináveis,
ignorando a Ciência enquanto homens e mulheres frequentam estações espaciais,
comunicações se apoiam em satélites e se planejam viagens interplanetárias.
Se não
fosse trágico culturalmente, seria hilário. Mas educar um povo é uma nobre
responsabilidade para pessoas capazes e vocacionadas a viver (e deixar viver)
com base na verdade, o que parece constranger aqueles que se permitem continuar
manipulando de forma torpe segmentos vulneráveis da sociedade (que deveriam
merecer bem mais respeito).
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