“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
PASADENA NUNCA MAIS – 18/05/2019
Mário
de Oliveira Filho, advogado do lobista Fernando Sabino, fez uma afirmação perturbadora.
Ele disse: “O empresário, se porventura faz uma composição ilícita com político
para pagar alguma coisa, sabe que se não fizer isso não tem obra”. Pode pegar
qualquer empreiteirinha e prefeitura do interior do país. Se não fizer acerto,
não coloca um paralelepípedo no chão.
Notem: na prática o doutor está admitindo que crimes foram cometidos,
mas com um diferencial: ele sugere que o seu cliente fez o que todo o mundo
faz. Sabem o que é mais triste? Ele está falando a verdade.
Se
os negócios estão sujeitos à interferência política, quanto mais estado houver
na economia, maior será a corrupção. Mário de Oliveira Filho falou, sim, uma
verdade. Uma verdade incômoda. O estado agigantado que frauda o preço dos
combustíveis – para menos a fim de usufruir dividendos políticos, ou para mais
a fim de angariar fundos que serão distribuídos aos “colaboradores” - pode
fraudar uma licitação. Se, na Petrobras, bilhões foram escamoteados devemos
supor que a prática é diferente em outras estatais? Vivemos num país de
chanchada, anomia e corrupção institucionalizada.
Para combater o “status quo” desavergonhado, a
Lava Jato reuniu juízes, procuradores, policiais e muitos mais que conseguiram resultados
surpreendentes... mas não acabaram com a corrupção. É uma tarefa hercúlea que
demandará persistência, continuidade e, principalmente, apoio dos mais altos
escalões da República. Não é só o legislativo. Executivo e judiciário,
infelizmente, foram contaminados parcialmente e os que a isso se opõem sofrem
as mais sórdidas campanhas de descrédito. Calúnias, mentiras e falsas ilações
têm de ser enfrentadas e, por vezes, o peso da improbidade é avassalador.
Empresas
foram destruídas e muitas ainda o serão – dirigentes foram acusados, julgados e
muitos conheceram o interior de celas prisionais. A pressão do ambiente recluso
e a insistência de familiares redundaram em delações premiadas e essas a novas
descobertas de malfeitos. E estamos apenas arranhando o verniz da iniquidade.
Relembrando
o início da coluna: “Pagar propina é corrupção, não pagar redunda na exclusão
dos contratos com estatais”. Contudo, construir pontes, usinas, vias de
transporte é uma necessidade. É o cão correndo atrás do rabo, quando o alcança
sofre as dores da “mordida”.
É
preciso repensar a maneira de como se combate a corrupção no país, para que os
efeitos colaterais não sejam mais danosos que os crimes. Um ataque que se
dirija apenas às empresas – não aos empresários corruptos – é devastador,
arrisca a economia e as instituições. “Combater a corrupção é como combater o
câncer, é necessário eliminar o câncer sem matar o doente”.
A
corrupção atua para comprar candidatos antes das eleições e para remunerar seu
apoio, depois que eles foram eleitos. É indispensável cortar esse nó górdio e
alcançar acordos que preservem o valor dos ativos que, por sua vez, garantirão
a viabilidade dos negócios, a execução das obras a preço justo e os postos de
trabalho.
Admitindo
que empresas não devam ser inviabilizadas devido a gestões fraudulentas de toda
ordem, faz-se necessário impedir a utilização de verbas públicas em
empreendimentos inviáveis ou de custo acima dos valores de mercado. Pasadena
nos EUA e Comperj no Rio de Janeiro são paradigmáticos em desperdício e
corrupção institucionalizada.
O
Tribunal de Contas da União (TCU) calcula que as obras do Complexo Petroquímico
do Rio de Janeiro (Comperj) geraram prejuízo de U$ 12,5 bilhões à Petrobras. A
perda foi provocada inicialmente por “gestão temerária” dos administradores da
estatal que aprovaram o avanço da construção do empreendimento, que se mostrou
“inviável economicamente”.
Brasileiros
que moram na Califórnia foram até a cidade de Pasadena mostrar a sucata que
restou da Refinaria da Petrobras. São bilhões e bilhões de
dinheiro público que foram jogados no lixo.
Os dados nebulosos começam com um pagamento inicial de
US$ 360 milhões por metade da refinaria de Pasadena, uma sucata adquirida um
ano antes pela empresa belga Astra Oil por US$ 42,5 milhões.
Depois de perder na justiça e
ser obrigada a comprar a outra parte da refinaria [com todos os
encargos], a Petrobras já pagou 1,18 bilhão de dólares (cerca de R$ 4,7
bilhões).
O Conselho de Administração da Petrobras confirmou em
01/05/2019 a venda da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, para a
francesa Chevron por US$
467 milhões, cerca de R$
1, 77 bilhão.
É
o capítulo final de um dos projetos mais polêmicos da estatal, alvo da Operação
Lava Jato.
Resumo da Ópera: Nós
(brasileiros) pagamos
R$ 4,7 bilhões por uma refinaria e agora a Petrobras vende
a mesma refinaria por R$
1,7 bilhão.
PASADENA
NUNCA MAIS.
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
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