segunda-feira, 20 de maio de 2019

PASADENA NUNCA MAIS






PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

PASADENA NUNCA MAIS – 18/05/2019     

Mário de Oliveira Filho, advogado do lobista Fernando Sabino, fez uma afirmação perturbadora. Ele disse: “O empresário, se porventura faz uma composição ilícita com político para pagar alguma coisa, sabe que se não fizer isso não tem obra”. Pode pegar qualquer empreiteirinha e prefeitura do interior do país. Se não fizer acerto, não coloca um paralelepípedo no chão.                                                                                                                        Notem: na prática o doutor está admitindo que crimes foram cometidos, mas com um diferencial: ele sugere que o seu cliente fez o que todo o mundo faz. Sabem o que é mais triste? Ele está falando a verdade.
Se os negócios estão sujeitos à interferência política, quanto mais estado houver na economia, maior será a corrupção. Mário de Oliveira Filho falou, sim, uma verdade. Uma verdade incômoda. O estado agigantado que frauda o preço dos combustíveis – para menos a fim de usufruir dividendos políticos, ou para mais a fim de angariar fundos que serão distribuídos aos “colaboradores” - pode fraudar uma licitação. Se, na Petrobras, bilhões foram escamoteados devemos supor que a prática é diferente em outras estatais? Vivemos num país de chanchada, anomia e corrupção institucionalizada.
 Para combater o “status quo” desavergonhado, a Lava Jato reuniu juízes, procuradores, policiais e muitos mais que conseguiram resultados surpreendentes... mas não acabaram com a corrupção. É uma tarefa hercúlea que demandará persistência, continuidade e, principalmente, apoio dos mais altos escalões da República. Não é só o legislativo. Executivo e judiciário, infelizmente, foram contaminados parcialmente e os que a isso se opõem sofrem as mais sórdidas campanhas de descrédito. Calúnias, mentiras e falsas ilações têm de ser enfrentadas e, por vezes, o peso da improbidade é avassalador.
Empresas foram destruídas e muitas ainda o serão – dirigentes foram acusados, julgados e muitos conheceram o interior de celas prisionais. A pressão do ambiente recluso e a insistência de familiares redundaram em delações premiadas e essas a novas descobertas de malfeitos. E estamos apenas arranhando o verniz da iniquidade.
Relembrando o início da coluna: “Pagar propina é corrupção, não pagar redunda na exclusão dos contratos com estatais”. Contudo, construir pontes, usinas, vias de transporte é uma necessidade. É o cão correndo atrás do rabo, quando o alcança sofre as dores da “mordida”.
É preciso repensar a maneira de como se combate a corrupção no país, para que os efeitos colaterais não sejam mais danosos que os crimes. Um ataque que se dirija apenas às empresas – não aos empresários corruptos – é devastador, arrisca a economia e as instituições. “Combater a corrupção é como combater o câncer, é necessário eliminar o câncer sem matar o doente”.
A corrupção atua para comprar candidatos antes das eleições e para remunerar seu apoio, depois que eles foram eleitos. É indispensável cortar esse nó górdio e alcançar acordos que preservem o valor dos ativos que, por sua vez, garantirão a viabilidade dos negócios, a execução das obras a preço justo e os postos de trabalho.
Admitindo que empresas não devam ser inviabilizadas devido a gestões fraudulentas de toda ordem, faz-se necessário impedir a utilização de verbas públicas em empreendimentos inviáveis ou de custo acima dos valores de mercado. Pasadena nos EUA e Comperj no Rio de Janeiro são paradigmáticos em desperdício e corrupção institucionalizada.
O Tribunal de Contas da União (TCU) calcula que as obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) geraram prejuízo de U$ 12,5 bilhões à Petrobras. A perda foi provocada inicialmente por “gestão temerária” dos administradores da estatal que aprovaram o avanço da construção do empreendimento, que se mostrou “inviável economicamente”.
Brasileiros que moram na Califórnia foram até a cidade de Pasadena mostrar a sucata que restou da Refinaria da Petrobras. São bilhões e bilhões de dinheiro público que foram jogados no lixo.
Os dados nebulosos começam com um pagamento inicial de US$ 360 milhões por metade da refinaria de Pasadena, uma sucata adquirida um ano antes pela empresa belga Astra Oil por US$ 42,5 milhões.
Depois de perder na justiça e ser obrigada a comprar a outra parte da refinaria [com todos os encargos], a Petrobras já pagou 1,18 bilhão de dólares (cerca de R$ 4,7 bilhões).
O Conselho de Administração da Petrobras confirmou em 01/05/2019 a venda da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, para a francesa Chevron por US$ 467 milhões, cerca de R$ 1, 77 bilhão.
É o capítulo final de um dos projetos mais polêmicos da estatal, alvo da Operação Lava Jato.
Resumo da Ópera: Nós (brasileiros) pagamos R$ 4,7 bilhões por uma refinaria e agora a Petrobras vende a mesma refinaria por R$ 1,7 bilhão.
PASADENA NUNCA MAIS.



Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado


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