“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
A ESPADA DE
DÂMOCLES
Sempre,
em todas as épocas, em todos os quadrantes da Terra, sob qualquer forma de
regime de governo, uma preocupação pesava sobre os eventuais detentores do
poder: serem assassinados por quem almejava os suceder. Abraham Lincoln (16º
presidente dos Estados Unidos) e John Fitzgerald Kennedy (35º presidente
norte-americano), vítimas mais recentes.
O jovem Mitrídates (rei do Ponto, de 120 a 63 a.C.) assistiu ao seu pai
morrer. E não foi deitado numa cama, esperando o abraço da morte depois de uma
vida de glória: foi no meio de um banquete. O velho Mitrídates foi envenenado,
sufocou e morreu na frente dos seus convidados. O assassino nunca foi
descoberto. O príncipe, temendo ser assassinado como o pai, criou o hábito
de beber uma dose muito pequena de
veneno todos os dias. Uma gota na primeira semana, duas gotas na
segunda, três na terceira - até chegar a doses quase letais. O organismo foi se
adaptando aos venenos e desenvolveu uma resistência que passou a ser conhecida
pelo nome de “mitridatismo”.
Decorrem séculos, os episódios se
sucedem e os temores se confirmam amiúde. Os sicários são fáceis de
arregimentar, por vezes – a exemplo de Ramón Mercader, que assassinou Leon
Trotski, como veremos a seguir – impulsionados por ideologia. Serviços de
espionagem e contraespionagem se esmeram, uns em promover, outros em impedir os
desenlaces, podem mesmo atuar nas duas frentes.
Na década de 1940 a ascensão do nazifascismo se
combina com uma escalada repressiva interna na União Soviética que levaria à
execução de milhares de militantes, um número de prisões que excederia a casa
de um milhão e a montagem de uma situação que não admitia dissidências. Trotski
se tornaria o mais destacado dos hereges que se tornou o alvo de uma campanha,
em nível mundial, de perseguição, tentativa de desmoralização e, finalmente,
assassinato.
A ascensão de Stalin colocaria uma meta no horizonte:
“sepultar o trotskismo como corrente ideológica”. Trotski é expulso do partido
em 1927. A partir daí começaria seu exílio de 12 anos, com passagem na Turquia,
Noruega e França, até seu destino final, o México, em 1937.
Ramón Mercader não era um assassino de aluguel. Era um
revolucionário profissional, orgulhoso do papel que representava. Confidenciou
a Pavel Sudoglarov: “Ninguém escolhe o tempo de viver, morrer ou matar”. Sabia
o que estava fazendo quando assassinou Trotski e o fez por convicção. Sua
última missão foi urdida sob um denso véu de mistério. Foi preso imediatamente
após o crime, na cidade de Coyoacán, México. Libertado após 20 anos mudou-se
inicialmente para Moscou e, nos anos 70, para Cuba, onde viria a falecer.
A União Soviética foi desmantelada há mais de duas
décadas. Os erros, os excessos e escolhas feitas por seus dirigentes contaram
muito para essa dissolução.
“A orientação partidária do momento era primeiro
consolidar uma república para mais tarde radicalizá-la”. (pag. 102) “Anarquistas e sindicalistas só podiam ser
considerados como companheiros de viagem, descartáveis na escalada em direção
aos grandes objetivos quando eles, comunistas, estivessem em condição de
promover a verdadeira Revolução, que conduziria a uma necessária ditadura do
proletariado” (pag. 103). “Na arte tudo tem de ser
permitido, menos atentar contra a revolução proletária”. (pag. 368) “Lev
Davidovitch Bronhstein (Trotski) pôde ver no horizonte a chegada do previsível
encontro entre Hitler e Stalin pelo qual os dois ditadores tinham trabalhado em
segredo (ou nem tanto) nos últimos anos. Por ora, devem ter acordado numa
partilha da Europa: Hitler desejava a supremacia ariana e transformar o leste
do continente em seu campo de escravos; Stalin sonhava ter um império maior que
os czares jamais tivera. O choque dessas ambições seria a guerra”. (pag.
373) “Os dois ditadores, tal como calculara, estendiam as mãos sobre a
Polônia”. (pag. 406). “Mas se, como diziam alguns vencidos pelas evidências, a classe operária
tinha demonstrado com a experiência russa sua incapacidade de governar a si
própria, então seria necessário admitir que a concepção marxista da sociedade e
do socialismo estava errada“. (pag. 406) “Os pactos de Stalin com Hitler e, mais tarde com Roosevelt e Churchill.
Ou você acha que as partilhas da Europa foram feitas de qualquer maneira, ao
estilo – cheguei primeiro então isso é mmeu?” (pag. 554)
21 DE AGOSTO DE 1940: RAMÓN MERCADER ASSASSINA LEON TROTSKI
EM COYOACÁN, MÉXICO.
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
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Cirurgião-dentista aposentado
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