“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
RECURSOS PÚBLICOS PARA
POLÍTICOS
É chocante a revelação que, finalmente veio a público,
embora a conta gotas, por iniciativa de entidades da sociedade civil que
acompanham o debate no Congresso sobre a necessidade de alterar o atual sistema
de prestação de contas.
É chocante a revelação de que o Tribunal Superior
Eleitoral recém concluiu a análise das despesas de SETE ANOS ATRÁS.
Constatou-se que parte dos recursos públicos têm sido destinados a itens de
luxo, festas, viagens injustificadas. Irregularidades que tendem a ser
repetidas no futuro. E, a cada ano aumenta a pressão dos partidos por mais
recursos. Para 2022 foram destinados R$ 4,9 bilhões, mais que o dobro do pleito
passado (R$ 2,1 bilhões). Antes da presidente Dilma: R$ 289 milhões, que foram
aumentados para R$ 867,5 milhões no seu governo e, após, catapultou.
“O TSE demonstra que o presidente de um partido usou
parte da verba para financiar viagens a seu reduto eleitoral, outra agremiação
gastou no pagamento de advogados em causas desvinculadas da atividade
partidária e um terceiro colocou recursos nas benfeitorias de um sítio”. (Zero
Hora, 19/01/2022)
Não restam dúvidas, são casos
paradigmáticos de desvios de recursos públicos.
Quando a sociedade denuncia corrupção e desvios sucessivos
não pretende criminalizar a política, como alegam alguns partidos, mas exigir
que os recursos destinados originariamente para permitir a atividade política
ampla – evitando que os Partidos mais ricos sufoquem os menos abonados – e
exigir que haja transparência e controle sobre o dinheiro que é na realidade
oriundo dos contribuintes e destinado a movimentar a política e não ser
esbanjado por políticos em atividades espúrias.
“O
dinheiro só compra pessoas baratas. Gente de valor se banca sozinha”. (Rodrigo
de Abreu)
Ken Follet escreveu o romance “O Crepúsculo da
Aurora”, que retrata o modo de vida na Inglaterra no século X. É desta obra que
retiro:
“Duas
coisas o deixavam feliz: dinheiro e poder. E, na verdade, os dois eram a mesma
coisa. Ele adorava ter poder sobre os outros, e o dinheiro lhe proporcionava
isso. Não era capaz de imaginar uma quantidade de poder e dinheiro que
estivesse acima do que poderia querer. Era bispo, mas queria ser arcebispo, e
quando conseguisse isso, se esforçaria para se tornar chanceler do rei, ou quem
sabe o próprio rei. E mesmo então iria querer mais poder e mais dinheiro. Mas a
vida era isso, pensem: uma pessoa podia ir dormir saciada e mesmo assim acordar
com fome”. (pag. 352)
Referia-se ao bispo Winstan que no romance era uma
pessoa ambiciosa, sem escrúpulos e que, para satisfazer a sua cobiça instigava
o joalheiro Cutbert a cunhar moedas falsas. Um crime que, se descoberto,
julgado e condenado tinha como pena prevista decepar a mão ou mesmo a morte.
É um romance que retrata como era a vida na Inglaterra
no ano 997 d.C. Personagens de todos os tipos de caráter, desde aqueles que se
mantinham honestos, coerentes com os princípios altaneiros, justos quando
encarregados a julgar atitudes dos súditos, até os mais subservientes, indignos
e cruéis.
Quando confrontados com a descoberta de seus crimes, pessoas importantes
– pela sua fortuna, posição social ou hierarquia religiosa – não se
constrangiam em usar todos os artifícios para coagir quem pudesse vir a ser um
obstáculo para seus desatinos, inclusive recorrendo a ameaças, corrupção no
sentido mais amplo do termo, tendo sempre o cuidado de reservar parte do
dinheiro ilegal para aumentar seu patrimônio.
Decorreu mais de um milênio e a situação não se
modificou de maneira substancial. Para atingir seus objetivos inescrupulosos há
os que não tergiversam nem se constrangem. Podem ser encontrados em todas as
classes sociais, o diferencial entre uma pessoa digna e outra sem escrúpulos
está no seu interior, na forma intrínseca de reagir perante, como diria a
Igreja: “das condições próximas do pecado”.
E como está bem especificado no texto que reproduzo, não há limites para
consumar os atos nem um teto que satisfaça os apetites insaciáveis.
Quando vários pretendentes disputam o mesmo galardão,
regras inexistem, é um ”pega-pra-capar” insano, os golpes mais baixos são
considerados “carícias” e geram reciprocidade.
Mantenhamos a Esperança, chegará o dia em que
psicopatas e tiranetes serão defenestrados pela população nas urnas, para
tanto, os “convictos” deverão ser
superados em número pelos cidadãos conscientes. Confiem, chegaremos lá, para
desespero desses “líderes carismáticos” que só pensam no próprio umbigo e os
dos áulicos (puxa-sacos).
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
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