quinta-feira, 9 de abril de 2020






PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

UM HOMEM À FRENTE DO SEU TEMPO
“Um político pensa na próxima eleição, um estadista na próxima geração”.
Esta frase, atribuída ao escritor norte-americano James Freeman Clarke (1810-1888) pode ser estendida a todos os líderes proeminentes, em todas as épocas, em todos os quadrantes da terra, independe de etnia, gênero, religião ou convicção política. Aplica-se a quem olha a floresta sem esquecer as árvores que a compõem.
No século XXI surgiu no Vaticano, um Estado desarmado, a figura de um ESTADISTA, o Papa Francisco. Humilde desde o primeiro pronunciamento (“Rezem por mim, pois sou um pecador”), indômito (enfrentou os mais altos dignitários da Cúria Romana), inflexível nos princípios (condenou escândalos, seja vinculados ao Banco Vaticano ou relacionados à pedofilia endêmica), ecumênico (não distingue as pessoas pelo seu credo religioso nem político), pela fala suave, mas que estronda em nossos ouvidos.
Seleciono duas atitudes paradigmáticas:
A Igreja Católica tem sido acusada de acobertar procedimentos pedófilos praticados por membros do seu clero, das mais diversas instâncias. O Papa Francisco, desde o início do seu Pontificado, exige que sejam elucidados esses crimes e o resultado apareceu de pronto. O Cardeal alemão Reinhard Marx reconheceu, em 2019, que a Igreja Católica destruiu arquivos sobre os autores de abusos sexuais.
O Papa Francisco autorizou o julgamento por “abusos de poder” de Bispos que eventualmente acobertaram padres denunciados por abuso sexual de menores, informou o Vaticano (10/06/2015). Os casos estão sendo julgados por um novo Tribunal, uma seção judiciária que estará a cargo da Congregação para a Doutrina da Fé, o braço do Vaticano para doutrinamento, conforme explicou o porta voz do Vaticano, Padre Federico Lombardi.
Ao contrário do que acontece amiúde, o Papa Francisco não protege importantes membros da Igreja Católica, inclusive Cardeais. Após ser condenado, George Pell, Cardeal australiano, recebeu sentença por crimes de pedofilia contra menores nos anos 1960. Ele foi chefe das finanças do Vaticano e assessor próximo do Papa Francisco, chegando a ser o terceiro homem em hierarquia do Vaticano. O Juiz Peter Kidd, do Tribunal do estado de Victoria, declarou que Pell deverá cumprir três anos e oito meses da condenação antes de pedir liberdade condicional, o que poderá fazer em outubro de 2022.
Inúmeros fatos ocorreram, inclusive o ex-cardeal norte-americano Theodore McCarrick, de 88 anos, acusado de abuso sexual há quase meio século, perdeu o cargo de Cardeal e foi devolvido ao estado laico.
Ao contrário do que alguns temiam, esta operação, comandada pelo Pontífice, não causou prejuízo para a Instituição; pelo contrário, a exposição clara e a severa punição dos envolvidos demonstra que novos e radiosos tempos se vislumbram na fímbria do horizonte.
Em 13 de março de 2013, o primeiro Jesuíta a ser eleito Papa disse: “Eu sou um pecador, mas confiando na misericórdia e na paciência de Deus, no sofrimento, aceito (ser Papa)”.
Estava aberto o caminho para a redenção do passado. Confiando na misericórdia de Deus – palavras do Pontífice – os pecados podem receber o perdão de Deus, mas têm de ser expiados.
O Papa Francisco protagonizou um ato que jamais se vira na história da Igreja Católica: rezou sozinho na Praça São Pedro, no Vaticano. O líder máximo do Catolicismo deu a bênção e a indulgência plenária ao mundo. Atendendo ao apelo da Organização Mundial da Saúde (OMS) que determina o isolamento como o único meio de frear a pandemia do coronavírus (COVID-19).  Um idoso, caminhando com passos trôpegos atravessou uma praça conhecida por reunir multidões ávidas de ouvir a voz do Pastor. Desta vez, mesmo sozinho, estava sim, cercado por milhões de fiéis que acompanhavam as imagens mundo afora. Que exemplo para tantos que minimizam a “peste”, menosprezam seus efeitos, periculosidade e com seu mau exemplo prejudicam todo o esforço das autoridades sanitárias que, à falta de vacinas e quaisquer medicamentos que sejam cientificamente comprovados eficazes dizem em alto e bom som: “resguardem-se no recesso dos lares, não se deixem contaminar e, também, não sejam vetores da propagação da doença, da morte de concidadãos”. Sim, todos os que irresponsavelmente circulam – sem que isso seja necessário – demonstram ser pouco patrióticos e sua falta de senso comum beira a insanidade.
No anverso da moeda, enfrentando a tenebrosa Parca - nem Zeus, o Senhor dos Céus e Deus Supremo da Mitologia Grega tinha poder para contestar suas decisões - heroicos e destemidos humanos permitem que a quarentena seja mantida e a vida continue num ritmo de quase normalidade. Profissionais da saúde, comércio de bens essenciais – inclusive e principalmente medicamentos – transporte, segurança, etc., merecem nossa gratidão. Eles dão “a cara para bater” a fim de que possamos sobreviver.


Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

Nenhum comentário:

Postar um comentário