sexta-feira, 17 de abril de 2020

DEPOIS DE TUDO





PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

DEPOIS DE TUDO – 17/04/2020
Nos oceanos de muitos mundos as moléculas eram destruídas pela luz e remontadas pela química. Um dia, fruto dessas experiências naturais, surgiu por acaso uma molécula que era capaz de uma reprodução grosseira de si mesma.
O MOMENTO CULMINANTE NA HISTÓRIA DO UNIVERSO, A VIDA ENSAIAVA SEUS PRIMEIROS PASSOS.
Com o passar do tempo essa replicação se tornou mais precisa. As moléculas que replicavam melhor produziam mais cópias, a seleção natural estava em curso, máquinas moleculares elaboradas estavam se desenvolvendo. Lenta e imperceptivelmente a vida evoluía.
Coletores de moléculas orgânicas evoluíram para organismos unicelulares, estes produziram colônias multicelulares e suas várias partes se tornaram órgãos especializados. Algumas colônias prenderam-se ao fundo do mar, outras nadaram livremente. Desenvolveram-se olhos e agora podem ver. Seres vivos saíram do meio líquido para colonizar a terra.  Os répteis dominaram por um tempo, cederam lugar para pequenas criaturas de sangue quente com cérebros maiores, que desenvolveram a destreza e a curiosidade sobre o seu meio ambiente. Elas aprenderam a usar ferramentas, o fogo e a linguagem. A matéria estelar tinha chegado à consciência, o homo sapiens assumiu o planeta e se prepara para explorar o Universo.

Aquele ser frágil, indefeso, sem garras, sem presas, sem couraça protetora parecia destinado à extinção, mas... possuía cérebro – a mais impactante maravilha do Universo – e virou o jogo. Elucubrava ante os obstáculos e descobria como contorna-los; sua curiosidade impelia para investigar as causas, os efeitos e encontrava soluções. A insatisfação não aceitava derrotas e, cedo ou tarde, HEUREKA! Cortava o Nó Górdio se não pudesse desatá-lo.                                                                Júlio Verne muitos séculos depois afirmou: “Tudo o que um homem pode imaginar outro homem realizará”.
O homo sapiens inventou a roda e a locomoção se tornou possível com menor esforço. O remo, a vela, a máquina a vapor (James Fulton), motores de combustão interna, nucleares... continuamos procurando sempre o mais e o melhor. Irmãos Wright-Santos Dumont nos deram asas. Frank Whittle, inventor inglês e oficial da Força Aérea Real, desenvolveu o conceito do motor a jato em 1928, enquanto Hans von Ohain, da Alemanha, desenvolveu o conceito de forma independente no início dos anos 1930.                                                                                                                                         O pouso na Lua em 1969 não teria sido possível sem Werner von Braun, para realizar seu sonho de alcançar o espaço e pousar na Lua se valeu dos princípios usados para criar o foguete V2, durante a II Guerra Mundial.
AGORA O CÉU É O LIMITE.
AGORA NADA PODE NOS DETER.
SERÁ?

O organismo frágil é o “calcanhar de Aquiles”, ponto fraco de quem se arvora onipotente. Defrontou-se desde sempre com adversários minúsculos, os vírus, e a batalha não admite tréguas.

Vencido o primeiro obstáculo, Louis Pasteur descobriu o soro antirrábico e subsequentemente a vacina. São diferentes. A vacina de cultivo celular que gradativamente vem sendo implantada na rotina da prevenção da raiva humana imuniza preventivamente. O soro contra raiva ou soro antirrábico contém imunoglobulinas específicas extraídas do plasma de cavalos hiperimunizados com a vacina contra raiva e tem efeito mesmo após o contágio.  Descoberta a técnica de obtenção, surgem outros em sequência.                                                                                            O coronavírus – COVID-19 – está nos infligindo derrotas em toda a parte onde aparece e ainda não sabemos como evita-lo com vacinas nem como derrota-lo com medicamentos. Mas, lembrando Júlio Verne, encontraremos o antídoto e mais uma vez sobreviveremos.

Se o combate aos vírus se manifesta difícil, porém viável, uma ameaça mais perturbadora, a proteína príon infecciosa descoberta no início da década de 1960 por Stanley Prusiner juntamente com outros pesquisadores, causa as Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis para as quais não existe, até o momento, terapêutica eficaz.

A primeira molécula replicante referida no início da coluna ainda não era um ser vivo, antes de atingir este estágio evoluiu para uma proteína, o príon, menor que um vírus. Príons são encontrados nas células nervosas de todos os mamíferos, têm o poder de reprodução apesar de não terem vida. Já os príons alterados, patogênicos, são encontrados em cérebros contaminados pela Encefalopatia Espongiforme Transmissível (EET), a Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) é uma doença neurodegenerativa caracterizada por provocar uma desordem cerebral, com perda de memória e tremores. A doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) é um tipo de Encefalopatia Espongiforme Transmissível (EET) que acomete os humanos. As EET são chamadas assim por causa do seu poder de transmissibilidade e suas características neuropatológicas que provocam alterações espongiformes no cérebro das pessoas (aspectos esponjosos).
Apesar de que várias propostas terapêuticas terem sido estudadas, nenhuma até o momento foi efetiva para alterar a evolução fatal da doença.  
A doença da vaca louca (Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) pode ser transmitida para humanos, conhecida cientificamente como doença de Creutzfeldt-Jakob, pode se desenvolver de três formas diferentes: a forma esporádica, que é a mais comum e de causa desconhecida, a hereditária, que ocorre devido à mutação de um gene, e a adquirida, que pode resultar do contato ou ingestão de carne de vaca contaminada ou de transplantes de tecidos contaminados.
Esta doença não tem cura, pois é causada por príons patogênicos, proteínas anormais que se instalam no cérebro e levam ao desenvolvimento gradual de lesões definitivas, provocando sintomas comuns à demência que incluem dificuldade para pensar ou falar, por exemplo.
Um detalhe preocupante é o fato de a doença poder ter causa iatrogênica,  como consequência de procedimentos cirúrgicos (transplantes de dura-máter e córnea) ou por meio do uso de instrumentos ou eletrodos intracerebrais contaminados e que não podem ser esterilizados por autoclave, os príons são resistentes ao calor.
CONFIEMOS NO NOSSO CÉREBRO, VENCEREMOS MAIS ESTA AMEAÇA.                                                                  
   
                                      
Príon patogênico é um agente infeccioso composto por proteínas com forma aberrante. Tais agentes não possuem ácidos nucleicos (DNA e/ou RNA) ao contrário dos demais agentes infecciosos conhecidos (vírus, bactérias, fungos e parasitas).
P.S.: A coluna já estava produzida quando Nelson Luiz Sperle Teich foi nomeado Ministro da Saúde, substituindo Luiz Henrique Mandetta. Tragédia? Devagar com o andor que o santo é de barro. O discurso do novo titular não aponta para um “cavalo-de-pau” na rota. Com toda a diplomacia que o momento exige, sinalizou que a quarentena será aliviada. Só não especificou a velocidade nem a rota a ser seguida. Esperamos que a tecnicidade e o bom senso preponderem. O futuro do Brasil e, consequentemente o nosso, dependem intrinsecamente do acerto nas decisões a serem tomadas a curto, médio e longo prazo.
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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