sexta-feira, 6 de março de 2020

RIDENDO CASTIGAT MORES






PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

RIDENDO CASTIGAT MORES

A espécie humana se distingue dos outros seres vivos por uma série de características que ao longo do tempo vão se adaptando à evolução técnica, mas principalmente ética e moral.
A comunicação mais sofisticada que desenvolvemos nos remete incontinenti a interações e estas desembocaram na arte cênica. Religiões usam esse filão bem como a política, chegamos ao teatro e derivados. Desde os gregos, as tragédias, exteriorização da vida social e, numa posição proeminente, a comédia. A sátira persegue os políticos desde os tempos antigos.
Cícero (Marcus Tullius Cicero, 106 a.C. – 43 a.C.), filósofo, orador, escritor, advogado, político romano, considerado uma das mentes mais brilhantes e versáteis das Roma antiga talvez tenha sido o criador de “Ridendo castigat mores” (com o riso se castigam os costumes).
Gil Vicente (1465-1537), tido como o pai do teatro português, além dos textos mais convencionais também utilizou a sátira para vergastar as autoridades da época.
Na atualidade com o boom das comunicações os políticos têm pesadelos quando seus atos são esmiuçados por chargistas e cômicos.  A ironia se transforma num algoz das atitudes aceitas com relutância pela população.
Leandro Karnal, historiador, professor universitário e conferencista renomado nos proporciona uma página que utiliza com maestria a sátira. Transcrevo-a.
KIT, EXTINTORES, ETC.
Eu vou fazer uma suposição totalmente aleatória, sem nenhuma vontade de aplicá-la na prática.
“Vamos imaginar um país no século XVI onde haja uma lei exótica: Sua Majestade, chamemos de Rei Henry, determinou que todas as carruagens tivessem um kit de primeiros socorros. Vamos imaginar uma história absurda e totalmente sem base. Todos que possuem carruagens se esforçam para comprar um kit de primeiros socorros e logo após todos terem comprado, Sua Majestade Henry anuncia que não é mais necessário. É justo e lícito que essas pessoas cometam regicídio ou reflitam: será que este rei tem interesse na produção de kits de primeiros socorros? Será que este rei têm ações, um irmão dele é dono da fábrica? Que coisa mais ridícula obrigar uma nação inteira comprar um kit e logo dispensá-la pelo motivo óbvio de que eu não saberia fazer nada com um kit de primeiros socorros diante de alguém atropelado por um cavalo e sofresse uma fratura exposta. Eu posso passar a mão na cabeça, rezar junto. Eu não tenho nenhum conhecimento médico, provavelmente eu pioraria o estado da vítima e não ajudaria.                                                                                        Uma ideia absurda e derrubada, Sua Majestade voltou atrás. Sua Majestade decide então que é seguro em caso de incêndio das carruagens, um extintor. Como ainda não há extintores, um balde de água em todas as carruagens. Todas as carruagens devem ter um balde de dez litros para caso de incêndio. Sua Majestade obriga o país inteiro e toda a frota de carruagens a comprar esse balde e assim que todos compram, Sua Majestade diz que o correto é que o balde seja de quinze litros, um modelo mais avançado e toda nação compra porque é obrigatório. Terminada a compra, alguns multados pela posse do balde errado, Sua Majestade comunica feliz que a posse do balde agora é facultativa.                                    Eu recomendaria para esse povo, guardem o balde porque a qualquer instante... governo é como herpes, sempre volta”.
O que dá pra rir dá pra chorar.
Questão só de peso e medida.
Problema de hora e lugar,
Mas tudo são coisas da vida.
Canto chorado – Jair Rodrigues



Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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