06
– CIÊNCIA E CULTURA
Marília Gerhardt de Oliveira
DO
BRASIL À RÚSSIA – REFLEXÕES
Desde muito jovem, um alerta do meu pai,
Cirurgião-dentista Jayme José de Oliveira, ecoa em minha mente: “se quiseres
verdadeiramente muita segurança, terás que ser privada de parte da tua
liberdade”. Explico!
Não deixar de ser livre, mas sim aceitar haver regras impostas a
cumprir, acima de individualidades, priorizando o respeito ao bem-estar da
maioria dos cidadãos.
Exemplos recentes são as reações da polícia britânica
aos ataques com facas nas ruas de Londres. As forças de segurança, bem
treinadas e equipadas, acorrem com presteza aos locais dos crimes e executam
sumariamente os terroristas em ação delituosa contra vida de cidadãos e
turistas.
Nada a ver com os elogios descabidos e eticamente
injustificáveis de alguns governantes a psicopatas que utilizaram tortura como
método de violação a adversários ideológicos de qualquer natureza.
Mas como se entende SEGURANÇA – do Brasil à Rússia?
Há três anos viajei pela Dinamarca, Noruega, Suécia e
Finlândia, exemplos de bem sucedida política social-democrática em benefício da
qualidade de vida no mundo de hoje.
No interior da Noruega, entre Oslo e Bergen,
encontrei, na margem de estradas vicinais, abrigos de madeira para venda de
frutas colhidas nos pomares vizinhos. Era só parar, desembarcar do veículo,
escolher as frutas e pagá-las, pois havia preço e uma caixinha com dinheiro e
moedas para o troco. Lembrei do
interior de Estrela (RS), na minha infância, com o leite ordenhado pelos meus
avós maternos, nas madrugadas, podendo ser coletado e pago com segurança e
confiança, inclusive na qualidade do produto in natura fornecido.
Em tempo: no interior da Noruega, visualizei, ao longo
do caminho, veículos abordados por policiais locais que, portando radares
móveis e posicionados em lugares estratégicos e surpreendentes, controlavam com
rigor o cumprimento de velocidade e leis de trânsito.
Já na Finlândia, desde Helsinque, viajei de trem até
São Petersburgo, cruzando a fronteira seca com a Rússia. A partir desta fronteira, passa-se a perceber
com muita clareza o que significa segurança para o povo e o governo russos:
pessoal atento a cada detalhe, método e disciplina, regras a serem cumpridas
(prévia e detalhadamente esclarecidas).
São Petersburgo (no verão) é um lugar magnífico, com
sua história, arquitetura, igrejas e museus (onde se destaca o Hermitage).
De lá, também de trem, fui a Moscou, cidade totalmente
diversa, com seu povo aparentemente distante e silencioso.
Imponente o Metrô moscovita, onde cada estação é uma obra
e arte, além de ser bem arejado, limpo, seguro e funcional, transportando
milhões de pessoas com qualidade.
Imperdível uma visita guiada ao Kremlin e observar a
cidade do alto, desde a área do Campus da Universidade.
À noite, um episódio me fez compreender definitivamente
o alerta do meu pai.
Sendo Moscou uma cidade de largas avenidas, com amplas
passagens subterrâneas para pedestres (que devem obrigatoriamente utilizá-las
para atravessar de uma calçada a outra) e querendo ir a um restaurante próximo para
jantar, preocupada com minha segurança, solicitei informações sobre este necessário
modo de deslocamento ao funcionário da Portaria do Hotel.
Inesquecível o seu olhar de estupefação! O que
escancarou, na prática, o abismo cultural entre Brasil e Rússia no que se
refere ao item SEGURANÇA.
Marília
Gerhardt de Oliveira
gerhardtoliveira@gmail.com
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