IMORTALIDADE III – Henrietta Lacks, a mulher imortal – 20/11/2.015
“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
IMORTALIDADE III
ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE XVIII
HENRIETTA LACKS, A MULHER IMORTAL - 1
Na coluna anterior abordamos a função dos telômeros na divisão celular e
como a telomerase permite que essas divisões sejam multiplicadas ao impedirem a
degeneração dos telômeros. Imprescindíveis no processo, é importante considerar
que apenas nas células reprodutoras, células-tronco e células cancerosas é
reativada espontaneamente a telomerase. Por que as células de Henrietta Lacks,
falecida há 64 anos continuam vivas e se reproduzindo? O que pode significar
para a ciência esse fenômeno intrigante?
Você já parou para pensar como se faz
pesquisa? Por exemplo, se queremos saber o que acontece nas nossas células
quando um vírus a infecta, quando não temos um determinado gene ou quando
entramos em contato com determinado remédio.
O primeiro passo é ter as células para testar,
certo? Pois bem...mas que células? As do nosso corpo ou do corpo de algum
animal? Nenhum dos dois! Pelo menos não no início das pesquisas!
Para se testar de maneira segura esses tipos de
interferentes à vida normal da célula, cultivamos determinados tipos celulares
em placas de cultura, que fornecem todos os nutrientes e ambiente necessário
para o seu desenvolvimento.
Porém, há um grande problema no cultivo de alguns
tipos de células. Por exemplo, uma célula normal da pele tem um curto tempo de
vida e não se multiplica fora do corpo, em laboratório. Por este motivo,
os testes teriam que dar resultados muito rápidos para serem vistos, antes que
a cultura de células morresse.
Este problema foi solucionado a partir
da história de Henrietta Lacks.
Henrietta Lacks nasceu em 1920 e morreu de câncer do colo uterino em 1951. Henrietta Lacks foi a doadora involuntária de uma cultura de
células cancerosas, mais conhecidas como HeLa, muito utilizada em pesquisas médicas.
As células HeLa foram cultivadas quando
a senhora Lacks recebia tratamento para um câncer do colo uterino no Johns
Hopkins Hospital. Seu câncer produzia metástases (novos tumores em locais
distantes do foco original) anormalmente rápidas, mais que qualquer outro tipo
de câncer conhecido pelos médicos.
Após seu óbito, suas células continuaram sendo
cultivadas para estudo de sua impressionante longevidade, sendo distribuídas
por vários laboratórios em todo o mundo. Jonas Salk as utilizou para produzir
uma vacina contra a poliomielite.
Foram enviadas ao espaço para
experiências sob gravidade zero. Desde sua morte, suas células foram
continuamente usadas em experimentos e pesquisas contra o câncer, AIDS, efeitos
da radiação, mapeamento genético e muito mais.
Calcula-se que a quantidade de células
existentes nos laboratórios de todo o mundo supere o número de células da
senhora Lacks em vida.
As células HeLa são chamadas de
imortais por se dividirem num número ilimitado de vezes, desde que mantidas em
condições ideais de laboratório. Atribui-se isso ao fato dessas células terem
uma versão ativa da enzima TELOMERASE, implicada no processo de reprodução das
células e no número de vezes que uma célula pode se dividir.
Elas são cultivadas até hoje em
laboratórios ao redor do mundo, em frascos de plástico, em um meio contendo
soro bovino. Milhares de trabalhos científicos foram realizados com essas
células e, certamente, continuarão sendo utilizadas por um tempo que não
podemos calcular. De certa maneira, podemos manter esperanças de que os estudos
paralelos que se realizam no esforço de explicar a extraordinária capacidade de
replicação que possuem nos levem a descobrir a maneira de prolongar de maneira
substancial o tempo de vida de nossos descendentes.
A história de Henrietta Lacks e como
suas células foram recolhidas, multiplicadas e preservadas será desenvolvida na
próxima coluna. Como não houve autorização da paciente nem de seus familiares e
dos milhões de dólares advindos nem um centavo foi destinado à família, um
dilema ético até hoje não resolvido perdura.
Os links são em inglês
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
Cirurgião-dentista aposentado
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