“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL – 1
“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e
soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito uma alma vivente”.
(Gênesis 2:7)
Criada a vida, é imemorial a procura de uma maneira de
prolonga-la. Matusalém foi o primeiro, um personagem bíblico do Antigo
Testamento, afirma-se que teve a maior longevidade: 969 anos. Ponce de Leon, na
segunda viagem de Colombo à América procurou a “Fonte da Juventude”, quem
bebesse de sua água viveria eternamente.
Em 2009, Elizabeth Blackburn, Carol Greider e Jacob W.
Szostak receberam o Prêmio Nobel de Medicina por terem descoberto o mecanismo
central do funcionamento genético das células que abriu o caminho para novas
linhas de pesquisa, inclusive para o tratamento do câncer e retardar o
envelhecimento das células. A fonte da juventude saindo das lendas e penetrando
no mundo real. Para termo de comparação, representa a diferença existente no
uso de um mimeógrafo (20-30 cópias legíveis) e do XEROX (número ilimitado de
cópias idênticas). Os TELÔMEROS , regenerados por uma enzima, a TELOMERASE, permitirão a reprodução – teoricamente infinita - das células. A “Fonte da Juventude” de Ponce
de Leon na fímbria do horizonte. Como todas as descobertas, seu potencial de
uso não se pode prever, nem o tempo para se consumar. “Até uma jornada de mil
milhas começa com um pequeno passo” (provérbio japonês).
Passados séculos de expetativa, com o avanço da
tecnologia, estamos no limiar de concretizar o sonho. Com a manipulação dos
genes exercendo o domínio dos TELÔMEROS podemos, inicialmente, duplicar o
período da vida (isso nas próximas décadas) e, teoricamente, realizar o sonho
de Ponce de Leon, a imortalidade. Desafios? Inúmeros. O Alzheimer terá de ser
afastado da cena, de nada valerá uma vida estendida sem dominância cerebral. As
religiões e a moral vigente se opõem, intransigentemente, ao controle da
natalidade. Casais idem, ter filhos é um dos anseios mais arraigados. Isso no
sentido mais imediato, possível de contornar – demandará um tempo impossível de
precisar – e criar uma maneira totalmente nova de encarar a vida e seu decurso.
Entraves jurídicos, como compatibilizar a aposentadoria com vida prolongada? De
onde provirão os recursos para sustenta-la, considerando as dificuldades
logísticas e políticas em prolongar – e quanto – o período laboral? Emigração para outros planetas, uma solução
ideal, porém, para um futuro remoto. Remotíssimo.
Os cérebros mais brilhantes, criativos, desbravadores
do mundo, incluindo Isaac Asimov, Stephen Hawking, Bill Gates, Steve Jobs e
muitos outros “queimaram as pestanas” para abrir caminho no labirinto, mais
intrincado que o de Creta (onde Teseu venceu o Minotauro e conseguiu sair
seguindo o “fio de Ariadne” que desenrolara no trajeto de ida). O problema é que
não temos um “fio de Ariadne” para nos servir de guia, o processo será um
desafio a ser deslindado durante o avanço, passo a passo, sem visão além do
horizonte.
Filmes de ficção científica enveredaram por um atalho
no qual robôs, ao lhes ser inserida a Inteligência Artificial (IA), dominam o
planeta Terra e relegam os humanos a um papel secundário, em declínio
progressivo até a extinção. O homo sapiens substituído pelo homo robótico.
Entre as alegações para buscarmos a eternidade, viagens interestelares exigem
um período de vida incompatível com a nossa espécie. Cientistas escritores,
como Isaac Asimov, Carl Sagan e outros, discordam frontalmente e apontam
diversas saídas, instalar nos robôs inteligentes um freio que os impeça,
estruturalmente, de provocar o epílogo catastrófico para os humanos, seus
criadores. Exemplifico com as regras da robótica, criada por Asimov, escritor e
bioquímico que escreveu mais de 500 obras em sua vida e, na área da robótica,
acertou na maioria das previsões a respeito das tecnologias que dispomos hoje.
São dele as “leis da robótica” que poderão evitar o catastrofismo dos
pessimistas. . Na construção dos robôs seriam implantadas as leis
reguladoras: 1. Um robô não pode ferir um ser
humano ou, por inação, permitir que um ser humano seja ferido. 2.
Um robô deve obedecer ordens dadas por seres humanos, exceto nos casos em que
tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.
3. Um robô deve proteger a sua própria existência, desde que tal
proteção não entre em conflito com a Primeira ou com a Segunda Lei. Algum
tempo depois Asimov criou uma Quarta Lei, a qual diz: “Um robô não pode fazer mal à
humanidade e nem, por inação, permitir que ela sofra algum mal”.
O conhecimento em si não é perigoso, o mau uso dele,
sim, pode ser catastrófico. Do aço podemos forjar um bisturi que salva vidas ou
um punhal que assassina, depende por quem e como sejam utilizados.
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário