sexta-feira, 8 de setembro de 2017

ACIDENTE DE TCHÉRNOBI



Coluna publicada em "www.litoralmania.com.br" em 08/08/2017

http://www.litoralmania.com.br/acidente-de-tchernobil-jayme-jose-de-oliveira/

PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.


ACIDENTE DE TCHERNÓBIL



Os impactos do acidente em Tchernóbil ainda preocupam autoridades e ambientalistas.
No ano de 1986, os operadores da usina nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, realizaram um experimento com o reator 4. A intenção inicial era observar o comportamento do reator nuclear quando utilizado com baixos níveis de energia. Contudo, para que o teste fosse possível, os responsáveis pela unidade teriam que quebrar o cumprimento de uma série de regras de segurança indispensáveis. Foi nesse momento que uma enorme tragédia nuclear se desenhou no Leste Europeu.
Entre outros erros, os funcionários envolvidos no episódio interromperam a circulação do sistema hidráulico que controlava as temperaturas do reator. Com isso, mesmo operando com uma capacidade inferior, o reator entrou em um processo de superaquecimento incapaz de ser revertido. Em poucos instantes a formação de uma imensa bola de fogo anunciava a explosão do reator rico em Urânio-235, elemento químico de grande poder radioativo.                                                                                                                                                O que de fato aconteceu? “Não se encontravam palavras para os novos sentimentos e não se encontravam sentimentos para as novas palavras”. (SveItlana Aleksiévitch, autora de “VOZES DE TCHERNÓBIL”, Prêmio Nobel de Literatura – 2015)                                                                                                                             Transcrevo alguns trechos do livro premiado:
“O átomo militar era Hiroshima e Nagasaki, o átomo da paz era o da lâmpada elétrica acesa em cada casa”.                                                                                                                                  Ninguém imaginava que ambos os átomos fossem gêmeos. Tchernóbil não envenenou só a água e a terra. Os gatos não comiam os ratos mortos que se amontoavam, de certo modo, intuíam o perigo. A morte se escondia por toda a parte, mas era um tipo diferente de morte, com uma nova máscara. Com aspecto falso. A radiação não se vê, não tem odor nem sabor. É incorpórea. Passamos a vida inteira nos preparando para a guerra, tão bem conhecida, e, de súbito, isso! A imagem do inimigo se transformou.  Surgiu diante de nós outro inimigo... A relva ceifada, o peixe pescado, a caça aprisionada, as maçãs... O mundo à nossa volta, antes amistoso, agora infunde pavor. As pessoas olham para o céu e dizem: “O sol está brilhante, não se vê fumaça nem gás. Como isso pode ser uma guerra? Soldados em formação ao redor da zona, com armas novinhas em folha. Em quem poderiam atirar ali? De quem se defender? Da física? Das partículas invisíveis? Metralhar a terra contaminada ou as árvores?                                                                                               Agora em vez das frases habituais de consolo, o médico diz à esposa do marido moribundo: “Não se aproxime! Você não deve beijá-lo! Não deve acaricia-lo! Ele já não é a pessoa amada mas um elemento que deve ser desativado. Uma de minhas heroínas (grávida naquele  momento) nunca deixou de se aproximar do marido e beijá-lo, não o abandonou até a morte. Por essa ousadia ela pagou com a saúde e com a vida da filha ainda não nascida”.                                                                                                                    Antes de tudo, em Tchernóbil se recorda a “vida depois de tudo”: objetos sem o homem, paisagem sem o homem. Estradas para lugar nenhum. Você se pergunta: o que é isso, passado ou futuro?                                                                                                                                                  Eu vi como o homem pré-Tchernóbil se converteu no homem de Tchernóbil.                                                                                                        “ALGUMAS VEZES, PARECE QUE ESTOU ESCREVENDO O FUTURO”...
Comentário do colunista:                                                                                                                                            Mais uma vez, o maior inimigo do homem é o menor. Um vírus, só visível no microscópio eletrônico é mais mortal que uma fera; um átomo radioativo, mais que um exército. Mata mais, com mais eficiência, crueldade. Durante centenas... milhares de anos.
Agora, que tivemos um débil vislumbre da catástrofe de Tchernóbil, lembremos também Three Mile Island e Fukushima Daiichi:
DESASTRE NUCLEAR EM THREE MILE ISLAND

Three Mile Island é uma usina localizada na Pensilvânia, nos Estados Unidos. Em 28 de março de 1979, a unidade passou por um grave acidente nuclear.
Na ocasião, gases radioativos começaram a evaporar num dos dois reatores da usina próxima à cidade de Harrisburg, capital do estado norte-americano da Pensilvânia.
O acidente contaminou uma área de aproximadamente 16 quilômetros em volta de Three Mile Island, e, ainda assim, nenhum dos 15 mil habitantes que moravam próximo à área foi evacuado. Apenas dois dias depois do acidente, o então governador do estado da Pensilvânia, Dick Thornburgh, iniciou a retirada dos habitantes, começando por gestantes e crianças.
Depois de dias de preocupação, os elementos combustíveis resfriaram e o perigo de explosão na usina foi afastado.
No dia 1º de novembro de 1979, uma comissão nomeada pelo então presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, chegou à conclusão de que o acidente havia sido causado por falha humana.

O ACIDENTE NUCLEAR NA CENTRAL DE FUKUSHIMA DAIICHI

No dia 11 de março de 2011 o Nordeste do Japão foi atingido por um terremoto de 9 graus na escala Richter. O epicentro foi bem próximo ao litoral e a poucos quilômetros abaixo da crosta terrestre. Foi o maior terremoto de que se tem registro histórico a atingir uma área densamente povoada e com alto desenvolvimento industrial. Mesmo para um país de alto risco sísmico e cuja cultura e tecnologia se adaptaram para tornar esse risco aceitável, tal evento, numa escala de probabilidade de 1 em cada 1.000 anos superou toda capacidade de resposta desenvolvida ao longo de séculos pelo Japão.                                                                                                                              A maior parte das construções e todas as instalações industriais com riscos de explosões e liberação de produtos tóxicos ao meio ambiente, tais como refinarias de óleo, depósitos de combustíveis, usinas termoelétricas e indústrias químicas, localizadas na região atingida colapsaram imediatamente causando milhares de mortes e dano ambiental ainda não totalmente quantificado. Mas as 14 usinas nucleares das três centrais da região afetada resistiram às titânicas forças liberadas pela Natureza. Todas desligaram automaticamente e se colocaram em modo seguro de resfriamento com diesel-geradores após ter sido perdida toda a alimentação elétrica externa.                                                                                                                A onda gigante (tsunami) que se seguiu ao evento inviabilizou todo o sistema diesel de emergência destinado à refrigeração de 4 reatores da Central Fukushima-Daiichi e os levou ao status de grave acidente nuclear, com perda total dos 4 reatores envolvidos devido ao derretimento dos seus núcleos e com liberação de radioatividade para o meio ambiente após explosões de hidrogênio, porém sem vítimas devido ao acidente nuclear.                                                                                                                                             A necessidade de remoção das populações próximas à área da central se tornou imperiosa e todo o plano de emergência nuclear foi mobilizado num momento em que o país estava devastado. Porém, no fim de 2011, as restrições de acesso a 5 áreas evacuadas num raio entre 10 km e 20 Km foram canceladas, com a população autorizada a retornar a suas residências.
As irradiações emanadas por centrais nucleares acidentadas têm efeitos teratogênicos (causam deformações transmissíveis aos descendentes) e podem ser observados em seres vivos, quaisquer que sejam. Nos animais, inclusive o homem, são mortais, dependendo do nível da exposição absorvida.             A contaminação por raios gama verificada nos escombros da usina nuclear de Fukushima quase um ano e meio depois do devastador terremoto no nordeste do Japão hoje preocupa mais as autoridades locais do que a radioatividade do césio ainda emitida pelo complexo atômico. A avaliação faz parte de um relatório sobre a situação apresentado hoje à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em Viena.
 


                                                                                                                            Jayme José de Oliveira

cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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