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“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
A VIDA
III – TRANSGÊNICOS
ASSIM
CAMINHA A HUMANIDADE - XIV
Recorro, mais
uma vez à metáfora.
Cinegrafistas
deslocam-se à procura de flagrantes a serem documentados e os enviam à central
de edição. Com vários à disposição o editor seleciona os que serão exibidos no
noticiário da TV. De cada um recolhe o trecho a ser exibido, junta aos demais e
os edita de maneira a formarem um conjunto harmônico, coerente. Assistimos
diariamente o resultado deste garimpo e consideramo-lo um avanço em relação aos
tempos em que recebíamos as imagens sem prévio ajuste dos componentes,
aleatórios e dissociados.
Geneticistas
pesquisam genomas e estudam genes dotados de propriedades específicas. Um, dois
ou mais são selecionados. Examinam um ser vivo, analisam seus potenciais e
deficiências. Com enzimas editam um novo genoma agregando genes, o aperfeiçoam
e removem os desnecessários ou deficientes. Surge um novo organismo libertado
de suas deficiências e potencializado pelos acréscimos. Um transgênico. Melhor,
mais útil e aprimorado.
O geneticista
James Watson, um dos descobridores da estrutura de dupla hélice do DNA,
localizou os genes responsáveis por três doenças importantes: fibrose cística,
distrofia muscular de Duchenne e
Doença de
Huntington. Foi encarregado de encabeçar um consórcio integrado por centros de
pesquisas norte-americanos, franceses, alemães e japoneses – chineses vieram
mais tarde – com a tarefa hercúlea de sequenciar todos os três bilhões de pares
de bases que constituem o genoma humano.
Através de
pesquisas genéticas e exames já é possível detectar se um ser humano tem predisposição
para sofrer certas doenças ou se um embrião herdou doenças graves. Em breve,
quando forem descobertas as funções de todos os genes humanos, outros
benefícios virão. Deletar genes defeituosos ou substituí-los por saudáveis,
ainda no embrião e com isso evitar que a doença se instale, é considerada uma
tarefa exequível em futuro próximo. Dessa maneira a transgenia nos proporciona
a formação de um ser diferente dos ancestrais usando genes que podem ser
inclusive de diferentes espécies. Preservam-se as características fundamentais,
agregando genes que acrescerão características favoráveis, podendo deletar
genes indesejados. O arroz dourado que apresentaremos a seguir é apenas um
exemplo de como podemos nos beneficiar das experiências que aperfeiçoam a
natureza.
“Cada resposta que obtemos
nos sugere dez novas questões, mas, o que nunca vai acabar é a procura do homem
pelo conhecimento”. (Jayme. J. de Oliveira)
ARROZ DOURADO PROVOCA
DEBATES
AMY HARMON DO "NEW YORK TIMES":
Numa
ensolarada manhã de agosto, 400 manifestantes derrubaram as cercas em torno de
uma lavoura na região filipina de Bicol e, uma vez lá dentro, arrancaram do
chão pés de arroz geneticamente modificados.
Se as plantas
tivessem sobrevivido o suficiente para amadurecer, teriam revelado um tom
distintamente amarelo na parte do grão que deveria ser branca. Isso porque o
arroz possui dois genes do narciso, uma flor, e outro de uma bactéria, fazendo
dessa a única variedade existente a produzir betacaroteno, fonte de vitamina A.
Seus desenvolvedores o chamam de "arroz dourado".
O arroz
dourado foi geneticamente modificado para produzir betacaroteno, fonte de
vitamina A, porém há quem tema e se oponha ao seu cultivo. As preocupações
manifestadas pelos participantes no ato de 8 de agosto - que o arroz representa
riscos imprevisíveis para a saúde humana e o ambiente e que ele afinal servirá
para dar lucro a grandes companhias agroquímica - são comuns quando se discute
os méritos dos produtos agrícolas geneticamente modificados.
São essas
preocupações que motivaram alguns americanos a reivindicar rótulos obrigatórios
com a sigla "OGM" [organismo geneticamente modificado] para
identificar alimentos que tenham ingredientes feitos a partir de produtos
agrícolas cujos DNAs tenham sido alterados em laboratório.
São elas também que resultaram em protestos
semelhantes a outros produtos transgênicos nos últimos anos: uvas concebidas para
lutar contra um vírus letal na França, trigo criado para ter um menor índice
glicêmico na Austrália, e beterrabas açucareiras preparadas para tolerar um
herbicida no Oregon, EUA.
"Não
queremos que nossa gente, especialmente nossas crianças, sejam usadas nessas
experiências", disse ao jornal filipino "Remate" um agricultor
que esteve entre os líderes do protesto. Mas os defensores do arroz dourado dizem
que ele é diferente de qualquer dos produtos agrícolas transgênicos amplamente
usados hoje, que são feitos para resistir a herbicidas ou a ataques de insetos,
com benefícios para os produtores rurais, mas não diretamente para os
consumidores.
Uma iminente
decisão do governo filipino sobre permitir ou não o cultivo do arroz dourado
fora dos quatro campos de teste remanescentes confere uma nova dimensão ao
debate sobre os méritos dessa tecnologia.
O arroz dourado não pertence a nenhuma companhia
específica. Ele está sendo desenvolvido por uma organização sem fins lucrativos
chamada Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz, com o objetivo de
oferecer uma nova fonte de vitamina A para pessoas que tem no arroz sua principal
fonte de calorias em muitos lugares de um mundo onde metade da população come
arroz diariamente.
A falta da
vitamina A, nutriente vital, causa cegueira em 250 mil a 500 mil crianças por
ano. Ela afeta milhões de pessoas na Ásia e na África e enfraquece tanto o
sistema imunológico que 2 milhões morrem por ano de doenças que, em outras
circunstâncias, não seriam fatais.
A destruição
de uma lavoura experimental e as razões apresentadas para isso incomodaram
cientistas no mundo todo, motivando-os a reagir às alegações acerca dos riscos
sanitários e ambientais dessa tecnologia.
Numa petição
em prol do arroz dourado que circulou entre os cientistas e foi assinada por
milhares deles, muitos manifestaram sua frustração com organizações ativistas
como o Greenpeace que, segundo eles, aproveitam-se dos temores equivocados
despertados pela engenharia genética.
O que está em
jogo, afirmam eles, não é só o futuro do arroz biofortificado, mas também os
meios racionais para avaliar uma tecnologia cujo potencial para melhorar a
nutrição poderá de outra forma ficar por realizar.
"Paira por aí muita desinformação a respeito
dos OGMs que é tomada como fato pelas pessoas", disse Michael Purugganan,
professor de genômica e biologia e pró-reitor de ciências da Universidade de
Nova York. "Os genes que eles inseriram para fazer a vitamina não são
nenhum material manufaturado esquisito, mas sim genes encontrados também em
abóboras, cenouras e melões", escreveu ele em uma cartilha publicada pelo
GMA News Online, veículo noticioso filipino. "Muitas das críticas aos OGMs
no mundo ocidental padecem da falta de compreensão sobre como a situação é
realmente difícil nos países em desenvolvimento."
Nina
Fedoroff, professora da Universidade Rei Abdullah de Ciência e Tecnologia, na
Arábia Saudita, e ex-consultora científica da Secretaria de Estado dos EUA,
ajudou a difundir o abaixo-assinado. "Já passou da hora de os cientistas
se levantarem e gritarem: 'Chega de mentiras'", disse ela. "Estamos
falando em salvar milhões de vidas aqui."
Precisamente
por causa do seu propósito elevado, o arroz dourado atrai suspeitas. Muitos
países proíbem o cultivo de todos os OGMs. No começo da década passada, a
ambientalista indiana Vandana Shiva disse que o arroz dourado seria um
"cavalo de Troia", destinado a conquistar o apoio da opinião pública
para organismos transgênicos que beneficiariam corporações à custa de
consumidores e agricultores pobres.
Em um artigo
de 2.001, "The Great Yellow Hype" (o grande "hype"
amarelo), o autor Michael Pollan sugeriu que esse arroz pode ter sido
desenvolvido "para ganhar uma discussão, em vez de resolver um problema de
saúde pública".
Mas o arroz
foi aperfeiçoado desde então, dizem seus defensores: uma tigela contém
atualmente 60% da necessidade diária de vitamina A para uma criança saudável. A
possibilidade de que o arroz dourado possa se transpolinizar com outras
variedades também é considerada limitada, porque o arroz se autopoliniza.
Se esse arroz
obtiver aprovação do governo filipino, ele não custará mais do que outras
variedades para os agricultores pobres, que estarão liberados para replantar as
sementes.
A Fundação
Bill e Melinda Gates está apoiando os testes finais do arroz dourado. Também
está patrocinando o desenvolvimento de cultivos específicos para a África
Subsaariana, como uma mandioca resistente a um vírus que habitualmente destrói
um terço das safras ou um milho que usa o nitrogênio de forma mais eficiente,
diminuindo o uso do fertilizante. Outros pesquisadores estão desenvolvendo um
feijão-fradinho resistente a pestes e uma banana que contém vitamina A.
Uma objeção
aos OGMs é que eles podem conter riscos desconhecidos. Tais cultivos, afirmou a
"Scientific American" em agosto, "só com apoio da opinião
pública chegarão às mesas das pessoas". O Greenpeace, por exemplo, já disse
que continuará se opondo a eles. "Preferimos pecar por cautela",
disse Daniel Ocampo, ativista da organização nas Filipinas.
Para outros, o potencial para aliviar o
sofrimento é tudo o que importa. Como escreveu um dos signatários da petição, o
mexicano Javier Delgado:
"Essa
tecnologia pode salvar vidas. Mas falsos temores podem destruí-la."
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
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