segunda-feira, 15 de julho de 2019

DESPERDÍCIO CRIMINOSO





PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

DESPERDÍCIO CRIMINOSO

Cerca de um terço dos alimentos produzidos no mundo têm como deplorável destino... a lata de lixo! Na hipótese de serem aproveitados dariam para alimentar 2 milhões de pessoas, mais que o dobro de famintos no mundo (800 milhões). As frutas, verduras e legumes são os itens mais desperdiçados. Os principais responsáveis: coleta, seleção e armazenamento – 20%; não consumidos após a aquisição – 19%; processamento e descarte durante o processo – 14%.  Um escárnio, um crime que cometemos diariamente sem nos darmos conta, sem remorsos, sem vergonha. O desperdício de comida choca o senso moral e causa revolta nas pessoas com caráter.
Os países desenvolvidos são os que mais contribuem para este crime contra a humanidade e não seria difícil, se não eliminar, ao menos diminuir esse desperdício. Com um pouco de boa vontade, hotéis, restaurantes e assemelhados, poderiam recolher as sobras não consumidas e mantê-las refrigeradas, reservando-as para serem recolhidas. Neste ponto entrariam órgãos governamentais que se responsabilizariam pela coleta e distribuição. Nas residências, congelar o excedente para consumo futuro, além do conteúdo humanitário, representaria considerável economia.
FEIOS MAS NUTRITIVOS. Anualmente, só nos Estados Unidos, 2,5 milhões de toneladas de frutas e legumes nem são colhidas, por motivos estéticos.  Boa notícia é que a conscientização começa a se fazer presente. A empresa Imperfect, da Califórnia e redes varejistas da União Europeia adquirem produtos feios mas nutritivos e os oferecem a preços acessíveis às populações menos abonadas. Exemplos que tendem a proliferar e merecem elogios. A RC Farms envereda por outro caminho, recolhe de restaurantes, em Las Vegas, sobras de alimentos que após serem esterilizadas alimentam 2.500 porcos, substituindo 700 toneladas de rações anualmente. A dieta é complementada com o excedente de batatas de uma indústria alimentícia.
Atitudes individuais, por mais que pareça inverossímil, podem iniciar movimentos que se espraiam, inclusive atravessando fronteiras. Tristan Stuart, hoje com 38 anos, nasceu em Londres, atualmente exerce atividades no Peru e na Colômbia, onde encontrou terreno propício para a atividade de recolher alimentos rejeitados pelos supermercados, não pela sua qualidade alimentícia, mas pela aparência. São feios, saborosos e nutritivos, milhões de toneladas são descartadas pela sua aparência. Isto é indesculpável.  Stuart percorre fazendas, restaurantes e empresas alimentícias, nelas recolhe para dar destino correto tudo o que não é “laranja de amostra” (se me entendem) e promove distribuição de refeições a grupos de pessoas carentes. Na região de Picardia, França, um voluntário ajuda a recolher 500 quilos de batatas pequenas demais para serem colhidas à máquina. Cenouras, berinjelas e outros legumes e hortaliças doados, na Place de la République transformar-se-ão em refeições para 6.100 pessoas. O grupo Feedback, de Tristan Stuart, já organizou mais de 30 desses banquetes públicos. A ideia de chamar a atenção para o desperdício de alimentos começa a inspirar soluções locais independentes. Surgem em todos os cantos do planeta voluntários para darem o ”ponta-pé-inicial”, muitos se tornam definitivos e prosperam. O exemplo edificante impulsiona outras pessoas a cooperar e de grão em grão...   Palmas a esses heróis quase anônimos, eles merecem aplausos e devem ser imitados por quantos o possam.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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