“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
DARWIN ABOLICIONISTA
A Origem das Espécies é
uma obra de literatura científica escrita por Charles Darwin, que é considerada
a base da biologia evolutiva. Publicado em 24 de novembro de 1859, ele
introduziu a teoria científica de que as formas de vida evoluem ao longo das
gerações por meio de um processo de seleção natural. Wikipédia
Além de ser o pai da
teoria da evolução, atualmente incontestável, Charles Darwin era uma pessoa de
integridade maiúscula. Defendeu teses que só o dignificam.
"Eu não posso
deixar de pensar que eles (africanos escravizados) serão, no fim das contas, os
governantes". A frase foi escrita no Rio de Janeiro pelo
naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882) em seu diário no dia 3 de
julho de 1832.
A
profecia não se concretizou, mas serve para revelar visões pouco conhecidas do
autor de A Origem das Espécies.
"Ele começou a torcer pelos
africanos no Brasil. E havia tantos que ele pode ter pensado que alguma coisa
como aquilo que tinha ocorrido no Haiti iria acontecer no Brasil também",
diz o biólogo. O fim da escravidão e a independência do Haiti ocorrem com protagonismo
dos próprios escravizados, e o país se torna, em 1804, a primeira república
governada por pessoas de ascendência africana”.
O
britânico que revolucionou a biologia com sua teoria da evolução pela seleção
natural era um abolicionista convicto.
Era sua "causa sagrada", como define James Moore, historiador
da ciência que mergulhou na visão de Darwin sobre raça e sobre o escravismo e é
autor, com o colega Adrian Desmond, de Darwin's Sacred Cause: Race,
Slavery and the Quest for Human Origins ("A Causa Sagrada de
Darwin: Raça, Escravidão e a Busca pela Origem Humana", em tradução
literal).
As anotações do naturalista sobre a viagem ao Brasil — onde ficou por
quatro meses durante seu périplo de cinco anos a bordo do navio Beagle estão
recheadas de descrições horrorizadas sobre a escravidão.
De um lado, Darwin era um antiescravista, abolicionista. Dedicou parte
da carreira para mostrar que as diferentes raças tinham a mesma origem, um
ancestral comum — algumas das teorias da época chegavam a dizer, por exemplo,
que brancos e negros eram de espécies diferentes, o que muitas vezes foi usado
para legitimar a escravidão.
Isso não significava, porém, que julgasse que todas as civilizações eram
iguais. Para ele — e para as teorias antropológicas dominantes da época —, os
diferentes povos se encontravam em diferentes estágios de civilização, uns mais
avançados que outros.
Nos séculos 17 e 18, as colônias inglesas mundo afora tinham escravos,
mas pouco se falava sobre o papel da Inglaterra dentro da engrenagem escravista.
A Inglaterra foi um dos primeiros países a interromper o tráfico de
pessoas escravizadas (em 1807, com o Slave Trade Act) e a emancipar os
escravizados (em 1833, com o Slavery Abolition Act), medidas vistas por muitos
britânicos como "uma evidência de como a civilização inglesa era mais
avançada que as demais", ressalta a historiadora da biologia Maria Elice
Prestes.
O avançar dos direitos conferidos aos escravos libertos – de todas as
raças – se concretizou de maneira ampla depois que países. Alguns antes, outros
mais tarde, aboliram o nefando regime (que subsiste como excrescência em
diminutos pontos do planeta). Ainda não temos vigente uma igualdade que seria a
ideal, principalmente no item que referenda salários e o galgar postos-chave
nas empresas, mas, se compararmos com o século XIX e anteriores, é substancial.
O direito de votar e ser votado, de possuir propriedades, de cursar inclusive
universidades e outros que tais estão presentes na maioria das Constituições.
Passo a passo chegaremos à igualdade preconizada por Darwin.
A teoria da seleção natural que Darwin escreveu para explicar a evolução
das espécies — e não as diferenças entre os seres humanos —, acabou sendo
apropriada por outros cientistas que a usaram como matéria-prima para teorias
racistas. Entre elas estão o darwinismo social, que prega que apenas os mais
fortes estão aptos a sobreviver, e a eugenia, a ideia de que é possível
"melhorar" geneticamente uma população, que se tornou central para o
nazismo.
Apesar de usar o nome do cientista, contudo, o darwinismo social é um
distorção da teoria darwiniana, ressalta a historiadora Lorelai Kury.
"Darwin nunca disse que o melhor vai vencer; é o mais adaptado
àquela circunstância específica”.
"Para Darwin, é o acaso, e não algo pré-definido, que leva à
adaptação”.
"Darwin acreditava na possibilidade de que as civilizações que ele
considerava "inferiores" pudessem progredir, especialmente se
tivessem contato com as consideradas "mais civilizadas".
"Darwin insiste que, ainda
que as raças sejam diferentes, não há espécies diferentes. E do ponto de vista
biológico, moral e religioso o significado disso é enorme, porque, se somos
irmãos, eu não posso escravizar, não posso perseguir, não posso fazer genocídio".
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
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