quinta-feira, 30 de março de 2023

XENOTRANSPLANTES

 


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

XENOTRANSPLANTES

Na natureza apenas seres da mesma espécie podem se reproduzir e continuar com a possibilidade de perpetuação. Um fator determinante é a necessidade de as células reprodutoras, espermatozoide e óvulo terem o mesmo número de cromossomos a fim de permitir a formação de pares isonômicos. Desde priscas eras a humanidade tem feito cruzamento de animais da mesma espécie com a finalidade de aprimorar seus predicados e obter uma descendência conserve esses aprimoramentos genéticos. A pecuária consegue melhorias e maior produtividade de carne e leite.

Experimentos com cruzamentos híbridos podem ter um sucesso relativo, a mula, o cruzamento de um cavalo com uma jumenta ou égua com um jumento. Como esses animais pertencem a espécies diferentes, mas são do mesmo gênero, há possibilidade de cruzamento, porém não geram proles férteis, as mulas são estéreis.

Na natureza as leis nem sempre são obedecidas de maneira absoluta, exceções ocorrem e os resultados podem surpreender.

Abordemos as QUIMERAS. O quimerismo é uma condição genética rara, determinará que o indivíduo possua dois tipos distintos de DNA em seu corpo, pode ocorrer em humanos e acontece quando dois óvulos fecundados se fundem antes do quarto dia de gestação, misturando as informações genéticas sem que o indivíduo sofra grandes mutações. Se a fusão ocorrer após o quarto dia eles produzirão gêmeos siameses.

TRANSGÊNICOS são organismos que receberam um ou mais genes de um organismo doador de outra espécie. Essa alteração no seu DNA permite que mostre características que não possuía antes.

Pessoas que nasceram com doenças genéticas graves podem receber o gene que falta no seu genoma e se livrar da doença.

Utilizando as técnicas da transgenia, genes de animais podem ser inseridos em humanos e mesmo órgãos de animais podem ser transplantados em humanos. A ciência evoluiu e esses transplantes deixam de ser coisa de ficção científica.

Em janeiro de 2022, o coração de um porco foi transplantado em um americano de 57 anos. Bateu no peito do receptor durante oito semanas antes de parar. Não foi por rejeição, mas em consequência de uma infecção oportunista.                                                                                                Realizado na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, foi o primeiro transplante em que um ser humano recebeu órgão doado por um animal (xenotransplante). Considerando que órgãos de outra espécie, quando transferidos para seres humanos são reconhecidos como corpos estranhos e começam a ser rejeitados em minutos, oito semanas são considerados uma eternidade.

Centenas de transplantes foram realizados em animais de espécies diferentes antes de se tentar em humanos.

Os porcos são os preferidos por terem os órgãos com dimensões e anatomias semelhantes às nossas. O animal que doou o coração para o primeiro transplante foi submetido previamente a dez manipulações: quatro de seus genes foram modificados e seis genes humanos introduzidos em seu genoma para induzir tolerância imunológica.

A aprovação de xenotransplantes em seres humanos depende de agências reguladoras internacionais (FDA e Agência Europeia).

Transplante de células e órgãos de porcos transgênicos para seres humanos deixaram de serem considerados ficção científica.

“Até uma jornada de mil milhas começa como primeiro passo”. (Lao Tzu)

Comentário do colunista: “A evolução técnica e científica promovida pelo homo sapiens pode se comparada a uma escada rumo ao infinito. Galga-se subindo um degrau de cada vez e o final não se vislumbra. Durante o trajeto aproveitamos os avanços e nossos descendentes já partem do ponto em que paramos. E assim sucessivamente”.

Em tempo: Alguns dos dados do primeiro transplante foram obtidos a partir de uma coluna escrita pelo Dr. Drauzio Varella médico, cientista e escritor. (drauziovarella.com.br”, Zero Hora, 17/12/2022)

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado


domingo, 12 de março de 2023

FANATISMO

 


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

FANATISMO

As ideologias, de direita e de esquerda, não nos conduzem às soluções e, sim, a conflitos que perseveram através de gerações. Pretendemos minimizar problemas? Reduzamos as desigualdades sociais, lutemos contra a corrupção com todas as forças “a coragem que os fracos abate, os fortes, os bravos, só pode exaltar” (Gonçalves Dias – Canção do Tamoio).

Eliminar os privilégios do absurdo fanatismo político e manter transparência absoluta nos gastos públicos deveria ser o escopo final.

A Democracia tem princípios que são inegociáveis.

Não compactuo com nenhum grupo extremista, penso que são todos execráveis. A esquerda se desgastou com o populismo, os escândalos e a corrupção na administração pública. Bolsonaro desgastou a direita de modo mais contundente durante o combate à Covid ao subestimar  as vacinas.

Lula desbaratou recursos do BNDES em obras faraônicas na América Latina e na África que catapultaram as dívidas a píncaros escandalosos. Enquanto isso, no Brasil, estradas permanecem em estado lastimável; portos obsoletos; metrôs, nem pensar; a ponte do Guaíba construída de modo a ser interrompida por uma grande enchente; etc., etc., etc.

Em 2018 governos do PT estavam desgastados por escândalos financeiros que geraram um forte sentimento anti-PT e a possibilidade da eleição de Bolsonaro. O “cavalo passou encilhado” mais uma vez e, novamente, não se aproveitou a oportunidade histórica, o toma-lá-dá-cá continuou vigendo, intenso como sempre. Os brasileiros foram mais uma vez enganados, resultaram desiludidos ao apoiaram o que parecia ser uma luz no fim do túnel e se metamorfoseou num poço de breu. A má administração e a má aplicação dos recursos públicos seguiram à tripa-forra.

O fanatismo político precisa ser combatido com as forças que nos restam, o combate à corrupção deve ser feito em todas as frentes pelos órgãos de fiscalização, sim, mas também pela sociedade que tem o dever de nunca mais eleger “figurinhas” que provaram não terem a estatura digna de nosso respeito. Errar é humano, persistir no erro, burrice.

A liberdade de expressão pode ser utilizada como arma mortal, a transparência permite visualizar as atitudes indignas de próceres sem caráter ou enaltecer atitudes dignas de aprovação quando ocorrem. Atenção: liberdade de expressão não que dizer aceitar fake-news. Seria “sair da frigideira para cair nas brasas”.

Deveria também ser lançado um anátema sobre as imunidades  usufruídas pelos ”mais iguais”.  O deputado que, por exemplo, propusesse a obrigatoriedade de se exigir aos postulantes a cargos eletivos ou indicações políticas a obrigatoriedade de abrirem deus sigilos fiscais, bancários, do imposto de renda seria aclamado em uníssono. É inconcebível que tantos e tantas ostentem sinais de riqueza sem lastro para justificar posses faraônicas. Por que não investigar as origens? Valeria para TODOS os escalões, sem exceções. Seria um deus-nos-acuda, muitos fugiriam do embate democrático como o diabo foge da cruz. E seria dado o primeiro passo para que o Brasil passasse a ser administrado por pessoas honestas e probas.

A Esperança daria as caras no horizonte.

Um crime que parecia sepultado ressurge agora, no terceiro governo Lula: as invasões de terras produtivas.

“MST invade quatro fazendas no sul da Bahia” (Zero Hora, 2/3/2023)

Cerca de 1,7 mil integrantes do MST, a maioria mulheres, invadiram três fazendas de cultivo de eucalipto da empresa Suzano Papel e Celulose, nos municípios de Teixeira de Freitas, Mucuri e Caravelas, no sul da Bahia. Uma quarta área, a Fazenda Limoeiro, foi ocupada no município de Jacobina.

As invasões contrariam o discurso de Lula , na campanha disse que o MST não ocupava propriedades produtivas.

Em sua página oficial, o MST avisa que as ações vão continuar, vamos retomar a luta pela terra com ocupações e marchas, as terras são “latifúndios de monocultura de eucalipto”.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado


REQUIEM DA LAVA JATO

 


 

PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

REQUIEM DA LAVA JATO

“É evidente como a história recente do Brasil (décadas) vem demonstrando que o empreguismo desmesurado contribui para a ineficiência e a corrupção”.

São raros os eleitos que cumprem suas promessas de campanha de seguirem a cartilha que permita uma governança direcionada ao progresso do país e excludente do toma-lá-dá-cá nefasto.

O Ministério da Economia, a pedido do jornal O Estado de São Paulo, esclarece que o total de cargos e funções no executivo federal ultrapassa os 90 mil.

É compreensível que os eleitos escolham para seus assessores diretos pessoas comprometidas com seu projeto político, ninguém seria insensato a ponto de colocar inimigos na trincheira. Porém, convenhamos, é inconcebível que não encontrem elementos capacitados, honestos, incorruptíveis, entre os que apoiaram nas campanhas. Não podemos nos conformar que sejam preteridos pelos áulicos (puxa-sacos) ou predispostos a labutarem direcionando seus esforços para a consecução de projetos pessoais ou do agrado dos “donos da caneta”. Lembro, a propósito, a resposta de Getúlio Vargas a um repórter que o inquiria sobre a capacidade de seus ministros:                                             -“Alguns são incapazes mesmo, outros são capazes de tudo”.

Este preâmbulo se faz necessário antes de adentrar no labirinto representado pela mixórdia que caracterizou as últimas décadas da nossa História.

Duas ditaduras de extrema ferocidade e desrespeito à nossa condição de cidadãos ansiosos por uma vida sem estarmos a mercê de uma ressurgida “Espada de Dâmocles”. Numa delas, a de Getúlio Vargas, na qual o simples fato de alguém se atrever a falar em alemão ou italiano, língua aprendida com seus antepassados era punida drasticamente com prisão, sem defesa, sem recursos jurídicos de qualquer espécie. A liberdade era concedida ao livre arbítrio de uma “otoridade” do mais ínfimo escalão.

Na segunda, a ditadura de 1964, autodenomimada como “Revolução Redentora”, prisões a granel, torturas e desaparecimentos. É bem verdade que o outro lado também não se constrangia em cometer excessos, inclusive assassinatos e conspirar para “cubanizar o Brasil”. Tempos duros, preso por ter cão, preso por não ter cão.

Uma luz no fim do túnel: “Diretas já” possibilitou o retorno da Democracia, contudo, acompanhada pela corrupção endêmica que culminou em dois processos de impeachment, de Fernando Collor de Melo e Dilma Rousseff. Seguiram-se o Mensalão, o Petrolão, as obras faraônicas executadas no exterior (América Latina e África) que catapultaram nossa dívida a alturas inimagináveis. De acordo com o Plano Anual de Financiamento (PAF) encerra 2022 entre R$ 6 trilhões e R$ 6,4 trilhões.

E sobreveio a Covid-19. Em 31 de dezembro de 2019 a Organização Mundial de Saúde (OMS) foi alertada sobre vários casos de pneumonia na cidade de Wuhan, República Popular da China. Era uma cepa (tipo) de coronavírus nunca antes identificado em seres humanos. Em 11 de março de 2020 chegou ao Brasil.

E aqui a consideraram uma “gripezinha”. O Kit-Covid, conjunto de medicamentos comprovadamente sem eficácia foi distribuído pelo governo Bolsonaro e seus adeptos. As vacinas foram desdenhadas. Se bem que nenhuma vacina proteja 100%, é a única arma que o mundo tem para controlar a pandemia. O resultado dessa decisão foi catastrófico, 694 mil mortes.

Nem tudo são trevas, os presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso implantaram o Plano Real que reduziu o cenário de uma inflação, em 1º de julho de 1994, no acumulado em doze meses chegou a 4.922%, às vésperas do lançamento da nova moeda. Finalmente, após os fracassos dos planos anteriores o monstro foi domado e até o momento permanece sob relativo controle.

Houve também uma tentativa de impedir o recrudescimento da corrupção: a Operação Lava Jato. Infelizmente, quando começou a aparar as garras de “figurões”, o caldo entornou. Era muita audácia investir contra os “mais iguais” acostumados a “forrar o poncho” às custas do erário público. Como se atreveram a investigar, julgar, condenar e prender “Ilustres figuras”?

A defesa assacou as mais esdrúxulas alegações, até foram admitidos, para ANULAR PROVAS, erros de CEP. Um acinte inominável, a Lava Jato foi extinta em 1º de fevereiro de 2021, depois de ter condenado mais de 100 réus que agora riem a bandeiras despregadas. O povo brasileiro lamenta e veste luto.

Urge que os novos governos – Executivo e Legislativo – regulados pelo Judiciário nos reconduzam à senda que infelizmente abandonamos.

 

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado


PRIMEIRO TRANSPLANTE DE CORAÇÃO

 


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

O PRIMEIRO TRANSPLANTE DE CORAÇÃO

Há uma série de falsos conceitos em assuntos referentes a procedimentos médicos que perpassam o tempo por séculos.

“O coração é um órgão que não pode ser atingido por intervenções, causariam a morte da pessoa”.

Era considerado uma verdade absoluta até 3 de dezembro de 1967.

Na sala de cirurgia 2ª do Hospital Groote Schuur, cidade do Cabo, África do Sul, a história da medicina estava sendo reescrita e pode-se dizer de maneira a determinar uma divisão de águas. Por volta das 6 horas, o professor Christian Barnaard observava ansiosamente o coração de Denise Darvald que estava a bater, reencontrando seu ritmo. A diferença é que batia no peito de Louis Washkansky. O primeiro transplante de coração havia sido um sucesso.

Foi um momento crucial na história da medicina, estampado nos jornais de todo o mundo, transformou Barnaard em uma celebridade.

A cirurgia pioneira teve a duração de nove horas e envolveu uma equipe de 30 membros na execução. Louis Washkansky sobreviveu 18 dias com seu coração transplantado. Diabético e imunodeprimido, morreu devido a uma pneumonia. Apesar disso a cirurgia foi considerada um sucesso e deu partida a um procedimento atualmente rotineiro e com sobrevida ilimitada, depois do aperfeiçoamento dos imunossupressores. A ciclosporina e seus sucedâneos permitem, realmente, que pacientes transplantados sobrevivam e levem uma vida normal, desde que obedeçam a critérios específicos.

Outro dos falsos conceitos que paulatinamente foram derrubados era a convicção que sempre haveria rejeição, mesmo com o uso de imunossupressores, nos xenotransplantes (transplantes em que o doador é de uma espécie diferente, por exemplo, os órgãos de um porco não seriam aceitos por humanos).

Com o advento dos transgênicos abriu-se a perspectiva de empregar órgãos de espécies diferentes e esses já são realizados com sucesso, visando contornar a maior dificuldade que atualmente ocorre: a falta de doadores humanos compatíveis.

A legislação também permite, por exemplo, doadores inter-vivos, uma modalidade em que se permite a retirada de uma parte do fígado de pessoas perfeitamente sadias para doa-la ao paciente com doença hepática grave.                                                                                            No caso de doações de pessoas mortas, o óbito deve ser autenticado de maneira absolutamente incontestável e com permissão dos responsáveis. Para que a morte encefálica seja incontestável é preciso realizar dois exames clínicos, com teste de apneia e um exame complementar comprobatório. O diagnóstico atual da morte encefálica consiste na ausência de todas as funções neurológicas.

Na próxima coluna abordaremos os xenotransplantes (usando órgãos de animais), que deixam de ser coisa se ficção científica.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado


DARWIN ABOLICIONISTA

 

PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

DARWIN ABOLICIONISTA

A Origem das Espécies é uma obra de literatura científica escrita por Charles Darwin, que é considerada a base da biologia evolutiva. Publicado em 24 de novembro de 1859, ele introduziu a teoria científica de que as formas de vida evoluem ao longo das gerações por meio de um processo de seleção natural. Wikipédia

Além de ser o pai da teoria da evolução, atualmente incontestável, Charles Darwin era uma pessoa de integridade maiúscula. Defendeu teses que só o dignificam.

"Eu não posso deixar de pensar que eles (africanos escravizados) serão, no fim das contas, os governantes". A frase foi escrita no Rio de Janeiro pelo naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882) em seu diário no dia 3 de julho de 1832.

A profecia não se concretizou, mas serve para revelar visões pouco conhecidas do autor de A Origem das Espécies.

"Ele começou a torcer pelos africanos no Brasil. E havia tantos que ele pode ter pensado que alguma coisa como aquilo que tinha ocorrido no Haiti iria acontecer no Brasil também", diz o biólogo. O fim da escravidão e a independência do Haiti ocorrem com protagonismo dos próprios escravizados, e o país se torna, em 1804, a primeira república governada por pessoas de ascendência africana”.

 

O britânico que revolucionou a biologia com sua teoria da evolução pela seleção natural era um abolicionista convicto.

Era sua "causa sagrada", como define James Moore, historiador da ciência que mergulhou na visão de Darwin sobre raça e sobre o escravismo e é autor, com o colega Adrian Desmond, de Darwin's Sacred Cause: Race, Slavery and the Quest for Human Origins ("A Causa Sagrada de Darwin: Raça, Escravidão e a Busca pela Origem Humana", em tradução literal).

As anotações do naturalista sobre a viagem ao Brasil — onde ficou por quatro meses durante seu périplo de cinco anos a bordo do navio Beagle estão recheadas de descrições horrorizadas sobre a escravidão.

De um lado, Darwin era um antiescravista, abolicionista. Dedicou parte da carreira para mostrar que as diferentes raças tinham a mesma origem, um ancestral comum — algumas das teorias da época chegavam a dizer, por exemplo, que brancos e negros eram de espécies diferentes, o que muitas vezes foi usado para legitimar a escravidão.

Isso não significava, porém, que julgasse que todas as civilizações eram iguais. Para ele — e para as teorias antropológicas dominantes da época —, os diferentes povos se encontravam em diferentes estágios de civilização, uns mais avançados que outros.

Nos séculos 17 e 18, as colônias inglesas mundo afora tinham escravos, mas pouco se falava sobre o papel da Inglaterra dentro da engrenagem escravista.

A Inglaterra foi um dos primeiros países a interromper o tráfico de pessoas escravizadas (em 1807, com o Slave Trade Act) e a emancipar os escravizados (em 1833, com o Slavery Abolition Act), medidas vistas por muitos britânicos como "uma evidência de como a civilização inglesa era mais avançada que as demais", ressalta a historiadora da biologia Maria Elice Prestes.

 

O avançar dos direitos conferidos aos escravos libertos – de todas as raças – se concretizou de maneira ampla depois que países. Alguns antes, outros mais tarde, aboliram o nefando regime (que subsiste como excrescência em diminutos pontos do planeta). Ainda não temos vigente uma igualdade que seria a ideal, principalmente no item que referenda salários e o galgar postos-chave nas empresas, mas, se compararmos com o século XIX e anteriores, é substancial. O direito de votar e ser votado, de possuir propriedades, de cursar inclusive universidades e outros que tais estão presentes na maioria das Constituições.

Passo a passo chegaremos à igualdade preconizada por Darwin.

 

A teoria da seleção natural que Darwin escreveu para explicar a evolução das espécies — e não as diferenças entre os seres humanos —, acabou sendo apropriada por outros cientistas que a usaram como matéria-prima para teorias racistas. Entre elas estão o darwinismo social, que prega que apenas os mais fortes estão aptos a sobreviver, e a eugenia, a ideia de que é possível "melhorar" geneticamente uma população, que se tornou central para o nazismo.

Apesar de usar o nome do cientista, contudo, o darwinismo social é um distorção da teoria darwiniana, ressalta a historiadora Lorelai Kury.

"Darwin nunca disse que o melhor vai vencer; é o mais adaptado àquela circunstância específica”.

 

"Para Darwin, é o acaso, e não algo pré-definido, que leva à adaptação”.

 

"Darwin acreditava na possibilidade de que as civilizações que ele considerava "inferiores" pudessem progredir, especialmente se tivessem contato com as consideradas "mais civilizadas".

 

"Darwin insiste que, ainda que as raças sejam diferentes, não há espécies diferentes. E do ponto de vista biológico, moral e religioso o significado disso é enorme, porque, se somos irmãos, eu não posso escravizar, não posso perseguir, não posso fazer genocídio".

 

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado