“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
VACINAS – 16/09/2022
O médico britânico Edward Jenner, em 1796, percebeu
que as vacas infectadas com a versão bovina da varíola – vaccinus vaca – que provocavam pústulas nas tetas, ao serem
ordenhadas infectavam os fazendeiros com a doença. Mas era uma versão atenuada
e surpreendentemente gerava uma memória imunológica contra a varíola humana que
é altamente letal, matava 30% dos adultos e 50% das crianças pequenas.
Na
época os micróbios já eram conhecidos, o holandês Anton van Leeuwanhoek
detectava os micróbios através dos microscópios que ele mesmo fabricava. Na
época ninguém imaginava que esses seres minúsculos pudessem ser causas de
doenças, pensava-se que eram doenças
eram originadas por “miasmas” , ares
com cheiro pútrido provindos de zonas pantanosas. Isso mudou no final do século
XIX quando cientistas com John Snow, Louis Pasteur e Robert Koch apresentaram a
tese que atribuía a origem das infecções aos microorganismos patológicos.
Pasteur
criou a segunda vacina – contra a raiva – para prevenir a doença e o soro,
obtido através do soro de sangue de cavalos
infectados. Desde então as vacinas são utilizadas para prevenir doenças e os
soros para tratamento. Robert
Koch estabeleceu pela primeira vez o vínculo de uma doença, a tuberculose , com
m agente específico, um bacilo que recebeu a denominação de bacilo de Koch.
Um
mundo sem vacinas teria menos habitantes pois as doenças endêmicas que afetam
durante décadas ou séculos causam um número impressionante de mortes. A
varíola, antes de sua erradicação, causou 500 milhões de óbitos. Hoje, graças à
vacina, talvez seja a única doença que é considerada pela Wikipedia como
extinta, pertence ao passado. Antes de se alegar a existência da “vacina dos macacos” cumpre salientar que
esta é causada por outro tipo de vírus. O vírus da varíola humana só existe
conservado em estado criogênico (temperaturas abaixo de 150%) e é guardado em
dois centros governamentais bem vigiados, os Centros de Controle e Prevenção de
Doenças (CCDC) de Atlanta, EUA e pelo Instituto Vector em Koltsovo, na Rússia.
O
extremo cuidado que se emprega na vigilância desses vírus s justifica
plenamente. Um descuido que permitisse a disseminação causaria uma catástrofe
de proporções inimagináveis, principalmente nas mãos de terroristas.
Raciocinemos
a partir do fato que perder um
recém-nascido era corriqueiro na era pré-vacinas, dizia-se a “a criança não
vingou”. Sarampo, hepatite B, catapora, meningite, varíola e tantas outras
infecções virais ou bacterianas diminuiriam drasticamente a população. Em 1500
havia 461 milhões de habitantes na Terra; em 1860, 989 milhões. Nesse ritmo estaríamos atualmente com no
máximo 2 bilhões de pessoas. Hoje, graças em parte às vacinas somos 7,8
bilhões.
Outro
ponto a considerar é o conceito do “burden
disease”, o “fardo da doença”. Quantos anos de vida saudável seriam
perdidos porque não teriam sido evitadas doenças.
Vítimas
graves de poliomielite (paralisia infantil) ficavam condenados a passar a vida
em “pulmões de aço” para conseguir respirar, isso quando tinham acesso a tal
maquinário.
O
mundo sem vacinas é um mundo com menos idosos, a maioria das pessoas que padece
com doenças e outras como o câncer e o Alzheimer seria significativamente menor,
não viveríamos o suficiente para sermos vítimas delas, é um fato incontestável.
O
Brasil teve uma das campanhas mais exitosas do mundo no que se refere à
campanha de vacinação contra a poliomielite, tanto que o último caso registrado
foi em 1989. Em 1994 o país recebeu certificado de erradicação da doença.
É um
risco a tendência das populações relaxarem quando o perigo diminui, mesmo que
temporariamente. A baixa vacinação contra a pólio no Brasil e novos casos no
mundo acende um alerta para o risco de uma volta da doença. Nunca foi tão baixa
no Brasil, caiu de 96,55% em 2012 para 67,71 em 2021. Está na hora dos pais
lembrarem do horror que foi erradicado e levar os filhos para tomar as três
doses e eliminar a possibilidade do retorno após mais de 30 anos.
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
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