“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
MIGRANTES
Desde tempos imemoriais o deslocamento de pessoas em
busca de locais que permitam a sobrevivência individual e em grupos se repete.
Aliás, foi assim que há 200 mil anos o homo sapiens se deslocou da África, Ásia
e, atravessou o Estreito de Bering, que nesse período estava congelado em razão
da era glacial, formando uma ponte natural entre a Ásia e América do Norte.
Posteriormente judeus fugiram do Egito e muitos
périplos ocorreram. Os humanos, sem bússola, mapas ou quaisquer artifícios
técnicos povoaram ilhas na imensidão dos oceanos. Quantos pereceram? Jamais
saberemos, apenas que a ânsia de expansão de seu habitat era irresistível.
Há necessidade de diferenciar migrações, quando
ocorrem deslocamentos maciços – a vinda de europeus para as Américas foi
paradigmática – diferente das tentativas de grupos adentrarem ilegalmente num
país.
Habitantes da Ásia, América Central e do Sul, há muito
tempo procuram ingressar nos Estados Unido com a cooperação de intermediários
conhecidos como “coiotes”, arriscando serem interceptados e até perecerem
quando atravessam o deserto. As regras se restringem a “cada um por si, Deus por
todos, azar dos mais fracos”.
Leonilda Oliveira dos Santos, 49 anos, foi abandonada
pelos companheiros e morreu de sede. Quantos mais sofreram o mesmo destino?
Fácil julgar na segurança do nosso lar, porém,
reflita: qual seria a tua opção no meio do deserto? Como optar entre prosseguir
na desesperada procura de um local onde as condições de vida se prenunciam
menos angustiantes, onde se vislumbrem possibilidades para os filhos e afins
poderem viver em condições menos trágicas, embora enfrentando riscos de
deportação, viver em constantes sobressaltos ou permanecer para auxiliar a
sobrevivência de uma companheira exaurida?
A tragédia aqui descrita permite tirar ilações. A
entrada ilegal nos Estados Unidos causa reação de repúdio neste país e sofre
contestações internacionais. Isto é um FATO! Porém reflitamos: Pessoas arriscam
sua segurança e até sua vida para ENTRAR e RESIDIR nos Estados Unidos. São
estrangeiros que em certo momento decidiram trocar sua pátria.
Movimentos opostos ocorreram na Alemanha antes da
derrubada do Muro de Berlim, construído em 1961 para evitar a fuga da Alemanha
Oriental para a Ocidental. Muitos perderam a vida assassinados pela guarda
fronteiriça. A Rússia também impedia a emigração rumo a uma libertação junto a
seus compatriotas ocidentais. Cubanos arrostavam o oceano e até tubarões para
fugir da ditadura de Fidel Castro. Outros países dificultam a saída de suas
fronteiras e os que assim procedem são bem conhecidos.
Este fato leva-me a conjeturar que, ao menos no
imaginário da maioria, é preferível viver num país democrático apesar de não
atingir, ainda, a plenitude do que almejamos mas pretendemos atingir num futuro
próximo. Capitalismo selvagem não é o regime ideal, comunismo também não. Têm
suas falhas e, ambos, apresentam prós e contras. Urge extrair e praticar o que
de bom há em ambos e escoimar aquilo que repudiamos. Os países nórdicos,
Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia e Islândia nos apontam a direção,
conjugam a eficiência técnica e alto nível de vida nas democracias com o ideal
preconizado pelo socialismo: aproximar os mais abastados dos que labutam na
base da pirâmide.
Um detalhe: LIBERDADE é imprescindível para um viver
minimamente aceitável. Regimes que tolhem a LIBERDADE e ou cultuam o DEUS MOEDA
não satisfazem. Midas, um personagem da mitologia grega, baseado em um rei do
mesmo nome na Frígia no século VIII a.C. recebeu dos deuses o dom de
transformar em ouro TUDO o que tocasse. Resultado: o alimento não podia ser
ingerido quando manipulado e seus entes queridos se transformavam em estátuas
de ouro.
IN MEDIO STAT VIRTUS, a virtude está no meio.
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado