quinta-feira, 30 de setembro de 2021

MIGRANTES

 


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

MIGRANTES

Desde tempos imemoriais o deslocamento de pessoas em busca de locais que permitam a sobrevivência individual e em grupos se repete. Aliás, foi assim que há 200 mil anos o homo sapiens se deslocou da África, Ásia e, atravessou o Estreito de Bering, que nesse período estava congelado em razão da era glacial, formando uma ponte natural entre a Ásia e América do Norte.

Posteriormente judeus fugiram do Egito e muitos périplos ocorreram. Os humanos, sem bússola, mapas ou quaisquer artifícios técnicos povoaram ilhas na imensidão dos oceanos. Quantos pereceram? Jamais saberemos, apenas que a ânsia de expansão de seu habitat era irresistível.

Há necessidade de diferenciar migrações, quando ocorrem deslocamentos maciços – a vinda de europeus para as Américas foi paradigmática – diferente das tentativas de grupos adentrarem ilegalmente num país.

Habitantes da Ásia, América Central e do Sul, há muito tempo procuram ingressar nos Estados Unido com a cooperação de intermediários conhecidos como “coiotes”, arriscando serem interceptados e até perecerem quando atravessam o deserto. As regras se restringem a “cada um por si, Deus por todos, azar dos mais fracos”.

Leonilda Oliveira dos Santos, 49 anos, foi abandonada pelos companheiros e morreu de sede. Quantos mais sofreram o mesmo destino?

Fácil julgar na segurança do nosso lar, porém, reflita: qual seria a tua opção no meio do deserto? Como optar entre prosseguir na desesperada procura de um local onde as condições de vida se prenunciam menos angustiantes, onde se vislumbrem possibilidades para os filhos e afins poderem viver em condições menos trágicas, embora enfrentando riscos de deportação, viver em constantes sobressaltos ou permanecer para auxiliar a sobrevivência de uma companheira exaurida?

A tragédia aqui descrita permite tirar ilações. A entrada ilegal nos Estados Unidos causa reação de repúdio neste país e sofre contestações internacionais. Isto é um FATO! Porém reflitamos: Pessoas arriscam sua segurança e até sua vida para ENTRAR e RESIDIR nos Estados Unidos. São estrangeiros que em certo momento decidiram trocar sua pátria.

Movimentos opostos ocorreram na Alemanha antes da derrubada do Muro de Berlim, construído em 1961 para evitar a fuga da Alemanha Oriental para a Ocidental. Muitos perderam a vida assassinados pela guarda fronteiriça. A Rússia também impedia a emigração rumo a uma libertação junto a seus compatriotas ocidentais. Cubanos arrostavam o oceano e até tubarões para fugir da ditadura de Fidel Castro. Outros países dificultam a saída de suas fronteiras e os que assim procedem são bem conhecidos.

Este fato leva-me a conjeturar que, ao menos no imaginário da maioria, é preferível viver num país democrático apesar de não atingir, ainda, a plenitude do que almejamos mas pretendemos atingir num futuro próximo. Capitalismo selvagem não é o regime ideal, comunismo também não. Têm suas falhas e, ambos, apresentam prós e contras. Urge extrair e praticar o que de bom há em ambos e escoimar aquilo que repudiamos. Os países nórdicos, Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia e Islândia nos apontam a direção, conjugam a eficiência técnica e alto nível de vida nas democracias com o ideal preconizado pelo socialismo: aproximar os mais abastados dos que labutam na base da pirâmide.

Um detalhe: LIBERDADE é imprescindível para um viver minimamente aceitável. Regimes que tolhem a LIBERDADE e ou cultuam o DEUS MOEDA não satisfazem. Midas, um personagem da mitologia grega, baseado em um rei do mesmo nome na Frígia no século VIII a.C. recebeu dos deuses o dom de transformar em ouro TUDO o que tocasse. Resultado: o alimento não podia ser ingerido quando manipulado e seus entes queridos se transformavam em estátuas de ouro.

IN MEDIO STAT VIRTUS, a virtude está no meio.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado


BINA

 


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

BINA

O Brasil que vivemos atravessa uma fase de uma História que não nos orgulha, não nos infla o peito, pelo contrário, nos deprime e nos causa um imenso desconforto.

Atravessamos duas ditaduras que até hoje, depois de passados anos, ainda nos deixam ressaibos amargos e lembranças que causam pesadelos.

Amargamos inflações catastróficas, a última delas atingiu inimagináveis 2.477,15% ao ano. Sarney – lembram os fiscais do Sarney passando pente-fino nos supermercados que remarcavam preços diariamente (quando não duas vezes)? – Fernando Collor de Mello e o confisco da poupança que até hoje não foi plenamente ressarcido?

Planos econômicos foram elaborados para derrotar a inflação: Plano Cruzado (1986); Plano Bresser (1987); Plano Verão (1989); Plano Collor (1990). Todos fracassaram.  Finalmente, em 1º de julho de 1994, Itamar Franco (PMDB) e seu Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, mobilizaram nomes consagrados da economia nacional brasileira para elaborar o Plano Real que pôs fim à fase de instabilidade e descontrole de preços. Na época a inflação pelo INPC atingia inimagináveis 2.477,15% pelo IPC. Quando Lula assumiu, o Plano Real havia reduzido a inflação para 12,53% ao ano.

Aos trancos e barrancos Lula, Dilma, Temmer e Bolsonaro nos conduziram até aqui e aquilo que o Plano Real nos deixava vislumbrar na fímbria do horizonte, um futuro ascendente, foi sendo paulatinamente frustrado. A Covid-19 foi a pá de cal.

Temos também muito para nos orgulhar entre nossos representantes de proa que permitem crer no futuro. Xô para figuras que nos enxovalham. Lembremos Oswaldo Cruz, César Lattes, Santos Dumont, Thaisa Bergmann, Mayza Zatz, Marcelo Gleiser, Marcelo Viana e tantos mais.

 Vou abrir um espaço para Nélio José Nicolai, engenheiro eletrotécnico inventor do BINA, sistema que identifica chamadas de telefones, aquele número que permite sabermos com quem estamos falando e evita trotes tão costumeiros, inclusive golpes.                                                       

Passou 35 anos lutando na Justiça para receber os royalties da tecnologia. Morreu aos 77 anos, em 11 de outubro de 2017, sem receber o merecido. Nicolai desenvolveu o sistema em 1977, quando trabalhava na Telebrasília, operadora local da Telebras. Em 1990 adaptou o aplicativo para celulares. Lutou para ser reconhecido como inventor, no entanto, nunca recebeu o direito de explorar comercialmente a tecnologia.   Nicolai chegou a ganhar três ações em primeira instância e uma em segunda. Em 2012 recebeu da operadora Vivo um valor irrisório.  Se vencesse os recursos ganharia R$ 10,00 por cada um do mais de 300 milhões de celulares ativos no Brasil.

O BINA tem um certificado e uma medalha de ouro do World Intellectual Propriety Oganization, que reconhece e recomenda a patente, além de um selo da série de Invenções Brasileiras concedido pelo Ministério de Comunicações.

Nicolai tem outras 40 patentes registradas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), com as mais variadas funções, desde leitores óticos para deficientes visuais até sistemas de proteção contra clonagem de cartões de rédito. (Dados colhidos no Google)

Sim, temos na nossa História inúmeros representantes que nos enchem de orgulho, lembremo-nos deles para contrabalançar os que, egoisticamente, nos aproximam do abismo. Não merecemos, somos um povo merecedor de mais respeito.



Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado


terça-feira, 14 de setembro de 2021

NÃO SOMOS IGUAIS

 


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

NÃO SOMOS IGUAIS

No imaginário popular criam-se estereótipos que podem tanto estigmatizar grupos como elevar a culminâncias, por vezes imerecidas. Há dificuldades que impedem distinguir pessoas pelo que elas realmente são, tanto para libertá-las do fosso que as denigre como apear das culminâncias, por vezes imerecidas.

Diz o ditado que, no Brasil, a cadeia é só para os “três pês”: pretos, pobres e prostitutas. Nem a Lei Afonso Arinos evita que se consumem injustiças.

Quando ocorrem confrontos – mesmo que justificados – entre policiais e civis logo se apregoa, sem verificar as circunstâncias e os porquês dos fatos ocorridos: “mais uma arbitrariedade, mais uma violência oficial”. Há confronto com vítimas? A culpa é dos agentes da lei, mesmo que o fato ocorra por ação dos delinquentes.

Vou citar um fato ocorrido na cidade de Triunfo, RS.

Final de tarde. E do turno dos policiais militares em serviço. Sexta-Feira Santa. E 13 de agosto. Porém quem é policial sabe que um turno não pode ser encerrado se houver ocorrência. O telefone 190 recebe denúncia anônima: uma mulher esconde grande quantidade de drogas. Os policiais vão investigar e confirmam o fato. Lavrado o flagrante, muitas horas de trabalho além do fim da jornada. 

Planejamento familiar... esquece. Cumpram seu dever sem receber manchetes, sem esperar benefícios.

Uma mulher jovem, pobre, sozinha para sustentar três filhos pequenos. Nervosa, nem tentou negar. Não era devido a ameaças, era por comida. Para si e para os filhos.

Quatro dias depois, já solta, em casa, viu a viatura policial voltar. Só que desta vez os policiais da 5ª BPM só traziam amor e esperança. Decidiram ajudar, levaram comida e lhe disseram que era hora de voltar ao caminho certo. Nas crianças sorrisos e ainda ganharam kits do Proerd.

Quem quiser ajudar pessoas necessitadas e desesperadas procure a Brigada que pode servir de trampolim. Não se exime de cumprir a lei (nem pode), não mede esforços para ajudar a quem precisa de amparo e esperança. Este é só mais um exemplo que Oscar Bessi explanou no Correio do Povo, 21/08/2021.

É muito fácil apontar, e existem, truculências cometidas, mas atente, ao fazê-lo suponha estar usando um uniforme da BM. Passar a vida lutando contra a maldade humana mais abjeta. Combatendo o tráfico, enfrentando ladrões solertes e assassinos que não hesitam em disparar com armas letais... o alvo é o agente da lei. Atente ao sombrio “ambiente de trabalho” onde um segundo de vacilo pode representar a morte. E não é força de expressão, um segundo de vacilo separa o PM vivo e cumprindo seu dever do luto de seus entes queridos.

É muito fácil acusar de truculento aquele que chamamos quando o desespero bate à porta... ele sempre vem com a maior brevidade possível... ele sempre se prontifica a juntar os cacos de uma vida despedaçada pela insânia de malfeitores – ele colabora, inclusive promovendo campanhas de reabilitação, de auxílio a um reinício de um passado que derrapou devido a circunstâncias inglórias.

Atente ao desespero dessa jovem mãe a quem se ofereceu a “escolha de Sofia”: ou aderes à gangue dos traficantes ou tu e teus filhos desistem do futuro. E, depois de flagrada, qual seria este hipotético não-futuro se  a mesma mão que prendeu não ter se estendido para reabilitar?

Vire a página:

Um “figurão” se apropria de vultosas somas de maneira ilícita. Mesmo havendo flagrante – e não se diga forjado – explícito e continuado.

Para ser emitida e executada a ordem de detenção, prisão só depois de seguidos todos os trâmites, são muitos, os recursos que advogados caros interpõem têm de ser cuidadosamente analisados. Segue-se o julgamento, novos recursos, enfim a condenação. Em primeira instância.

A prisão se consuma? Pela legislação – se os bons e caros advogados agiram com proficiência – só depois de transitado em julgado. Isso no Brasil, onde uma prisão exige todo este protocolo.

Na ONU, 193 países permitem prisão em primeira ou segunda instância. Em 17 de outubro de 2019 o plenário do STF iniciou o julgamento sobre a constitucionalidade da prisão após condenação em segunda instância. Em 7 de novembro de 2019, por 6 votos a 5, o tribunal barrou a prisão após a condenação em segunda instância. A partir de então é necessário aguardar o trânsito em julgado.

ATÉ NOVEMBRO DE 2016 ERA AUTORIZADA A EXECUÇÃO DA PENA ANTES DA APRECIAÇÃO DE TODOS OS RECURSOS.

Em resumo, após todas as idas e vindas no STF, atualmente réus abonados - ou suficientemente influentes para que outrem o faça – que podem pagar bons e caros advogados postergam a prisão até ocorrer o trânsito em julgado. Isso, se no ínterim, não haja prescrição da pena por decurso de prazo.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado


segunda-feira, 6 de setembro de 2021

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL 3

 


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL – 3

Em colunas anteriores abordei sucintamente a extraordinária evolução que o homo sapiens provocou ao estimular seu cérebro e com isso se diferenciar de todos os demais seres vivos. Desde as primeiras tentativas de comunicação, e em consequência, a possibilidade da transmissão de conhecimentos aos seus pares e descendentes - a descoberta da escrita permitiu que os dados permanecessem inalteráveis e fidedignos – numa escalada rumo a um patamar que sequer podemos imaginar, apenas saber que não terá descontinuidade nem fim.

Alguns itens, como a introdução do ZERO (a criação do zero pode ser considerada um fato tão importante para a humanidade quanto o domínio sobre o fogo ou a invenção da roda, na pré-história. O zero e a escrita posicional resolveram o problema da mecanização das operações numéricas, permitiu a criação das máquinas de calcular e dos computadores), são degraus que nos alçaram ao ponto que hoje alcançamos. Do ábaco ao computador, do computador à Inteligência Artificial (IA), e continuamos sobrepondo, a bola da vez – efêmera como todas – é o 5G.                                                                                                                                                               Com a velocidade até 100 vezes superior ao 4G, deve ter um impacto extraordinário no nosso dia a dia e são muitos os usos que se tornarão corriqueiros, praticamente o mundo inteiro estará conectado on-line. Cirurgias via robô à distância já são realizadas atualmente no Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre. Com o “Da Vinci” usarão redes ultrarrápidas, com melhor definição de imagem, diminuindo o risco de erros médicos.

Milhões, até bilhões de aplicativos para controle de máquinas poderão ser rodados simultaneamente. O 5G poderá integrar todos os aparelhos e até seres humanos com máquinas.

Como todas as inovações terá inicialmente custos elevados, acentuando a diferença entre ricos e pobres. Paulatinamente políticas públicas adequadas permitirão a capilarização. Durante o período de transição as tecnologias atuais continuarão em uso até a conexão universal.



Atualmente, na Coreia do Sul, Estados Unidos e China o 5G já é realidade. Ao longo de 2020, Canadá, Noruega, Suíça, Japão e Austrália também participaram. O Brasil deve ficar para 2021 porque o governo ainda não decidiu as regras para a integração nem a opção entre o que ofereceram Estados Unidos e China, atuais detentores da tecnologia. Além da escolha do processo a decisão depende de uma opção política, como ocorreu na introdução da TV colorida.

A disputa comercial é compreensível, os países que saírem na frente terão vantagens econômicas de até uma década em relação aos demais.

A chinesa Hauwei desenvolveu equipamentos mais potentes, menores e operam com todos os tipos de tecnologia (2G, 3G, 4G, 4,5G e 5G) e a preço significativamente inferior ao que oferecido pelos norte-americanos. A China, por meio da Hauwei, já desenvolve pesquisas para uma tecnologia 6G. A disputa não vai parar por aí e a corrida se acelera de maneira irrefreável até onde não podemos prever. Os mais afoitos apontam para a Inteligência Artificial (IA).

PROMESSAS DA 5G:                                                                                                                                             Velocidade de conexão: espera-se que alcance até 100 vezes mais que a 4G.                                                                                                                A internet das coisas: a promessa de interconexão entre equipamentos sem precisar de intervenção humana, eletrodomésticos inteligentes sairão da ficção para a realidade.                                                                              Saúde: Cirurgias robóticas com alta qualidade de imagem e minimização de erros durante as operações. Impensável até poucos anos, o cirurgião poderá estar operando afastado do paciente, até em outro continente.                                                                                                                                      Transporte: Carros autônomos, que já circulam, mais confiáveis e seguros.

No momento em que escrevo esta coluna as pesquisas prosseguem em ritmo acelerado e, talvez já esteja obsoleta ao ser publicada. É incrível a velocidade da roda do progresso.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado