segunda-feira, 14 de setembro de 2020

O CANTO DAS SEREIAS

 


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

CANTO DAS SEREIAS

Benjamim Franklin, inventor, cientista, diplomata, entre outros atributos que o alçaram à condição de um dos mais ilustres cidadãos estadunidenses foi autor de fases lapidares que perseveram no tempo. Para nos alertar dos perigos de nos deixarmos induzir por conceitos incorretos usou uma metáfora: “Quem dorme com cães acorda com pulgas”.

A Bíblia também dedica um espaço para prevenir os cristãos alertando que devemos evitar, além do pecado, a proximidade das oportunidades. Quantas almas lá no inferno se lastimam: “Infeliz de mim! Se tivesse evitado aquela ocasião, não estaria aqui agora!”

Muitas vezes caímos no “canto das sereias” relatado na Odisseia. Ulisses, retornando da Guerra de Troia rumo à Ilha de Ítaca onde o aguardava sua fiel esposa Penélope, para resistir ao canto das sereias ordenou aos marinheiros que o amarrassem ao mastro do navio, sem esta providência não resistiria.

O metafórico “canto das sereias” na atualidade pode ser representado pelas palavras de pessoas nas quais depositamos irrestrita confiança, imerecida em muitos casos. Líderes religiosos, políticos influentes, companheiros chegados, influenciam nossas atitudes e conceitos. Cuidado! Separemos o joio do trigo e nos mantenhamos distantes das aleivosias, podem nos levar a “acordar com pulgas”.

A Covid-19 causou não apenas dor, sofrimento e mortes, confusão generalizada também. Em meio a tantas maneiras de preservar a vida, resistir ao uso de máscaras e insistir em aglomerações são, com certeza, atitudes nada recomendáveis.

John Stuart Mill, filósofo inglês, foi um dos mais influentes pensadores do século XIX. Em seus escritos políticos defende que cada um é guardião e si mesmo e, portanto, para viver do jeito que bem quiser. O limite dessa liberdade é a liberdade do outro quando vivemos em sociedade. “Ainda que as circunstâncias influam muito sobre o nosso caráter, a vontade pode modificar as circunstâncias a nosso favor”. Trocando em miúdos: somos influenciados a todo o instante por pessoas com as quais convivemos e quanto mais ascendência possuem sobre a comunidade maior o impacto de suas palavras e atos. Isso não impede de tirarmos nossas próprias conclusões e tomarmos decisões pessoais. O livre arbítrio nos permite optar e ao fazermos estabelecemos limites do quanto e quando devemos seguir o curso que pretendem nos determinar. Podemos e devemos nos insurgir contra aquilo que nos pretendem impingir apesar de as circunstâncias, os fatos e a ciência nos indicarem um rumo oposto. Sabemos que para evitar contágio o uso de máscaras e o distanciamento social são providências fundamentais? Então, não demos ouvidos aos que nos tentam induzir caminho oposto. Lembrando mais uma vez John Stuart Mill: “O único propósito pelo qual o poder pode ser exercido com razão sobre qualquer membro da comunidade, é evitar dano a outros”.

E não é só no Brasil que se pretende induzir à desobediência a população, a fazê-la se insurgir contra a lógica e a ciência, o bom-senso. Milhares de pessoas protestaram no dia 5 de setembro de 2020, no centro de Roma contra a vacinação preventiva ao coronavírus em crianças na idade escolar e pelo uso de máscaras em público. Segundo a ONG Avaaz, 25% dos brasileiros desdenham essas medidas simples, fundamentais para nosso bem estar e proteção aos cidadãos.

 


Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado


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