domingo, 16 de agosto de 2020

PERIGOS EM CONFRONTOS

 



PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

PERIGOS EM CONFRONTOS

Não são poucos os que ao fugirem de uma abordagem policial, culpados ou inocentes de algum delito, sofrem agressões injustificáveis. É de se notar que a disseminação de telefones com câmeras acopladas permite que esses desmandos sejam registrados e divulgados pelas redes sociais. As repercussões se disseminam como ondas e mais rápidos que rastilhos de pólvora. George Floyd virou ícone internacional e as consequências se avolumaram de maneira estrondosa. Todos concordam que há maneiras mais civilizadas para deter um possível contraventor e ninguém se conforma com arbitrariedades, partam donde partirem.

Ponto.

Abordemos – deter delinquentes – também sob um ângulo diverso e igualmente verdadeiro e trágico: policiais mortos em ações legítimas. Igualmente deplorável.

Demos a palavra a Humberto Trezzi (Humberto.trezzi@zerohora.com.br), jornalista qualificado e que se dedica a assuntos que muitos preferem ignorar por comodismo ou com receio de ferir susceptibilidades: “Mas quando o policial é vítima no momento em que faz a abordagem? Já cobri três casos no RS em que agentes da lei foram mortos ao render suspeitos – dois foram em Porto Alegre e um em Canoas -, os detidos eram bandidos e não estavam dispostos a voltar para trás das grades, reagiram à bala matando os agentes”.

Haverá espetacularização semelhante ao caso Floyd?

Agora aconteceu de novo, só que em São Paulo. Na madrugado do sábado, 8 de agosto, três PMs foram assassinados após abordar uma dupla que se passava por  policiais para praticar delitos. Abordados pelos PMs, um dos facínoras se identificou como policial civil, com distintivo e carteira. Entregou uma pistola e, ao se verificar que a identidade era falsa, sacou outra arma, atirou e matou dois dos verdadeiros policiais, foi ferido e matou o terceiro. Acabou vindo a óbito também. O parceiro “tirou o corpo fora” e afirmou que o parceiro “enlouqueceu”.

O episódio desnuda o quanto é perigosa, difícil, a vida de um policial. Se atuar com rigidez corre o risco de ser acusado por abuso e até ser processado. Se abordar com a delicadeza tão reclamada... corre risco de ser assassinado.

Costumo afirmar que não temos a menor dificuldade em emitir julgamentos definitivos quando nos defrontamos com circunstancias indiscutíveis: um lado tem razão enquanto o outro incorre em erro. Quando, porém, transitamos por ambientes limítrofes, onde há possibilidade de alegar fatos ou opiniões contraditórias, de optar por um dos partícipes, “a porca torce o rabo”. Vista a pele de um policial, prestes a abordar um suspeito potencialmente perigoso – por vezes reconhecidamente perigoso -, com os nervos à flor da pele e temeroso pela própria sobrevivência. Admitirás que não é difícil interpretar qualquer gesto brusco como uma ameaça mortal e daí a uma reação extremada, o tempo e as circunstâncias se inclinam para um desfecho trágico. Para qualquer dos lados, ou para ambos como no episódio de São Paulo acima referido.

Ponha a mão na consciência, repito, não condene com tanta convicção quem vive para te proteger, aos teus afetos e teu patrimônio, nem considere todo delinquente um injustiçado, uma pobre vítima da sociedade.

“É difícil ser brasileiro e nunca ter ouvido a seguinte afirmação: bandidos são vítimas da sociedade” (Martel Alexandre Colle)

E, não esqueça: “É uma experiência bem ruim ir ao enterro de um policial”.

E, também não esqueça: “Os direitos humanos não estão na defesa dos bandidos”.

E, também não esqueça: “Somos humanos, falíveis, inclusive em nossos julgamentos, só admitamos convicções inabaláveis quando não houver qualquer resquício de dúvida”.

E, finalmente: “Antes de julgar, ponha-se no lugar dos protagonistas”.

 

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado


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