“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
PERIGOS EM
CONFRONTOS
Não são poucos os que ao fugirem de uma abordagem
policial, culpados ou inocentes de algum delito, sofrem agressões
injustificáveis. É de se notar que a disseminação de telefones com câmeras
acopladas permite que esses desmandos sejam registrados e divulgados pelas
redes sociais. As repercussões se disseminam como ondas e mais rápidos que
rastilhos de pólvora. George Floyd virou ícone internacional e as consequências
se avolumaram de maneira estrondosa. Todos concordam que há maneiras mais
civilizadas para deter um possível contraventor e ninguém se conforma com
arbitrariedades, partam donde partirem.
Ponto.
Abordemos – deter delinquentes – também sob um ângulo
diverso e igualmente verdadeiro e trágico: policiais mortos em ações legítimas.
Igualmente deplorável.
Demos a palavra a Humberto Trezzi (Humberto.trezzi@zerohora.com.br),
jornalista qualificado e que se dedica a assuntos que muitos preferem ignorar
por comodismo ou com receio de ferir susceptibilidades: “Mas quando o policial é vítima no momento em que faz a abordagem? Já
cobri três casos no RS em que agentes da lei foram mortos ao render suspeitos –
dois foram em Porto Alegre e um em Canoas -, os detidos eram bandidos e não
estavam dispostos a voltar para trás das grades, reagiram à bala matando os
agentes”.
Haverá espetacularização semelhante ao caso Floyd?
Agora aconteceu de novo, só que em São Paulo. Na
madrugado do sábado, 8 de agosto, três PMs foram assassinados após abordar uma
dupla que se passava por policiais para
praticar delitos. Abordados pelos PMs, um dos facínoras se identificou como policial civil, com distintivo e
carteira. Entregou uma pistola e, ao
se verificar que a identidade era falsa, sacou outra arma, atirou e matou dois
dos verdadeiros policiais, foi ferido e matou o terceiro. Acabou vindo a óbito
também. O parceiro “tirou o corpo fora” e afirmou que o parceiro “enlouqueceu”.
O episódio desnuda o quanto é perigosa, difícil, a
vida de um policial. Se atuar com rigidez corre o risco de ser acusado por
abuso e até ser processado. Se abordar com a delicadeza tão reclamada... corre
risco de ser assassinado.
Costumo afirmar que não temos a menor dificuldade em
emitir julgamentos definitivos quando nos defrontamos com circunstancias
indiscutíveis: um lado tem razão enquanto o outro incorre em erro. Quando,
porém, transitamos por ambientes limítrofes, onde há possibilidade de alegar
fatos ou opiniões contraditórias, de optar por um dos partícipes, “a porca torce o rabo”. Vista a pele de
um policial, prestes a abordar um suspeito potencialmente perigoso – por vezes
reconhecidamente perigoso -, com os nervos à flor da pele e temeroso pela
própria sobrevivência. Admitirás que não é difícil interpretar qualquer gesto
brusco como uma ameaça mortal e daí a uma reação extremada, o tempo e as
circunstâncias se inclinam para um desfecho trágico. Para qualquer dos lados,
ou para ambos como no episódio de São Paulo acima referido.
Ponha a mão na consciência, repito, não condene com
tanta convicção quem vive para te proteger, aos teus afetos e teu patrimônio,
nem considere todo delinquente um injustiçado, uma pobre vítima da sociedade.
“É difícil ser brasileiro e nunca ter ouvido a
seguinte afirmação: bandidos são vítimas da sociedade” (Martel Alexandre Colle)
E, não esqueça: “É uma experiência bem ruim ir ao
enterro de um policial”.
E, também não esqueça: “Os direitos humanos não estão
na defesa dos bandidos”.
E, também não esqueça: “Somos humanos, falíveis,
inclusive em nossos julgamentos, só admitamos convicções inabaláveis quando não
houver qualquer resquício de dúvida”.
E, finalmente: “Antes de julgar, ponha-se no lugar dos
protagonistas”.
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
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