“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
BIOÉTICA –
26/10/2019
Nos anos 1970 Van
Rensselaer Potter cunhou o neologismo Biethics
no artigo Bioethics: Bridge to the
Future (Bioética: uma Ponte para o Futuro). É uma busca contínua por
sabedoria. É uma ponte para chegar com segurança a um futuro ameaçado pelo
progresso científico e tecnológico que avança numa velocidade estonteante e
não pode se dissociar do equilíbrio ecológico do planeta. Já tivemos experiências
trágicas nesse sentido: Londres com seu fog contaminado por poluentes, os
mesmos que tornam irrespirável o ar nos pontos mais críticos da China e o pior
do pior: Hiroshima e Nagasaki.
O antropocentrismo –
o homem como o centro de tudo - que domina o nosso planeta necessita se
encaminhar na direção de uma “bioética global”. Temos a obrigação de
compatibilizar o conhecimento com a ecologia, sem descuidar da herança que
deixaremos para as gerações futuras.
O advento das
máquinas e mais recentemente o grande salto representado pela cibernética,
pelos algoritmos, pela computação e seus derivados nos abre a perspectiva de
libertar o homem dos trabalhos braçais – mais eficientemente executados por
ferramentas – e permitir que desenvolva seus atributos mentais cada vez mais
sofisticados e, esses sim, isentos dos liames que ameaçam frear a escalada, escalada que não permite
sequer vislumbrar para onde nos levará. Se formos inteligentes o suficiente para
nos desviarmos dos atalhos chegaremos ao ponto onde os nossos descendentes
atingirão o ideal de uma vida prazerosa, socialmente distribuída de uma forma
que TODOS possam dizer: VALE A PENA VIVER!
A pergunta que
devemos responder: “como podemos combinar o progresso da ciência com a herança
humanista, de forma que beneficie os indivíduos em particular e a sociedade
como um todo”? A resposta representa uma ponte para o futuro capaz de unir o
progresso, a tecnologia e a sobrevivência da espécie humana.
Duas correntes
filosóficas encaram o futuro de maneira divergente: os BIOCONSERVADORES temem
que a escalada irrefreável do conhecimento possa trazer danos aos valores
essenciais a seres preocupados em manter a moralidade e o humanismo. Julian
Savulescu, diretor do Oxford Uehiro Centre for Pratical Ethics, centro
britânico para temas e pesquisas em ética prática é um defensor do “imperativo
moral em ética prática do melhoramento humano”. O futuro da humanidade depende
de como isso será construído para usufruto de toda a humanidade. O TRANSHUMANISMO aponta para a aplicação dos diferentes recursos à
disposição ou em vias de ocorrer – nanotecnologia,
recursos médicos, inteligência artificial, robótica, bancos de dados,
manipulação do DNA humano e a expectativa de vida para limites hoje quiméricos
- no sentido de tornar a vida não apenas prolongada, também exuberante e
prazerosa. Para tanto aceita inclusive a interação homem-máquina com a inserção
de componentes biônicos aliados à cibernética. Órgãos artificiais já estão
disponíveis, impõe-se necessária sua miniaturização que possibilite sua
inserção incorporada ao corpo, um passo decisivo para o sucesso. Como afirmou
Júlio Verne: “tudo o que um homem pode imaginar, outro homem realizará”. O TRANSHUMANISMO
representa a realidade atual, na qual o homo sapiens pode reprojetar a si mesmo
a fim de superar seus limites biológicos.
O POSHUMANISMO representa o estágio final
dessa interação, o de chegada. Uma integração perfeita entre o homem e a
máquina, a inteligência artificial e o ser humano. Os limites entre o homem e a
máquina serão diluídos nos direcionando ao ponto em que nos transformaremos em
ciborgues, ressaltado que esse estágio final é uma possibilidade tão remota que
não podemos afiançar será alcançada, e se o for, quando ocorrerá. O homem do
futuro agregará, sim, cada vez mais componentes cibernéticos até um limite que,
atualmente, sequer podemos imaginar. Órgãos serão totalmente artificiais ou
obtidos a partir de células originais multiplicadas em laboratórios. O rim construído
a partir de células não afetadas por um câncer para ser implantado no
organismo do doador já está no limiar de ser oferecido e o mesmo ocorrerá
paulatinamente com os demais órgãos. Os transplantes significaram um avanço
espetacular, porém, a necessidade de doadores humanos e o uso de
imunossupressores como a ciclosporina ainda são entraves, isso não ocorrerá
quando células do próprio paciente forem utilizadas. Prescindiremos
imunossupressores, nada de efeitos colaterais, nada de rejeição. Principalmente,
e isso será vital, descartará impedimentos morais e filosóficos.
“A CIÊNCIA NÃO É
TRABALHO, É UM EXPERIÊNCIA ÉTICA, APAIXONADA E CRIATIVA” (Van Rensselaer
Potter, criador do neologismo “bioética”). O agregar, tornando indissociáveis os
avanços científicos e a bioética, de certo modo ajusta um freio para regular a
velocidade e a profundidade do progresso e evita uma corrida desenfreada rumo
ao desastre representado por um maior distanciamento entre os muito ricos e os
miseráveis, poderá, ao contrário ser distribuído a TODOS e desta forma conseguir harmonizar
dois fatores aparentemente incompatíveis: o humanismo, que eleva o homo sapiens
a um nível acima do materialismo - este apenas busca o hedonismo - com a
evolução universal, meta e destino da espécie.
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado