Coluna publicada em "www.litoralmania.com.br" - 01/09/2018.
NO FUNDO DO
POÇO
Mais uma vez o Brasil aguarda na
antecâmara da incerteza o desfecho do pleito que definirá seu futuro. Nossa
frágil democracia, como Ulisses (citado na Odisseia de Homero) defronta-se com
perigos inauditos a sobrepujar, comparáveis a Cila e Caribdis no estreito de
Messina. O herói grego conseguiu e retornou a Ítaca, ilha do seu lar.
Conseguiremos pacificar após a eleição? O passado recheado de ressentimentos,
jamais atenuados, não serve de parâmetro, apenas acirra os ânimos além do
limite suportável. Resta-nos a árdua tarefa de desviar os obstáculos, ignorar o
ódio e rumar para o destino até agora incerto.
Odilon Ramos em “NO FUNDO DO POÇO”
parafraseia:
Desde os tempos de criança eu sempre achava um colosso puxar com a corda o balde cheio de água do poço.
Eu guri, pensador, desde então já questionava como do fundo tão escuro, água tão clara brotava.
Eu era um piá curioso que até escutava o pescoço tentando haver o que havia no fundo do poço.
E veio um tempo de seca, em que tudo ia mermando, até que num dia triste a nossa família viu: o balde desceu no poço e voltou de lá vazio.
Calamidade, desgraça, preces, lágrimas sentidas. Patrão do céu manda água, pois sem água não há vida.
Mas é que Deus decidira me mostrar, quando já moço, o que se pode aprender chegando ao fundo do poço.
Na mesma corda do balde que tantas vezes desceu, cheio de medo e cuidado, desta vez desci eu.
Com a luz duma velinha, cavando no lodo imundo, aos poucos fui achando o que havia lá no fundo.
Tinha uma tesoura velha que a irmã tinha perdido e era de cortar o umbigo de cada recém-nascido.
Tinha um bodoque que a mãe lá jogara por carinho, pois não queria ver a gente maltratando passarinho.
Um balde velho, que a corda rebentou e caiu. Um brinco não sei de quem e um isqueiro de pavio.
Até um trabuco velho, este causou sensação porque de sua desistência ninguém tinha informação.
Ouvia dos lá de cima a algazarra e o alvoroço a cada carga que o balde levava ao sair do poço.
Depois, com a pá e a enxada, numa missão dolorida, tirei do fundo do poço todo o lodo de uma vida.
Quando já quase findava a tarefa tão cansativa, eu vi co mo por milagre, brotou do chão água viva.
Ao ouvir vozes que diziam: isso é o fundo do poço, lembro que nem eu sabia ser capaz de tanto esforço.
Quem sabe a gente se une, com fé, humildade e grandeza, e já que estamos no fundo do poço, fazemos uma limpeza.
Há muito caco escondido no meio do lamaçal que para ser retirado requer trabalho braçal.
E ASSIM, DO FUNDO DO POÇO VAI BROTAR UM PAÍS NOVO, SACIANDO DE ESPERANÇA A ALMA DO NOSSO POVO.
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