Coluna publicada em "www.litoralmania.com.br" - 23/10/2017
http://www.litoralmania.com.br/o-suprassumo-da-injustica-e-parecer-justo-sem-o-ser-jayme-jose-de-oliveira/
O SUPRASSUMO
DA INJUSTIÇA É PARECER JUSTO SEM O SER
23/10/2017
“O SUPRASSUMO DA INJUSTIÇA É PARECER JUSTO SEM
O SER”.
Desde o início os futuros advogados sabem que
o Direito não é uma ciência exata. A votação por 6x5 sobre a legalidade do STF
cassar mandato, exceto diante de crime inafiançável ou em flagrante delito
escancarou a cisão que lavra na mais alta corte do país. A presidente Carmen
Lúcia, no voto de Minerva (desempate) se mostrou tão dúbia e confusa que os
colegas travaram aceso debate para interpretá-la. Acompanhou o relator em quase
tudo, mas divergiu no essencial: a necessidade de dar prioridade ao Senado ou Câmara
de Deputados no item que determina afastamento ou cassação de mandato. Por
outro lado afirmou: “Imunidade não é sinônimo de impunidade”. Ao fim e ao cabo, verificou-se que tresanda um ACORDÃO que será
explicitado no ACÓRDÃO a ser redigido pelo ministro Alexandre de Moraes.
Se nem os ministros se entendem e chegam a um
resultado tão divididos, o que sobra para nós leigos, com escassos
conhecimentos jurídicos? Será que podemos afirmar como em 1745, em que um
moleiro obteve justiça num julgamento no qual o oponente era nada mais, nada
menos que o rei Frederico 2º (o rei pretendia remover o plebeu de sua única
propriedade)? Para a justiça germânica, não havia como distingui-lo do rei. Daí
a frase: “Ainda há juízes em Berlim”.
Houve idas e vindas, lembremos a cassação do
então presidente da Câmara de Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que, inclusive,
culminou com sua prisão; o não cumprimento da sentença prolatada contra o
senador Renan Calheiros, afastado da presidência, teve seu mandato preservado
enquanto o senador Delcídio do Amaral era defenestrado sem dó nem piedade. O
conflito, nem tão subjacente, é agora reavivado e, seguramente, se transforma
num grave problema que interfere na independência dos poderes da República.
Vislumbramos dois
objetivos que norteiam os movimentos, atuais e futuros, dos senadores: “Há os que querem preservar o mandato do
senador Aécio Neves e os que estão pensando no próprio futuro”. (senador Cristovam
Buarque)
INCONGRUÊNCIAS
POR TODOS OS LADOS: O PSDB votou contra Delcídio do Amaral e tenta salvar Aécio. O
PT votou contra Delcídio, a favor de Aécio e agora inverte a posição após os
6x5 do STF e se estabelecer jurisprudência para decidir cassações entre os
“compadres”, inclusive as futuras. Jamais os ilustres senadores poderiam seguir
a máxima: “Viva de tal maneira que não tenha medo de vender seu papagaio ao
fofoqueiro da cidade”.
FRASES RECOLHIDAS
DURANTE E APÓS A SESSÃO:
“Prender miúdos e
proteger graúdos é tradição brasileira que estamos tentando superar”. (Luís
Roberto Barroso, ministro do STF) “Não surpreende que anos depois da Lava-Jato os parlamentares continuem
a cometer crimes: estão sob SUPREMA proteção”. (Daltan Dallagnol, procurador da
República) “Não vi coerência
lógica e jurídica no voto, mas um ato de esperteza com resultado desastroso”.
(Roberto Romano, professor de ética da Unicamp. “Julgou-se de forma
escancarada para evitar o aprofundamento da crise com o Senado, mas se mantém o
conflito entre poderes. O Supremo conciliou, mas perdeu a autoridade”. (Gilson
Dipp, ministro aposentado do STJ) “O
Supremo tem a palavra final até para decidir quando não tem a palavra final”.
(Túlio Milman, Zero Hora 13/10)
Este foi o
anticlímax, o grand finale estava reservado para o dia 17. Por 44 votos (19 são
alvos da Lava-Jato) a 26, o Senado derrubou a decisão da 1ª Turma do STF e
reabilitou Aécio. Esperam, certamente, retribuição em ocorrências futuras.
Inclusive os que não se alinharam ao tucano, o PT, por exemplo. Não esqueçamos
que até a presidente Gleisi Hoffmann protagoniza situação de ré no
Supremo. Houve
situações heterodoxas antes, durante e ao final da votação. Enquanto Ronaldo
Caiado (DEM-GO) compareceu em cadeira de rodas para votar contra Aécio, Amador
João Alberto (PMDB-MA) transferiu cirurgia de catarata; Romero Jucá (PMDB-RR)
ignorou atestado médico (diverticulite); Paulo Bauer (PSDB-MG), com crise hipertensiva
foi recolhido do hospital em ambulância e atrasou o final da votação. Votaram
pela absolvição. Os três senadores gaúchos, Paulo Paim (PT), Ana Amélia Lemos
(PP) e Lasier Martins (PSD), votaram
pelo afastamento de Aécio. Ricardo Ferraço (PSDB-ES),
inconformado com o resultado, vai se licenciar do mandato: “Estou com
vergonha”. A
presidente do STF continua convicta que “imunidade não é sinônimo de
impunidade”?
Estamos nos
encaminhando para, em 2018, termos como opção de voto, para presidente, Lula e Aécio,
candidatos alinhados em mesmo nível.
CONSUMMATUM EST,
foram palavras de Cristo ao agonizar na cruz.
Configura-se evidente
a necessidade de separar as atribuições em questão. Delegue-se o poder de
julgar ao STF e o de legislar à Câmara e ao Senado. Sempre que um poder
interfere nas atribuições do outro, resulta em quid pro quo. Abram-se exceções
para casos em que uma interpretação correta seja arguida ao Judiciário, afinal
é atribuição precípua deste a INTERPRETAÇÃO das leis e da Constituição.
Pode-se encerrar
esse escabroso episódio, com a palavra do Papa Francisco: “É MAIS NOTADA UMA
ÁRVORE CAINDO QUE UM BOSQUE CRESCENDO”.
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
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