Coluna publicada em "www.litoralmania.com.br" - 14/10/2017
http://www.litoralmania.com.br/o-mito-de-gyses-jayme-jose-de-oliveira/
“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
O MITO DE
GYGES
Se acreditarmos em Platão (filósofo
ateniense, 427-347 a.C.), discípulo de Sócrates, que foi um dos fundadores da
filosofia ocidental (463-399 a.C.), concordaremos que o mundo, além de confuso
e ilusório, é violento e ganancioso por natureza.
Através do mito e Gyges, Platão afirma que o homem almeja sempre mais
poder, glória, conforto, vantagens, prazeres. Apenas a lei e o temor das
consequências o impede de agir desonestamente (Livro II da República).
Relata que Gyges era um pastor
na região da Líbia. Após uma tempestade seguida de um tremor de terra o chão se
abriu e formou uma grande cratera onde viu um homem nu, morto, com um anel de
ouro. Após roubar o anel tomou lugar na Assembleia dos pastores e descobriu,
por acaso, que girando o anel se tornava invisível. Repetiu a experiência para
confirmar a magia. Seguro de poder agir impunemente dirigiu-se ao palácio,
matou o rei e apoderou-se do trono.
Platão afirma que devido à
natureza intrínseca do homem, tanto faz colocar o anel num homem justo como num
homem injusto, não encontraremos ninguém com temperamento suficientemente forte
para permanecer fiel à justiça e resistir à tentação de se apoderar dos bens e
benefícios de outrem. Poder-se-ia ver nisso a prova de que não se é honesto por
convicção, mas por constrangimento e temor das consequências. Quem permaneceria
fiel à justiça no momento que tivesse à mão todos os poderes?
Caberá a Sócrates, seu mestre, demonstrar de
forma magistral que a justiça é em si mesma o maior dos bens. Ao contrário de
Platão, afirmou que os homens se distinguem entre uns dos outros pela sua
integridade ou falta dela. Esta característica diferencia os homens probos dos
crápulas. Sejam cidadãos comuns, dirigentes, pertencentes à elite ou à plebe,
abastados ou carentes. Honorabilidade não se compra em farmácia.
Não apenas no Brasil membros da casta política que dirige nossos
destinos utiliza o anel de Gyges para tentar a impunidade revelando sua
“verdadeira natureza”. A ardilosa besta está aí, disseminada, pronta para
aparecer. E pedir votos.
Sempre há pessoas que, tenham ou não
as mesmas convicções e ideologias que compartilhamos, merecem o respeito devido
à sua coragem e a honorabilidade ao apoiar atos meritórios e apontar desmandos,
sem proteger mesmo companheiros quando erram. Cito quatro jornalistas e seus
textos, em épocas diversificadas:
“O Estado está em falência financeira
e de iniciativas. A culpa não é só do Sartori, que recebeu um moribundo, sem
que os antecessores reconheçam a culpa do desastre. À exceção de Jair Soares,
todos os governos somaram ao déficit ainda mais déficit. Governar era gastar.
Ou, até, roubar.
Indago: a emergência não exigiria, ao menos, o “mea culpa” dos “ex” para
sanar, ou minorar, a pobreza de ideias do atual governo”? (Flávio Tavares, Zero
Hora – 07/10/17)
Recorrendo ao meu arquivo, encontrei:
Ao questionar um caminhoneiro grevista
sobre a curiosa pauta da greve – que ia do valor do frete à derrubada da
presidente Dilma – Humberto Trezzi, Zero Hora, 14/11/15, foi enxovalhado à
direita e à esquerda.
“Esse governista conseguiu a façanha de achar um único caminhoneiro
iludido, em meio a cinco mil contrários ao governo mais corrupto do território
global”. (leitor antipetista)
“O Trezzi é um dos caras mais à direita de
ZH, puxa-saco de milico, defensor da segurança”. (leitor de esquerda
A nenhum deles ocorreu que, antes de ser petralha ou coxinha, Humberto
Trezzi é apenas um jornalista narrando fatos.
Moisés Mendes, jornalista com viés de
esquerda, em 13/11/15 abordou em Zero Hora os absurdos estipêndios pagos a
“conferencistas”.
“Nunca havia
pensado que uma pessoa pudesse lucrar tanto com coisas não palpáveis, como
palestras. Pegando o caso da Odebrecht como pagadora, descobre-se que uma
palestra pode render até R$ 300 mil, se o conferencista for o Lula, por exemplo. Nada é perecível
no alto mundo das palestras. Mas há casos em que a Odebrecht chegou a conversar
sobre palestras, pagou e, parece, não teve palestra nenhuma. Foi o que
aconteceu, segundo o relatório da Polícia Federal, entre 2011 e 2012, por 13
meses, quando a empreiteira pagou uma quantia mensal ao Instituto Fernando
Henrique Cardoso, sem qualquer compensação que possa ter sido identificada na
investigação”. (sic)
Opinião do colunista: Podem ser
encaixadas no mesmo contexto algumas “consultorias”. Assim como conferências e
palestras são um meio de comunicação de extrema validade para que pessoas com
experiência adquirida em cargos ocupados as difundam, facilitando os atuais e
futuros dirigentes. Consultorias sérias, exercidas por profissionais
habilitados, permitem que empresas alavanquem suas performances. Por outro
lado, quando utilizadas para coonestar pagamentos de origem escusa, nada mais
são que ardilosas maneiras de pagamento de propinas por lobbies já executados
ou em projeto. Quanto mais influente o “consultor”, maior o valor pago pela
“consultoria”.
Luís Fernando Veríssimo é
declaradamente partidário dos governos que ascenderam no primórdio do século
XXI. Avesso ferrenho das manobras torpes que prejudicaram tanto essas
autoridades em particular, como o país em seu todo. Por esse motivo se indignou
com a corrupção que campeava (criou os personagens “Corrupião Corrupto” e a
“Velhinha de Taubaté”, incompreensivelmente desativados em 2002”). Os desmandos
tiveram prosseguimento em forma avassaladora. Numa de suas colunas desabafou:
“Ai que saudade... do tijolinho de banana, do meu autorama, do cinerama, do
Mário Quintana e da
Petrobras PRÉ-LAMA”.
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
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