segunda-feira, 29 de maio de 2017

QUANDO O INVEROSSÍMIL ACONTECE





QUANDO O INVEROSSÍMIL ACONTECE
Quando nos deparamos com o inverossímil, beliscamo-nos para ter certeza de que não estamos sonhando.  Por mais que o façamos, desta vez, apenas colecionaremos hematomas e um sentimento de impotência ante o que parecia inimaginável. Sabemos que o pesadelo não é um sonho.
Abrindo a Zero Hora de 13/03/2.017 me deparei com texto de Túlio Milman: “Dizer que doação oficial de campanha não pode ser corrupção é o mesmo que apresentar um cheque COM fundos e garantir que o dinheiro, seja qual for a origem, é legal.                                                     A questão é só uma: de onde veio a verba e com o que o beneficiário se comprometeu, ou já deu em troca?”                                                                                                                                              O difícil, no caso dos políticos, é provar.
Há casos que demonstram ser evidentes desmandos e, imediatamente, sofismas vêm à tona para tentar explicá-los ou justificá-los. No mais recente: o Senador Valdir Raupp (PMDB-RO) se tornou réu após ser acusado de receber propina por meio de doações registradas no Tribunal Superior Eleitoral (STE) por intermédio do Caixa 1. Mas os Ministros deste Tribunal, de forma exemplar para futuros desmandos, não consideraram esta manobra legal.
Gravado em Paris e veiculado no Fantástico de 17/06/2.005, Lula defendeu o PT pelo uso do Caixa 2 para financiar campanhas, o tesoureiro Delúbio Soares confirmou. Textualmente o então Presidente declarou: “O que o PT fez, no ponto de vista eleitoral, é o que é feito no Brasil sistematicamente.”
O Presidente do TSE, Gilmar Mendes, disse em entrevista à BBC Brasil que empresas fazem “opção” de doar para campanhas por meio do caixa 2 (fora da contabilidade oficial) para evitar serem “achacadas” por outros políticos, principalmente na esfera governamental.
Luciano Feldens, Advogado de Marcelo Odebrecht afirmou que COLABORAÇÃO PREMIADA É REMÉDIO TARJA PRETA, indicando que há riscos maiores à saúde do consumidor se forem remédios ou, por similaridade, ao sistema eleitoral como é o caso. Inclusive, seu uso pode provocar dependência. Continua: “não podemos estabelecer uma relação – Caixa 1: não há lavagem, não há corrupção; Caixa 2: há lavagem, há corrupção, existem situações cruzadas. Há claramente a possibilidade de usar o Caixa 1 para pagar propina como favor pessoal ou para o Partido. No momento que se viabiliza essa quantia, seja no Caixa 1, seja no Caixa 2, trata-se de propina. E a propina sempre pressupõe ressarcimentos futuros”.
Desde que a Lava-Jato começou a desmontar o círculo vicioso: financiamento de campanha (benesses futuras) geralmente contratos para obras de altíssimo custo e superfaturadas, no Brasil ou no exterior, políticos e empresários viram-se enredados com a Lei e, muitos foram parar atrás das grades. Outros estão sob a iminência de se tornarem réus. As listas do Ministério Público Federal (MPF) tiram o sono (será?) dos que se locupletaram, quer recebendo propinas, quer açambarcando contratos.
Ramiro Barcelos, referindo-se a políticos da época escreveu o poema satírico “Amaro Juvenal”. Vergastava os que não os que não mereciam respeito por abusarem da autoridade ou, como atualmente, utilizavam seus postos para fins menos nobres.
Voltando à Lava-Jato, depois de serem trazidos a lume os dantescos malfeitos que  (parecia impossível) rebaixaram a maior empresa brasileira, a Petrobrás, da 12ª posição no ranking internacional para a 120ª, em pouco mais de uma década.  Patrocinaram, via BNDES, vultosas obras no exterior: pontes, portos, ferrovias, metrôs, hidrelétricas, etc, no valor de muitos bilhões de dólares, enquanto no Brasil, por alegada falta de verbas obras não eram concluídas, sequer iniciadas. O povo agora se pergunta: o que seria melhor para o Brasil: metrô em Porto Alegre ou em Caracas; modernizar portos como o de Santos ou construir Mariel em Cuba; Hidrelétricas na África ou aproveitar nosso potencial hídrico; ferrovias em vários países ou construir e remodelar as nossas (nem a Norte-Sul foi concluída); ponte do Guaíba ou sobre o rio Orinoco?
Parece que, finalmente, o povo está acordando e não quer mais “lamber a canga” nem “tornar-se amigo dela” como nos versos de Amaro Juvenal:
O povo é como boi manso,                                                                                                         Quando novilho atropela,                                                                                                               Bufa, pula e arrepela,                                                                                                           Escrapeteia e se zanga;                                                                                                                Depois, vem lamber a canga                                                                                                               
 E torna-se amigo dela,                                                                                                                   Home é bicho que se doma                                                                                                            Como qualquer outro bicho;                                                                                                           Mas logo larga de mão,                                                                                                                 Vendo no cocho a ração,                                                                                                                    Faz que não sente o rabicho.

NUNCA É TARDE PARA ESTANCAR A SANGRIA!

TODO O TIPO E ORIGEM DE SANGRIA!











sábado, 20 de maio de 2017

PSICOPATAS




Coluna publicada em "www.litoralmania.com.br"- 20/05/2.017

http://www.litoralmania.com.br/psicopatas-jayme-jose-de-oliveira/


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

PSICOPATAS

Psicopatas são incapazes de sentir emoções, podem até matar sem sentir culpa e vivem incógnitos ao seu lado. Personalidades por demais complexas, conseguem iludir os que os rodeiam, psiquiatras admitem que não há tratamento nem remédios eficazes para combater ou mesmo controlar esses personagens.                                Pergunta-se: como podem conviver numa sociedade que não admite seus atos? Possuem charme e têm facilidade em lidar com as palavras e convencer pessoas vulneráveis. Tornam-se líderes com frequência, tanto em presídios como em multinacionais. Inteligentes, seu QI costuma ser acima da média e sua habilidade para mentir é um fato que utilizam em proveito próprio. Não veem diferença entre sinceridade e falsidade. A falta de escrúpulos acrescida a essas características os induzem a sugarem até à medula os que conseguem incutir confiança. São o tipo que “chupa a laranja e joga fora o bagaço”.                                                              Psicopatas se dão bem em entrevistas de emprego, manipulam o ambiente de trabalho e conquistam a confiança dos chefes.  Muitos são homens de negócio bem-sucedidos, políticos adorados e líderes religiosos.                                                                                                                                                     Os psicopatas não se reconhecem como tal e dificilmente vão mudar de comportamento, diz o psiquiatra Augusto Feijó, de São Paulo. Também não existem tratamentos comprovados ou remédios que façam efeito.  Outro problema: quando levados a consultórios, os psicopatas acabam ficando piores. Diante da falta de perspectiva de cura, quem convive com psicopatas no dia a dia precisa vigiá-los constantemente. A dona de casa N. do Guarujá age assim com seu filho G. “Enquanto eu e o pai dele estivermos vivos, podemos tomar conta” diz... “Mas, e depois?”                                                                                                                         Exemplos não faltam. Um é o político corrupto que é adorado por eleitores. Cativa jornalistas durante as entrevistas e não sente culpa por rechear suas contas com dinheiro público. Quando confrontado com fatos insofismáveis, “a culpa sempre é dos outros”, inclusive se diz indignado pela traição. Para facilitar sua atuação distribui generosamente parte do dinheiro desviado e sua parte é oculta de diversas maneiras, inclusive com o uso de laranjas.                                                                                                                                                                                                                           O líder religioso que enriquece à custa de doações dos fiéis é outro. “Eles se costumam dar bem em ambientes pouco estruturados e com pessoas vulneráveis”, afirma o psiquiatra Oliveira Souza.                                                                                       Psicopatas não tão extremos, mas com a mesma falta de escrúpulos, estão em grandes empresas onde não raro costumam ocupar os postos mais altos. “Certamente há mais psicopatas no mundo dos negócios que na população em geral, diz o psiquiatra Hare que com Babiak escreveu a obra “Cobras de Terno, Quando Psicopatas vão Trabalhar”.

CARACTERÍSTICAS DE UM PSICOPATA – AUSÊNCIA DE CULPA
Nunca sentem arrependimento, nem remorsos. Os outros é que são os culpados de tudo o que acontece de mal e vivem com a certeza absoluta que nunca erram nem erraram. Não temem a punição por terem a certeza que tudo o que fazem tem um propósito benéfico (para eles, claro!).                                                                                   Quando denunciados, recusam a reabilitação ou qualquer tratamento e na impossibilidade de fugir, simulam uma mudança de caráter, para mais tarde voltarem aos padrões comportamentais que lhes são característicos e até, vingarem-se de quem tentou ajudar.

MESTRES DA MENTIRA
Para eles a realidade e a ilusão fundem-se num só conceito pelo qual regem seu mundo. São capazes de contar uma mentira como se estivessem a descrever uma situação real. Não mentem para fugirem de uma situação constrangedora, mas pura e simplesmente porque não sabem viver sem mentir.
“Embora qualquer pessoa possa mentir, temos de distinguir a mentira banal da mentira psicopática. O psicopata utiliza a mentira como uma ferramenta de trabalho. Normalmente está tão treinado e habilitado a mentir, que é difícil captar quando mente. Ele mente olhando nos olhos e com atitude completamente neutra e relaxada”. (Carla Rojas Braga, psicóloga – Zero Hora, 16/05/2.015)


Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

segunda-feira, 15 de maio de 2017

AS LISTAS DE SCHINDLER E JANOT



Coluna pubicada em www.litoralmania.com.br - 13/05/2.017


http://www.litoralmania.com.br/as-listas-de-schindler-e-de-janot/

AS LISTAS DE SCHINDLER E DE JANOT

“Poder é quando temos todas as justificativas para matar e não matamos”.
”Eu odiava a brutalidade, o sadismo, a insanidade dos nazistas. Eu apenas não podia ficar ali vendo eles destruírem um povo inteiro sem fazer nada”.
“Eu fiz o que pude fazer, eu fiz o que tinha de fazer, eu fiz o que minha consciência disse para fazer, apenas isso, nada mais”. (Oskar Schindler, 1908-1974)
As duas listas, de Schindler e de Janot, têm em comum o contraditório e similitudes. Ambas abordam autoridades nem tão imaculadas e indefesos necessitados de apoio para se livrarem das agruras imposta pelos sátrapas de plantão.
Se os 1.100 judeus, vítimas do nazismo, tiveram em Oskar Schindler, um candidato a sátrapa que não teve “estômago” para digerir tantas e tão cruéis atrocidades, nós, até o momento clamamos por um Schindler tupiniquim. VIRÁ???
Rodrigo Janot tem se esmerado em desnudar a máscara dos nossos sátrapas. Garimpa fatos escabrosos em meio a milhares de folhas, o conteúdo de delações premiadas. É uma avalanche que procura soterrar acusações que o público não apenas intui, tem sobejos motivos para conhecer e execrar. Tantos malfeitos apareceram num mar, não de lama, de dinheiro mal havido.
Juízes de primeira instância como Moro e Bretas têm se esmerado em analisar, julgar e condenar personalidades que só merecem nosso desprezo. E não são figuras de segundo escalão, não! Ex-governador, ex-presidente da Câmara de Deputados, ex-senador, ex-presidentes, dirigentes de ponta de empreiteiras, ninguém se sente seguro ao enfrentar esses juízes intimoratos. Não é por menos que, desesperadamente, procuram o “atalho” (???) do STF onde os processos se eternizam  e, no mais das vezes, as penas impostas são pífias, ridículas. A única exceção, o publicitário e empresário Marcos Valério está pagando alto – muitos anos de prisão – por ter confiado que seu silêncio em acobertar cúmplices mereceria o mesmo escudo e blindagem que protegeu malfeitores com proteção partidária. Ledo engano... era e continua sendo um “estranho no ninho”.
Não procede a alegação de petistas que há direcionamento partidário. Estão presos ex-governador (PMDB), ex-presidente da Câmara de Deputados (PMDB), condenados dos mais diversos partidos e, na última leva, os mais altos próceres dos ministérios do atual governo. O próprio presidente em exercício, Michel Temer, está no índex. Podemos lembrar Benjamim Franklin: “Quem dorme com cães, acordas com pulgas”. Haja inseticida!!!

Agora, para amenizar e nos lembrar que nem tudo são patranhas e, mesmo ricos podem ter consciência e arriscar não apenas seu patrimônio como a própria vida para dar uma contribuição altruísta: “A HISTÓRIA DA LISTA DE SCHINDLER”.
Oskar Schindler, um antigo militar polonês, bem relacionado com a SS, progride rapidamente nos negócios ao se apropriar de uma fábrica de panelas após o decreto que proibia aos judeus serem proprietários de negócios.
Schindler se valeu de sua fortuna crescente para "comprar" membros da Gestapo e dos altos escalões nazistas com bebida, mulheres e produtos do mercado negro. Seu afiado senso de oportunidade o levou a contratar um contador judeu – mais barato do que um profissional polonês.
Ele é Itzhak Stern, a mente por trás do que seria o começo de tudo. Com o argumento de que os trabalhadores judeus representavam uma lucratividade maior para o negócio ele convenceu Schindler a fazer destes, 100% da força de trabalho empregada em sua fábrica. Com o tempo, famílias judias passaram a trocar suas reservas financeiras por postos de trabalho (que os mantinha longe dos campos de concentração), permitindo que os negócios crescessem ainda mais.
A guerra avançou e Hitler lançou a campanha de "Solução Final" que acabaria definitivamente com os guetos, transferindo toda a população judia para os campos de concentração. Amon Goeth foi o comandante de um desses campos e um dos amigos mais próximos que Schindler teve entre os oficiais da Gestapo. Quando os trabalhadores de sua fábrica começaram a ser transportados para o campo de Plaszóvia Schindler convenceu Goeth a colocá-los num ambiente separado dos outros, um lugar onde ficassem mais protegidos.
Numa determinada noite, passeando perto de um dos parques de Cracóvia, Schindler assistiu à invasão do gueto da cidade. Dias mais tarde ele acompanhou uma ida de Goeth ao campo de concentração e assistiu às instruções que este recebeu para cremar os cadáveres dos mortos no massacre do gueto.
Schindler e o contador passaram a noite a digitar os nomes das famílias que seriam transportadas para a Tchecoslováquia em vez de irem para Auschwitz. Para cada um dos 1.100 nomes que comporiam a lista, Schindler viria a pagar uma boa soma de dinheiro a Goeth, que tomaria as medidas necessárias para o que o desvio de rota fosse bem sucedido.
Schindler fundou a fábrica de utensílios de cozinha Emalia para enriquecer com a guerra. Nela empregou entre 1939 e 1944 muitas centenas de judeus. Eram a sua força de trabalho, empregados especializados, mesmo que não o fossem, não deixavam de ser escravos. Pensou, durante algum tempo, que bastava aos seus judeus e aos outros manterem-se saudáveis para chegarem ao fim da guerra vivos. Percebeu que não, depois percebeu que iam morrer todos e usou o que ganhara com eles para salvar alguns. Mais de mil. Schindler escreveu os seus nomes numa lista e deu-lhes vida.


Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com

sábado, 6 de maio de 2017

O ASSASSINATO DE JÚLIO CÉSAR




Coluna publicada em "www.litoralmania.com.br"= 06/05/2.017

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PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

O ASSASSINATO DE JÚLIO CÉSAR – 06/05/2.017

No dia 15 de março de 44 a.C., Júlio César foi morto no senado romano, apunhalado por cerca de 60 senadores, entre eles seu protegido Marco Júnio Bruto. Jurista, escritor, político, general, descendente da deusa Vênus, amante de Cleópatra, Caio Júlio César foi um líder brilhante. Cultivou, ao mesmo tempo, o cinismo e a clemência, a crueldade e a cortesia, a hipocrisia e a civilidade, a esperteza e a sinceridade, a modéstia e o orgulho. A versão mais popular para suas últimas palavras é “Até tu, Brutus?, mas que, na verdade, foi uma frase criada por Shakespeare para sua peça Júlio César.
Atualmente, sabe-se a derradeira frase de César foi pronunciada em grego: “Até tu, meu menino?”, como bem mostra o trecho de Júlio César, livro da série Biografias L&PM:


Nesse instante, Túlio pega a toga de César com as duas mãos e descobre seus ombros, o que para os conjurados é o sinal de ataque. Casca, que se encontra atrás de César, saca o punhal e desfere o primeiro golpe junto ao ombro, mas o ferimento é superficial. A mão de Casca certamente tremeu. César pega imediatamente o punho que acaba de golpeá-lo e exclama em latim: “Pérfido Casca, que fazes?”, e Casca grita em grego: “Meu irmão, socorro!”. Os senadores, que em sua maioria não fazem parte do complô.  Impotentes e imóveis assistem à sequência e veem César cercado de conjurados armados de punhais e facas que o golpeiam nos olhos e no rosto. César defende-se, diz Plutarco, “como um animal feroz encurralado por caçadores e tenta afastar estas mãos armadas”. Todos, é fato, querem desferir um golpe para provar que participaram deste assassinato de modo pessoal e eficaz. Neste momento, todos consideram César uma vítima maléfica que deve ser sacrificada para que viva a República. São tão numerosos e acham-se tão amontoados que acabam, como tubarões, despedaçando a presa, logo se cobrem de sangue. Bruto, que se aproxima de César tem a mão ferida, mas pode ainda desferir contra seu protetor, contra seu pai adotivo, o golpe de misericórdia, apunhalando-o na virilha. Ao vê-lo, César exclama, não em latim, como sempre se pensou, mas em grego, segundo numerosos testemunhos: “Até tu, meu menino?” (e não meu filho, como é admitido), testemunhando sua trágica incredulidade. É então que, diante da última traição, César abandona a luta, cobre o rosto com uma aba da toga e entrega-se às lâminas dos assassinos que acabam por transpassar seu corpo sem vida.
DISCURSO DE MARCO ANTÔNIO NO FUNERAL DE JULIUS CESAR
O magnífico texto do discurso de Marco Antônio foi extraído da peça Júlio César, de Shakespeare.
Amigos, romanos, cidadãos deem-me seus ouvidos. Vim para enterrar César, não para louvá-lo. O bem que se faz é enterrado com os nossos ossos, que seja assim com César. O nobre Brutus disse a vocês que César era ambicioso. E se é verdade que era, a falta era muito grave, e César pagou por ela com a vida, aqui, pelas mãos de Brutus e dos outros. Pois Brutus é um homem honrado, e assim são todos eles, todos homens honrados. Venho para falar no funeral de César. Ele era meu amigo, fiel e justo comigo.
Mas Brutus diz que ele era ambicioso. E Brutus é um homem honrado. Ele trouxe muitos prisioneiros para Roma que, para serem libertados, encheram os cofres de Roma. Isto parecia uma atitude ambiciosa de César? Quando os pobres sofriam César chorava. Ora a ambição torna as pessoas duras e sem compaixão. Entretanto, Brutus diz que César era ambicioso. E Brutus é um homem honrado.
Vocês todos viram que na festa do Lupercal, eu, por três vezes, ofereci-lhe uma coroa real, a qual ele por três vezes recusou. Isto era ambição? Mas Brutus diz que ele era ambicioso, e Brutus, todos sabemos, é um homem honrado. Eu não falo aqui para discordar do que Brutus falou. Mas eu tenho que falar daquilo que eu sei. Vocês todos já o amaram e tinham razões para amá-lo. Qual a razão que os impede agora de homenageá-lo na morte?
"Neste momento Marco Antônio faz uma pausa no discurso, e as pessoas do povo começam a refletir sobre o que ele disse, e a questionar se César tinha afinal merecido a morte que teve. Passado este interlúdio retorna Marco Antônio a falar."
Ontem, a palavra de César seria capaz de enfrentar o mundo, jaz aqui morto. Ah! Se eu estivesse disposto a levar os seus corações e mentes para o motim e a violência, eu falaria mal de Brutus e de Cassius, os quais, como sabem, são homens honrados. Não vou falar mal deles. Prefiro falar mal do morto. Prefiro falar mal de mim e de vocês do que destes homens honrados.
Mas, eis aqui, um pergaminho com o selo de César. Eu o achei no seu armário. É o seu testamento. Quando os pobres lerem o seu testamento (porque, perdoem-me, eu não pretendo lê-lo), eles se arrojarão para beijar os ferimentos de César, e molhar seus lenços no seu sagrado sangue.
"O povo reclama de Marco Antônio e exige que ele o leia."
Tenham paciência amigos, mas eu não devo lê-lo. Vocês não são de madeira ou de ferro, e sim humanos. E, sendo humanos, ao ouvir o testamento de César vão se inflamar, ficarão furiosos. É melhor que vocês não saibam que são os herdeiros de César! Pois se souberem... o que vai acontecer? Então vocês vão me obrigar a ler o testamento de César? Então façam um círculo em volta do corpo e deixem-me mostrar-lhes César morto, aquele que escreveu este testamento.
Cidadãos. Se vocês têm lágrimas, preparem-se para soltá-las. Vocês todos conhecem este manto. Vejam, foi neste lugar que a faca de Cassius penetrou. Através deste outro rasgão, Brutus, tão querido de César, enfiou a sua faca, e, quando ele arrancou a sua maldita arma do ferimento, vejam como o sangue de César escorreu. E Brutus, como vocês sabem, era o anjo de César. Oh! Deuses, como César o amava. O golpe de Brutus foi, de todos o mais brutal e o mais perverso.
Pois, quando o nobre César viu que Brutus o apunhalava, a ingratidão, mais que a força do braço traidor, parou seu coração. Oh! Que queda brutal meus concidadãos. Então eu e vocês e todos nós também tombamos, enquanto esta sanguinária traição florescia sobre nós. Sim, agora vocês choram. Percebo que sentem um pouco de piedade por ele. Boas almas. Choram ao ver o manto do nosso César despedaçado.
Bons amigos, queridos amigos, não quero estimular a revolta de vocês. Aqueles que praticaram este ato são honrados. Quais queixas e interesses particulares os levaram a fazer o que fizeram, não sei. Mas são sábios e honrados e tenho certeza que apresentarão a vocês as suas razões. Eu não vim para roubar seus corações. Eu não sou um bom orador como Brutus. Sou um homem simples e direto, que amo os meus amigos.
"Seguem-se novamente comentários das pessoas, já agora lamentando o assassinato e condenando os assassinos. Volta Marco Antônio”.
Aqui está o testamento, com o selo de César. A cada cidadão ele deixou 75 dracmas. Mais, para vocês ele deixou seus bens. Seus sítios neste lado do Tibre, com suas árvores, seu pomar, para vocês e para os herdeiros de vocês e para sempre. Este era César. Quando aparecerá outro como ele?
" Revoltada a massa sai rumo às casas dos conspiradores para vingar César,
O assassinato de Júlio César 7min18seg
Discurso de Marco Antônio – 8min24seg



Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado


A MELOR VIA


Coluna publicada em "www.litoralmana.com.br" - 29/04/2.017

http://www.litoralmania.com.br/a-melhor-via-jayme-jose-de-oliveira/



PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

A MELHOR VIA – 29/04/2.017

Nas últimas colunas transitamos sinuosamente tentando desviar obstáculos e desarmar as armadilhas que aguardam incautos viajantes em busca duma rota segura rumo ao futuro, que o presente não nos anima e o passado foi o que foi.
De um lado, os horrores do terrorismo, da corrupção, do “quero-o-meu” desbragado. Tentando um contraponto, numa luta de Davi contra Golias, vozes se erguem em defesa dos “sem voz”. O Papa Francisco atuante, Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Nelson Mandela e muitos mais no passado.
Creio, e nisso reside minha esperança, o Criador nos deu o livre-arbítrio para traçarmos nosso périplo pelo tempo e estamos avançando, apesar dos pesares. Se atentarmos que sacrifícios humanos em holocausto às divindades, como o de Isaac intentado pelo seu pai Abraão, eram considerados o suprassumo da religiosidade; que passar pelo fio da espada todos os habitantes de uma cidade derrotada era um final esperado; que a escravidão um hábito institucionalizado; o genocídio uma maneira de “purificar a raça”; etc., atitudes corajosas surgem como luzes no fim do túnel ressaltando o asco, o horror que tudo isso atualmente provoca.
Muitas foram as tentativas e tratados que se direcionaram a um convívio mais “humanizado” entre pessoas, grupos, facções e nações. Em NOSTRA AETATE, 1965, o Papa Paulo VI propõe o término definitivo das lutas religiosas que tantas guerras, morticínios, incompreensões causaram através do tempo.
“Todos somos criaturas de Deus”, uma verdade tão singela e tão difícil de admitir. Grenalizamos tudo.

DECLARAÇÃO NOSTRA AETATE SOBRE A IGREJA E AS RELIGIÕES NÃO-CRISTÃS 

Laços comuns da humanidade e inquietação religiosa do homem;
a resposta das diversas religiões não-cristãs e sua relação com a Igreja.
1. Hoje, que o género humano se torna cada vez mais unido e aumentam as relações entre os vários povos, a Igreja considera mais atentamente qual a sua relação com as religiões não-cristãs. E, na sua função de fomentar a união e a caridade entre os homens e até entre os povos, considera primeiramente tudo aquilo que os homens têm em comum e os leva à convivência.
Com efeito, os homens constituem todos uma só comunidade; todos têm a mesma origem, pois foi Deus quem fez habitar em toda a terra o inteiro género humano; têm também todos um só fim último, Deus, que a todos estende a sua providência, seus testemunhos de bondade e seus desígnios de salvação até que os eleitos se reúnam na cidade santa, iluminada pela glória de Deus e onde todos os povos caminharão na sua luz. Os homens esperam das diversas religiões resposta para os enigmas da condição humana, os quais, hoje como ontem, profundamente preocupam seus corações: que é o homem? Qual o sentido e a finalidade da vida? Que é o pecado? Donde provém o sofrimento, e para que serve? Qual o caminho para alcançar a felicidade verdadeira? Que é a morte, o juízo e a retribuição depois da morte? Finalmente, que mistério último e inefável envolve a nossa existência, do qual vimos e para onde vamos?
Hinduísmo e Budismo
2. Desde os tempos mais remotos até aos nossos dias, encontra-se nos diversos povos certa percepção daquela força oculta presente no curso das coisas e acontecimentos humanos; encontra-se por vezes até o conhecimento da divindade suprema ou mesmo de Deus Pai. Percepção e conhecimento esses que penetram as suas vidas de profundo sentido religioso. Por sua vez, as religiões ligadas ao progresso da cultura, procuram responder às mesmas questões com noções mais apuradas e uma linguagem mais elaborada. Assim, no hinduísmo, os homens perscrutam o mistério divino e exprimem-no com a fecundidade inexaurível dos mitos e os esforços da penetração filosófica, buscando a libertação das angústias da nossa condição quer por meio de certas formas de ascetismo, quer por uma profunda meditação, quer, finalmente, pelo refúgio amoroso e confiante em Deus. No budismo, segundo as suas várias formas, reconhece-se a radical insuficiência deste mundo mutável, e propõe-se o caminho pelo qual os homens, com espírito devoto e confiante, possam alcançar o estado de libertação perfeita ou atingir, pelos próprios esforços ou ajudados do alto a suprema iluminação. De igual modo, as outras religiões que existem no mundo procuram de vários modos ir ao encontro das inquietações do coração humano, propondo caminhos, isto é, doutrinas e normas de vida e também ritos sagrados.
A Igreja católica nada rejeita do que nessas religiões existe de verdadeiro e santo. Olha com sincero respeito esses modos de agir e viver, esses preceitos e doutrinas que, embora se afastem em muitos pontos daqueles que ela própria segue e propõe, todavia, refletem não raramente um raio da verdade que ilumina todos os homens. No entanto, ela anuncia, e tem mesmo obrigação de anunciar incessantemente Cristo, «caminho, verdade e vida» (Jo. 14,6), em quem os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou consigo todas as coisas.
Exorta, por isso, os seus filhos a que, com prudência e caridade, pelo diálogo e colaboração com os seguidores doutras religiões, dando testemunho da vida e fé cristãs, reconheçam, conservem e promovam os bens espirituais e morais e os valores sócio culturais que entre eles se encontram.
A religião do Islão
3. A Igreja olha também com estima para os muçulmanos. Adoram eles o Deus Único, vivo e subsistente, misericordioso e omnipotente, criador do céu e da terra, que falou aos homens e a cujos decretos, mesmo ocultos, procuram submeter-se de todo o coração, como a Deus se submeteu Abraão, que a fé islâmica de bom grado evoca. Embora sem o reconhecerem como Deus, veneram Jesus como profeta, e honram Maria, sua mãe virginal, à qual por vezes invocam devotamente. Esperam pelo dia do juízo, no qual Deus remunerará todos os homens, uma vez ressuscitados. Têm, por isso, em apreço a vida moral e prestam culto a Deus, sobretudo com a oração, a esmola e o jejum.
E se é verdade que, no decurso dos séculos, surgiram entre cristãos e muçulmanos não poucas discórdias e ódios, este sagrado Concílio exorta todos a que, esquecendo o passado, sinceramente se exercitem na compreensão mútua e juntos defendam e promovam a justiça social, os bens morais e a paz e liberdade para todos os homens.
A religião judaica
4. Sondando o mistério da Igreja, este sagrado Concílio recorda o vínculo com que o povo do Novo Testamento está espiritualmente ligado à descendência de Abraão.
Com efeito, a Igreja de Cristo reconhece que os primórdios da sua fé e eleição já se encontram, segundo o mistério divino da salvação, nos patriarcas, em Moisés e nos profetas. Professa que todos os cristãos, filhos de Abraão segundo a fé, estão incluídos na vocação deste patriarca e que a salvação da Igreja foi misticamente prefigurada no êxodo do povo escolhido da terra da escravidão. A Igreja não pode, por isso, esquecer que foi por meio desse povo, com o qual Deus se dignou, na sua inefável misericórdia, estabelecer a antiga Aliança, que ela recebeu a revelação do Antigo Testamento e se alimenta da raiz da oliveira mansa, na qual foram enxertados os ramos da oliveira brava, os gentios. Com efeito, a Igreja acredita que Cristo, nossa paz, reconciliou pela cruz os judeus e os gentios, de ambos fazendo um só, em Si mesmo.
Também tem sempre diante dos olhos as palavras do Apóstolo Paulo a respeito dos seus compatriotas: «deles é a adoção filial e a glória, a aliança e a legislação, o culto e as promessas; deles os patriarcas, e deles nasceu, segundo a carne, Cristo» (Rom. 9, 4-5), filho da Virgem Maria. Recorda ainda a Igreja que os Apóstolos, fundamentos e colunas da Igreja, nasceram do povo judaico, bem como muitos daqueles primeiros discípulos, que anunciaram ao mundo o Evangelho de Cristo.
Segundo o testemunho da Sagrada Escritura, Jerusalém não conheceu o tempo em que foi visitada; e os judeus, em grande parte, não receberam o Evangelho; antes, não poucos se opuseram à sua difusão. No entanto, segundo o Apóstolo, os judeus continuam ainda, por causa dos patriarcas, a ser muito amados de Deus, cujos dons e vocação não conhecem arrependimento. Com os profetas e o mesmo Apóstolo, a Igreja espera por aquele dia, só de Deus conhecido, em que todos os povos invocarão a Deus com uma só voz e «o servirão debaixo dum mesmo teto» (Sof. 3,9).
Sendo assim tão grande o património espiritual comum aos cristãos e aos judeus, este sagrado Concílio quer fomentar e recomendar entre eles o mútuo conhecimento e estima, os quais se alcançarão sobretudo por meio dos estudos bíblicos e teológicos e com os diálogos fraternos.
Ainda que as autoridades dos judeus e os seus seguidores urgiram a condenação de Cristo à morte não se pode, todavia, imputar indistintamente a todos os judeus que então viviam, nem aos judeus do nosso tempo, o que na Sua paixão se perpetrou. E embora a Igreja seja o novo Povo de Deus, nem por isso os judeus devem ser apresentados como reprovados por Deus e malditos, como se tal coisa se concluísse da Sagrada Escritura. Procurem todos, por isso, evitar que, tanto na catequese como na pregação da palavra de Deus, se ensine seja o que for que não esteja conforme com a verdade evangélica e com o espírito de Cristo.
Além disso, a Igreja, que reprova quaisquer perseguições contra quaisquer homens, lembrada do seu comum património com os judeus, e levada não por razões políticas mas pela religiosa caridade evangélica. Deplora todos os ódios, perseguições e manifestações de antissemitismo, seja qual for o tempo em que isso sucedeu e seja quem for a pessoa que isso promoveu contra os judeus.
De resto, como a Igreja sempre ensinou e ensina, Cristo sofreu, voluntariamente e com imenso amor, a Sua paixão e morte, pelos pecados de todos os homens, para que todos alcancem a salvação. O dever da Igreja, ao pregar é, portanto, anunciar a cruz de Cristo como sinal do amor universal de Deus e como fonte de toda a graça.
A fraternidade universal e a reprovação de toda a discriminação racial ou religiosa.
5. Não podemos, porém, invocar Deus como Pai comum de todos, se nos recusamos a tratar como irmãos alguns homens, criados à Sua imagem. De tal maneira estão ligadas a relação do homem a Deus Pai e a sua relação aos outros homens seus irmãos, que a Escritura afirma: «quem não ama, não conhece a Deus» (1 Jo. 4,8).
Carece, portanto, de fundamento toda a teoria ou modo de proceder que introduza entre homem e homem ou entre povo e povo qualquer discriminação quanto à dignidade humana e aos direitos que dela derivam.
A Igreja reprova, por isso, como contrária ao espírito de Cristo, toda e qualquer discriminação ou violência praticada por motivos de raça ou cor, condição ou religião. Consequentemente, o sagrado Concílio, seguindo os exemplos dos santos Apóstolos Pedro e Paulo, pede ardentemente aos cristãos que, «observando uma boa conduta no meio dos homens. (1 Ped. 2,12), se‚ possível, tenham paz com todos os homens, quanto deles depende, de modo que sejam na verdade filhos do Pai que está nos céus.
Roma, 28 de outubro de 1965                                                                      
Papa Paulo VI

P.S.: Submeter-me-ei a tratamento oftalmológico (cirurgia de cataratas) a partir do dia 27/04 que vetarão meu acesso a computador e televisão. Redigi colunas a serem publicadas no período que versarão sobre assuntos atemporais abordando assuntos gerais.


Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado