Coluna publicada em "www.litoralmania.com" - 11/01/2.017
http://www.litoralmania.com.br/a-escolha-de-sofia-jayme-jose-de-oliveira/
“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
A ESCOLHA DE
SOFIA
Trata
do dilema de Sofia Zawistowka, uma mãe polonesa presa no campo de concentração
de Auschwitz, durante a 2ª Guerra Mundial. Um sodado nazista ofereceu a opção
de escolher um de seus dois filhos para sobreviver. Se recusasse, ambos seriam
mortos.
No
dia 01/01/17 ocorreu uma rebelião seguida do massacre de 56 prisioneiros num
confronto entre gangues no Complexo Prisional Anísio Jobim (Compaj) em Manaus –
AM. A situação nos presídios brasileiros, de péssima qualidade e superlotação
inconcebível desemboca em rebeliões e nessas os ajustes de contas entre facções
rivais é uma constante.
A
ONU divulgou um comunicado cobrando das autoridades brasileiras uma
investigação imediata e efetiva dos fatos e responsabilidades. O Papa Francisco
destacou estar preocupado e salienta que as prisões devem ser lugares de
reeducação, preparando os apenados para a volta à vida após cumprimento da
pena.
O
Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) é gerido por Parceria
Público-Privada (PPP) com um custo que beira R$ 5 mil mensais por apenado. A
direção do complexo alertou as autoridades sobre o risco de rebelião entre o
Natal e Ano Novo, tomando providências ao seu alcance para evitar. Os responsáveis
pela segurança estadual não responderam nem requisitaram auxílio federal.
Comenta-se – e não foi desmentido – que o líder da facção Família do Norte
(FDN) foi financiador na última eleição, garantindo 100 mil votos.
Aqui
entra em foco uma legítima “Escolha de Sofia”: a população se divide entre os
que consideram aceitáveis as mortes - “bandido bom é bandido morto” - e os que
deploram o ocorrido, considerando que apenados sob tutela do Estado devem ter
sua incolumidade garantida pelo Poder Público.
Deixo
a cada um sua “Escolha de Sofia”.
Juristas,
inclusive a presidente do STF Carmem Lúcia, consideram inadmissível a situação
dos presídios brasileiros e têm suas razões. A construção de novas unidades
esbarra no alto custo – não há verbas disponíveis suficientes. Aqui uma opinião
pessoal: não há necessidade de “Hotéis 5 Estrelas” para abrigar apenados.
Alojamentos baratos, tipo “minha-casa-minha-vida”, cercadas e vigiadas com
rigor máximo, amenizariam o problema, localizadas em locais distantes de
cidades para facilitar a vigilância e diminuir os custos. Não podem ficar longe
dos domicílios dos apenados para facilitar visitas de familiares? Não vejo a
mesma preocupação com prisioneiros VIPs encarcerados em Curitiba, nem com
figurões do tráfico quando removidos para presídios de segurança máxima.
O
xerife se reelege sucessivamente desde 1.992, demonstrando a aprovação pública
ao projeto.
“In
médio stat virtus”. Nem tendas que não deem um mínimo de habitabilidade, nem
“Hotéis 5 Estrelas”.
Construções elogiadas quando destinadas a
trabalhadores honestos em programas sociais do governo federal são, não apenas
elogiadas, mas estrondeadas aos quatro ventos. Poderiam servir de modelo e uma
solução economicamente viável, a não ser que sejam consideradas indignas para
acolher delinquentes. Deixo ao critério de cada um o julgamento.
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