Coluna publicada em "www.litoralmania.com.br" - 21/01/2.017
http://www.litoralmania.com.br/a-escolha-de-sofia-2-jayme-jose-de-oliveira/
A ESCOLHA DE
SOFIA 2
O rescaldo do incêndio provocado pelos massacres em que
presidiários – não policiais – trucidaram-se com selvageria, pipocaram análises
sobre as causas, consequências e culpabilidade do horror. A onda predominante
dos comentários pende visivelmente no sentido de encobrir a culpa dos autores e
direcionar para as autoridades que não previram nem coibiram e à sociedade que
não lhes oferece alternativas ao crime.
A escritora Marina Colasanti insiste: “Não basta
perguntar quem eles são, indaguemos quem somos nós”.
Flávio Tavares, jornalista e escritor, mais equilibrado e
sem usar óculos cor de rosa: “O horror tem o poder de nos despertar da
letargia, mas nem mesmo assim vemos a cor do sol. O massacre de Manaus fez até
o papa Francisco nos alertar sobre o abismo à nossa frente, mas continuamos
inertes, como se a violência caísse do céu como a chuva, sem nossa
interferência. Talvez a natureza humana leve ao crime,
tal como Caim e Abel o mostram. Os preceitos religiosos e as leis surgiram para
coibir a maldade e permitir o convívio. No país em que tudo pode e em que é
“feio” haver normas de comportamento e de convivência, tudo hoje é diferente. A
libertinagem substituiu a liberdade. O professor já não aponta o erro do aluno
pois “fere a dignidade”. Quem sabe não pode ensinar a quem nada sabe. Os pais
não podem repreender os filhos e transmitir-lhes modelos de vida. A correção é
malvista. (Zero Hora, 07/01/2.017)
O Estado Brasil nunca foi um paradigma a ser apregoado
aos ventos. “Sirvam nossas façanhas – e costumes – de exemplo, a toda terra” é
uma falácia que se permite ao desplante de comemorar uma derrota. A bravura da
nossa gente já foi inquestionável. Hoje, após sucessivos governos – de todos os
partidos – que malversaram recursos e distribuíram benesses a correligionários
e aliados de ocasião, deixando a conta para ser paga pelos cidadãos que não se aninham
entre os “mais iguais”, CHEGOU A HORA DE DAR UM BASTA! Assim como na represa de
Samarco, o dique rompeu e o represado inundou a jusante. Não pode mais haver tergiversação. A desagregação do sistema penitenciário é apenas um sintoma do que
subjaz. A sociedade brasileira, cansada de viver sob o tacão duma ditadura rendeu-se
ao canto da sereia entoado pela “Constituição Cidadã de Ulysses Guimarães. Ao
fugir do autoritarismo abriram-se as comportas da permissividade. Silenciaram
as vozes que clamavam por justiça e decidiu-se que é “proibido proibir”.
Jogou-se sobre as vítimas o peso das mazelas sociais, as costas dos bandidos
foram aliviadas. Afinal de contas, são “vítimas da sociedade” e deles não se
pode exigir outra conduta. Nossos policiais não temem enfrentar os
bandidos, são as críticas e as manchetes ofensivas que os inibem. Quando um
policial é morto em confronto, isso faz parte dos riscos aos quais se expõe.
Quando malfeitor sucumbe é prova de truculência inadmissível.
Antes da carnificina de Manaus, Roraima e outras que
seguirão houve o desmonte e o estupro da ordem. Recebem aplausos dos que
consideram os “direitos humanos” dos malfeitores mais importantes que os das
pessoas direitas. Foram décadas em que se solapou o verdadeiro significado da
ordem – tornou-se um palavrão – e, como resultado, os que nos deveriam proteger
sentem a necessidade de serem protegidos... e sabem que não são, nem serão. Se,
no estrito cumprimento do dever resultar um delinquente “vítima”, o policial é
encaminhado a um longo e desgastante processo de readequação psicológica.
A ironia suprema segue gargalhando de uma nação que se
extraviou a ponto de perder para as facções criminosas até o controle dos
presídios. E cogita-se indenizar os trucidados pelos próprios apenados na luta interna pelo poder. O governador do Amazonas anunciou que vai
indenizar (RS 50 mil por cabeça) as famílias dos bandidos mortos no Complexo
Penitenciário Anísio Jobim. O governador José Melo mandou pagar todo o mundo.
Ele cumpre dispositivos da Constituição Federal e decisões do Supremo Tribunal
de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF).
É inquestionável que os assassinatos, decapitações e
esquartejamentos foram executados por apenados. Fácil será identificá-los.
Considerar-se-á o extermínio um agravante ou, mais uma vez, será solicitada
leniência?
Nenhum comentário:
Postar um comentário