“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
OS REIS ESTÃO NUS
Estávamos tão habituados
a ver a justiça com dois pesos e duas medidas: Rigorosa com os menos abonados,
os três pês (pretos, pobres e prostitutas), que o desfecho da Ação Penal 470
deixou a maioria boquiaberta. Prenunciaria uma nova era?
Agora estruge o
julgamento dos réus do “petrolão”. Cairia o raio duas vezes no mesmo lugar?
Muitos duvidavam. DUVIDAVAM...
O jornalista José
Roberto Guzzo, diretor editorial do grupo EXAME examina o reverso. Em vez de
focar com primazia o fato de, em tão curto lapso de tempo, dois escândalos
tonitruantes abalarem o país sugerindo um estado de anomia endêmica, defende o
oposto.
“Há sinais concretos que o espetacular surto de corrupção dos últimos anos está oferecendo uma oportunidade ao Brasil do futuro a deixá-lo mais resistente que jamais foi às epidemias de criminalidade oficial causadas pelos que mandam no governo, dentro e fora dele, e que chegaram agora ao seu grau de intensidade máxima”. (sic)
“Há sinais concretos que o espetacular surto de corrupção dos últimos anos está oferecendo uma oportunidade ao Brasil do futuro a deixá-lo mais resistente que jamais foi às epidemias de criminalidade oficial causadas pelos que mandam no governo, dentro e fora dele, e que chegaram agora ao seu grau de intensidade máxima”. (sic)
Relembrando: Em 1.996
Paulo Francis denunciou corrupção na Petrobras, FHC era o presidente, Geraldo
Brindeiro o Procurador Geral da República, nenhuma
autoridade veio a público para esclarecer as acusações, fosse para mostrar que
Paulo Francis tinha razão, ou para dizer que estava errado. Ninguém correu
riscos, não fez perguntas, nem trouxe respostas, nem confrontou Joel Rennó, o
presidente da Petrobras que entrou com ação na Justiça contra o jornalista
porque se considerou ofendido pelas acusações.
Paulo Francis falou a verdade? Mentiu? Exagerou? Não sabemos.
O Brasil pode estar
ganhando muito mais do que perdeu com a descida da Petrobras aos nove círculos
do inferno para onde foi arrastada durante os últimos governos da República.
Nunca se roubou tanto da brava gente brasileira, embora se tenha roubado sempre
─ e provavelmente se continuará roubando enquanto o país, na prática, for
propriedade do “Estado” e obedecer à sua regra número 1, pela qual é obrigatório,
para quem quer produzir alguma coisa, PEDIR LICENÇA A QUEM NÃO PRODUZ NADA.
Mas há sinais concretos
de que o espetacular surto de corrupção dos últimos anos, está oferecendo uma
oportunidade inédita ao Brasil do futuro ─ a de deixá-lo mais resistente do que
jamais foi às epidemias de criminalidade oficial causadas pelos que mandam no
governo, dentro e em volta dele, e que agora chegaram ao seu grau de
intensidade máxima.
Essa recompensa será a
passagem do país a uma situação até agora praticamente desconhecida na história
brasileira: a de funcionamento pleno de um estado de direito no território
nacional. O trabalho para isso está sendo feito numa modesta jurisdição local,
a de Curitiba, pelo juiz Sérgio Moro, titular da 13ª Vara da Justiça Federal,
pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal.
Mas, por maior que seja
a perda, sempre será apenas dinheiro ─ e a sabedoria popular diz que tudo o que
pode ser pago com dinheiro é barato. Caras, mesmo, são aquelas coisas que o
dinheiro não consegue comprar. Uma das mais preciosas é a segurança trazida
pelos regimes em que o cidadão vive, no dia a dia da vida real, sob o comando
da lei. Não é possível haver civilização se não há estabilidade, e não é
possível haver estabilidade sem um sistema judicial que funcione com clareza,
para todos e durante o tempo inteiro.
O esforço do juiz Moro
no processo do petrolão, junto com os procuradores federais e os agentes da PF,
está colocando a sociedade brasileira sob o império da lei. ISTO NÃO TEM PREÇO.
Agir dentro da lei ─ é o
que o Judiciário federal está fazendo, e é por isso, justamente, que sua
conduta está sendo tão decisiva para o avanço do estado de direito no Brasil de
hoje. Os fatos, aí, são perfeitamente claros. Todas as decisões do juiz Moro, sem
nenhuma exceção, estão sujeitas ao julgamento de tribunais que ficam acima
dele; os advogados dos acusados têm o direito de recorrer a essas autoridades
superiores contra qualquer dos seus despachos, e vêm fazendo isso desde que o
processo começou. Em praticamente todos esses recursos as decisões de Moro
foram confirmadas.
Seu trabalho está sendo
vigiado o tempo todo pelos 27 desembargadores das oito turmas do Tribunal
Regional Federal da 4ª Região, com sede em Porto Alegre, mais os 33 ministros
do Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, e, no fim da linha, os onze
ministros do Supremo Tribunal Federal. Além disso, ele despacha sob o olhar
direto dos onze procuradores federais e dez delegados da PF, pelo menos, que
dão expediente na Operação Lava-Jato ─ ao todo, contando com ele próprio, um
exército de 93 pessoas. O que mais estaria faltando?
É incompreensível,
também, alegar arbitrariedade, violência contra os acusados ou descaso com a
produção de provas quando nada menos que 28 cidadãos, todos altamente postados
na vida, concordaram até agora, com a plena assistência de seus advogados, em
confessar suas culpas, devolver dinheiro ganho ilegalmente e denunciar
cumplicidades nos delitos que praticaram. Réus já receberam sentenças das quais
não vão apelar. Mais: a “delação premiada”, que levou os envolvidos a colaborar
com a Justiça para aliviar suas penas, só existe porque foi criada por lei. Não
é uma lei da “ditadura” ou do ex-presidente Fernando Henrique ─ é a Lei
12.850, sancionada em 2.013 por ninguém menos que a própria presidente Dilma
Rousseff, que ainda na campanha eleitoral do ano passado a apresentava como uma
das suas grandes realizações e hoje se diz indignada com ela. Não é preciso
pensar mais do que dois minutos para ver que a ação da Justiça está fazendo
aparecer um país que jamais existiu antes por aqui.
A Odebrecht é o quarto
maior grupo empresarial do Brasil; faturou perto de 34 bilhões de dólares em
2.014, emprega cerca de 170.000 pessoas diretamente e influi nos negócios de
centenas de outras empresas. Desde quando um dos empresários mais potentes do
Brasil, íntimo do primeiríssimo escalão do poder, fala com dois ex-presidentes
da República e não consegue tirar o próprio filho da cadeia?
Marcelo Odebrecht não está preso porque é rico
e preside uma empresa gigante. Está preso porque a Justiça, com apoio em fatos,
investiga quanto ele está devendo ao Código Penal.
O tiroteio disparado
contra Sérgio Moro é uma das mais agressivas campanhas em favor da negação da
Justiça que o Brasil já conheceu. É também a comprovação de quanto a ideia de
viver sob o império da lei é inaceitável para as forças que mandam na vida
pública brasileira.
Vale, por exemplo, dizer
que o combate à corrupção na Petrobras está fazendo o Brasil perder “1% do
PIB”, como descobriu a presidente Dilma. A Lava-Jato não pode “paralisar” a
economia brasileira, dizem lideranças do PT e do governo ─ por essa maneira de
ver as coisas, a economia só crescerá se a ladroagem estiver liberada.
No entender de
respeitáveis juristas, o sujeito que “está acostumado com um bom padrão de vida
e é posto numa sala que não tem nem privada”, como ocorre com os empreiteiros e
barões da Petrobras presos em Curitiba, “está sendo torturado”. Para
aperfeiçoar seu argumento, disse que UM PRESO É UM PRESO, E OUTRO PRESO É OUTRO
PRESO. “Se você viveu numa favela”, comparou, dá para aguentar uma cela
miserável; com um doutor já não é a mesma coisa.
O autor desses
pensamentos, enfim, parece ter falado por todos os que combatem os processos do
petrolão ao afirmar que “nem no tempo da ditadura” houve tanto desrespeito à
lei numa investigação criminal. É mesmo? Se os que dizem isso tivessem um dia
levado um bom inquérito policial-militar no lombo, notariam bem depressa as
diferenças entre uma época e outra.
É um bom sinal para o Brasil que, após um ano
inteiro de esforço, tenha dado resultado zero a tentativa de demonstrar que não
há corrupção no governo, ou só um pouquinho, e que tudo não passa de uma
armação contra os interesses populares. A campanha fracassou porque sempre foi
uma missão impossível ─ pretendeu convencer a maioria da população a ACREDITAR
QUE OS REIS NÃO ESTÃO NUS, e essa não é uma opção disponível. O trabalho do
juiz Sérgio Moro está mais vivo hoje do que estava quando começou. O ESTADO DE
DIREITO AGRADECE.
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