PROMETEU
A mitologia grega foi criativa e forneceu explicações
palatáveis para os mistérios que de outro modo seriam insondáveis. Deuses,
semideuses, heróis e toda a sorte de personalidades foram por ela criados e a
curiosidade humana satisfeita.
PROMETEU foi o responsável pela criação da espécie
humana, na Terra apenas existiam plantas e animais. Prometeu criou o homem a
partir do barro, tendo como modelo a forma dos deuses. Atena, deusa da
Sabedoria acrescentou-lhe a alma, o sopro divino que o diferenciou. Prometeu
ensinou ao homem os ofícios que lhe permitiram sobreviver e prosperar. Para
complementar sua obra, entrou no Olimpo, a morada dos deuses, roubou o fogo e o
cedeu aos homens. Zeus, o deus máximo, se irritou com a evolução daí
decorrente, planejou se vingar tanto dos homens como de Prometeu, seu criador,
foi acorrentado a um rochedo e Zeus enviou uma águia para lhe devorar o fígado
diariamente, que se regenerava durante a noite.
Anos passaram e a águia seguia devorando o fígado de Prometeu, que
permanecia acorrentado. Um dia, o centauro Quiron resolveu salvá-lo,
libertando-o das correntes e matando a águia com um arremesso certeiro de
flecha.
Este mito representa o surgimento da intelectualidade,
representada pelo fogo que ilumina as pessoas e lhes dá o poder de dominar os
seres vivos do planeta. O fogo continua sendo o símbolo que a humanidade
utiliza para a busca sem cessar da sapiência dos deuses e muitas religiões
vaticinam que um dia chegaremos lá. Júlio Verne, profeta, asseverou: “Tudo o que um homem pode imaginar, outros
homens poderão realizar”. Robert Oppenheimer, o Prometeu Americano, à
frente do Projeto Manhattan, que criou a bomba atômica, trouxe ao homem o
próprio Raio de Zeus e o mundo nunca mais foi o mesmo. Esta arma terrível
apressou o término da 2ª Guerra Mundial (1939-1945) ao fulminar as cidades de
Hiroshima e Nagazaki. Litle Boy e Fat Man causaram 215 mil mortes imediatamente
e o lançamento das bombas nucleares sobre as cidades de
Hiroshima e Nagasaki gerou consequências catastróficas, que perduram até hoje
devido à exposição às radiações. Muitos dos sobreviventes
desenvolveram diversos tipos de câncer. Os
filhos de sobreviventes nasceram com mutações genéticas graves.
Os japoneses não teriam se rendido
sem a ocorrência dessas hecatombes. No encerramento do filme “Oppenheimer”, dirigido por Christopher
Nolan o diretor disse: “Criei uma arma
que pode destruir o mundo”.
O macartismo tem suas origens no
período da História dos Estados Unidos que durou de 1950 a 1957 e foi
caracterizado por uma acentuada repressão política aos comunistas, assim como
uma campanha de medo à influência deles nas instituições estadunidenses e à
espionagem por agentes da União Soviética. Foi criado para descrever a campanha
anticomunista promovida pelo senador republicano Joseph McCarthy, do Wiscosin.
Logo extrapolou suas finalidades para um excesso de iniciativas similares,
algumas imprudentes e pouco fundamentadas. Durante a vigência do macarthismo
milhares de americanos foram acusados de serem comunistas ou simpatizantes.
Muitas pessoas tiveram suas carreiras destruídas.
Em 1954, Oppenheimer foi acusado de
ser comunista e até mesmo de ser espião soviético. Sabemos que, de 1930 a 1943,
era simpatizante e o fato de se arrepender de ter ajudado a criar a bomba
atômica e, preocupado com a escalada armamentista mundial, ter se tornado
defensor do controle mundial de armas nucleares contribuiu para a perseguição
que sofreu no país. Encarava a bomba de hidrogênio de maneira crítica,
considerando que poderia levar a humanidade, ou ao menos uma parte dela, ao
extermínio. George
Kenan, veterano diplomata e embaixador, pai da política de contenção americana
no pós-guerra contra a União Soviética, amigo e colega de longa data de
Oppenheimer ressaltou que ele seria bem recebido em centenas de centros
acadêmicos no exterior, perguntou-lhe se não havia pensado em fixar residência
em outro país. Retrucou, com lágrimas
nos olhos: “Droga, acontece que eu amo
este país”.
Com a frase: “Agora eu me tornei a Morte, destruidor de mundos”, Oppenheimer
demitiu-se do Projeto Manhattan. Dois anos depois foi eleito presidente da
Comissão para Energia Atômica estadunidense, cargo que exerceu até 1952, em
plena Guerra Fria.
Devido à sua antiga vinculação com os
comunistas, por ser um forte defensor do banimento total das armas nucleares e
um opositor à criação da bomba de hidrogênio, foi uma das vítimas da “caça às bruxas”. Entre abril e maio de
1954, após 19 dias de audiências secretas, a Comissão de Energia o físico teve
bloqueadas as credenciais o que levou ao
fim sua carreira científica. Por pouco escapou do destino dado ao casal Julius
e Ethel Rosemberg, que foram executados em 1953, após serem condenados por
espionagem. As acusações foram em relação à transmissão de informações sobre a
bomba atômica para a União Soviética.
A partir de 1959 exilou-se e viveu na
ilha de Saint John (Ilhas Virgens) com sua filha Toni e sua mulher Kitty.
Foi condecorado pela França como
oficial da Ordem Nacional da Legião de Honra em setembro de 1957 e, a 3 de maio
de 1962, pela Royal Society da Inglaterra.
Os últimos anos de sua vida foram
dedicados à reflexão sobre os problemas surgidos da relação entre a ciência e a
sociedade. Morreu de câncer na garganta aos 62 anos de idade, em 1967.
A ironia da odisseia de Oppenheimer
foi que uma vida dedicada à justiça social, à racionalidade e à ciência
acabaria por se tornar uma metáfora para a morte em massa sob uma nuvem em
forma de cogumelo.
FOI O PROMETEU AMERICANO.
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
Nenhum comentário:
Postar um comentário