“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
UTOPIAS
Quando, em 1516, Thomas Morus escreveu “Utopia”, descrevendo uma fictícia ilha
em forma de lua crescente onde não existia dinheiro e por conseguinte todos os
habitantes tinham direitos e oportunidades iguais para usufruir os bens e os
serviços à disposição da comunidade. Uma sociedade sem propriedade privada, sem
intolerância religiosa, na qual a razão era o critério para estabelecer
condutas sociais e não o autoritarismo do Rei ou da Igreja.
Considerando que o Rei, a nobreza e a Igreja viviam
num mundo de manifesta ostentação, riqueza e “dolce far niente” pode-se entender a tentativa de equalizar os
direitos para toda a sociedade, inclusive para a plebe que labutava em jornadas
de 16 horas diárias, sem descanso semanal, sem aposentadoria, sem nada que
garantisse o futuro depois de exauridas as forças.
Vejamos agora o quanto a “Utopia” era eivada de
injustiças: Se todos fossem iguais perante a lei, como admitir a existência de
escravos? Se todos tinham os mesmos deveres e oportunidades, como impedir a
ascensão social dos que para isso se esforçavam (filho de artesão jamais podia
almejar se tornar sacerdote ou membro do governo)? Não havia exército? Contratavam-se
mercenários a peso de ouro (ouro que depreciativamente era utilizado para
construir penicos) e se resolviam querelas com outros países e os vencidos eram
transformados em escravos.
Leiam “Utopia” e depois façam seu julgamento, não se
alinhem aos que nunca a leram e a consideram o suprassumo dos regimes. A “nova
utopia” também quer igualdade para todos, porém não somos colmeias e mesmo
nessas a ABELHA RAINHA, os zangãos e as operárias têm tarefas díspares e delas
não podem se eximir.
De que maneira se poderia organizar uma sociedade na
qual não houvesse empresários que geram empregos, judiciário que dirime
disputas e julga malfeitores (sempre houve e sempre haverá), legisladores que
elaboram leis que permitem um convívio onde todos têm possibilidades de prover
seu sustento e, ao verem declinar as forças, serem amparados por
aposentadorias?
A complexidade de uma sociedade exige diversidade de
funções, deveres e direitos. Fabricar, por exemplo, os utensílios do dia-a-dia
sem indústrias? Elaborar individualmente objetos simples – e necessários – como
talheres, louças, vestimentas e calçados? Isto sem adentrar no mais complexo,
edifícios e veículos, por exemplo?
CONTA OUTRA.
O que se faz necessário é encontrar um equilíbrio
estável e justo. Cada pessoa é única, com capacidades e disposições também
únicas. É tão risível querer que todos tenham as mesmas capacitações como
exigir que uma pessoa que nasceu com deficiências físicas compita uma maratona
em pé de igualdade com atletas. Para alcançarmos a possível convivência justa é
necessário que o Estado se atenha às suas atribuições, seja enxuto e do tamanho
necessário. Na atualidade, quando se abomina e combate o controle dos gastos
públicos a mensagem que se passa é de um desperdício descontrolado que já
ocorreu no passado e pelo qual estamos pagando no presente e legaremos para o
futuro. Quando se fala na flexibilização da Lei das Estatais a gente se
pergunta: a quem beneficiará, a quem interessa que políticos que perderam uma
eleição possam assumir cargos altamente remunerados em empresas estatais?
O Brasil tem 37 ministérios, os Estados Unidos 15, a
Alemanha 16 – e não se diga que este número reduzido impede o funcionamento
desses países, gigantes entre os gigantes.
Aumentar o número de ministérios e estatais permite a
distribuição farta de “benesses” para
facilitar costuras politicas rumo à “governabilidade”,
mas, também se traduz no aumento de impostos que geram preços majorados e
inflação crescente.
BASTA!
Empenhemo-nos em apoiar empresas estatais onde sejam
necessárias, imprescindíveis. Não sufoquemos as privadas, são as molas-mestras
do progresso, da geração de empregos, de uma sociedade justa, nosso escopo
maior.
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
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