segunda-feira, 10 de julho de 2023

UTOPIAS

   


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

UTOPIAS

Quando, em 1516, Thomas Morus escreveu “Utopia”, descrevendo uma fictícia ilha em forma de lua crescente onde não existia dinheiro e por conseguinte todos os habitantes tinham direitos e oportunidades iguais para usufruir os bens e os serviços à disposição da comunidade. Uma sociedade sem propriedade privada, sem intolerância religiosa, na qual a razão era o critério para estabelecer condutas sociais e não o autoritarismo do Rei ou da Igreja.

Considerando que o Rei, a nobreza e a Igreja viviam num mundo de manifesta ostentação, riqueza e “dolce far niente” pode-se entender a tentativa de equalizar os direitos para toda a sociedade, inclusive para a plebe que labutava em jornadas de 16 horas diárias, sem descanso semanal, sem aposentadoria, sem nada que garantisse o futuro depois de exauridas as forças.

Vejamos agora o quanto a “Utopia” era eivada de injustiças: Se todos fossem iguais perante a lei, como admitir a existência de escravos? Se todos tinham os mesmos deveres e oportunidades, como impedir a ascensão social dos que para isso se esforçavam (filho de artesão jamais podia almejar se tornar sacerdote ou membro do governo)? Não havia exército? Contratavam-se mercenários a peso de ouro (ouro que depreciativamente era utilizado para construir penicos) e se resolviam querelas com outros países e os vencidos eram transformados em escravos.

Leiam “Utopia” e depois façam seu julgamento, não se alinhem aos que nunca a leram e a consideram o suprassumo dos regimes. A “nova utopia” também quer igualdade para todos, porém não somos colmeias e mesmo nessas a ABELHA RAINHA, os zangãos e as operárias têm tarefas díspares e delas não podem se eximir.

De que maneira se poderia organizar uma sociedade na qual não houvesse empresários que geram empregos, judiciário que dirime disputas e julga malfeitores (sempre houve e sempre haverá), legisladores que elaboram leis que permitem um convívio onde todos têm possibilidades de prover seu sustento e, ao verem declinar as forças, serem amparados por aposentadorias?

A complexidade de uma sociedade exige diversidade de funções, deveres e direitos. Fabricar, por exemplo, os utensílios do dia-a-dia sem indústrias? Elaborar individualmente objetos simples – e necessários – como talheres, louças, vestimentas e calçados? Isto sem adentrar no mais complexo, edifícios e veículos, por exemplo?

CONTA OUTRA.

O que se faz necessário é encontrar um equilíbrio estável e justo. Cada pessoa é única, com capacidades e disposições também únicas. É tão risível querer que todos tenham as mesmas capacitações como exigir que uma pessoa que nasceu com deficiências físicas compita uma maratona em pé de igualdade com atletas. Para alcançarmos a possível convivência justa é necessário que o Estado se atenha às suas atribuições, seja enxuto e do tamanho necessário. Na atualidade, quando se abomina e combate o controle dos gastos públicos a mensagem que se passa é de um desperdício descontrolado que já ocorreu no passado e pelo qual estamos pagando no presente e legaremos para o futuro. Quando se fala na flexibilização da Lei das Estatais a gente se pergunta: a quem beneficiará, a quem interessa que políticos que perderam uma eleição possam assumir cargos altamente remunerados em empresas estatais?

O Brasil tem 37 ministérios, os Estados Unidos 15, a Alemanha 16 – e não se diga que este número reduzido impede o funcionamento desses países, gigantes entre os gigantes.

Aumentar o número de ministérios e estatais permite a distribuição farta de “benesses” para facilitar costuras politicas rumo à “governabilidade”, mas, também se traduz no aumento de impostos que geram preços majorados e inflação crescente.

BASTA!

Empenhemo-nos em apoiar empresas estatais onde sejam necessárias, imprescindíveis. Não sufoquemos as privadas, são as molas-mestras do progresso, da geração de empregos, de uma sociedade justa, nosso escopo maior.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado


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