“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
A POLUIÇÃO DOS
PLÁSTICOS
Os plásticos se tornaram substâncias tão importantes
na vida moderna que nem podemos imaginar um mundo sem eles. Em contraponto são
atualmente um pesadelo que se avoluma de maneira assustadora. Sua estabilidade
e resistência à desintegração, a grande vantagem que acabou sendo a escolha
preferencial para a confecção de artigos os mais diversos, desde produtos
usados na medicina, que salvam vidas ou as prolongam, tecidos que nos abrigam,
embalagens confiáveis, de duração quase ilimitada, componentes na indústria de
alta complexidade e até brinquedos que encantam nossas crianças e contribuem
para a sua educação e entretenimento, são também uma causa de poluição
extremamente preocupante pelo tempo que exigem para se decomporem.
A humanidade já produziu mais de 9 bilhões de
toneladas deles e 80% são descartados em lixões ou, pior, vão parar nos oceanos
onde levam séculos para se decompor e contaminam o planeta. No processo de
decomposição transformam-se em fragmentos microscópicos que são danosos à vida,
desde a marítima até a humana. Cada pessoa ingere ou inala uma média de 300
partículas diariamente. Ao longo de um mês, corresponde a 20 gramas.
Com toda a interação que um bebê tem com sua mãe, ele
na realidade se desenvolve como se estivesse em outro planeta porque está
separado da mãe pela placenta que funciona como um filtro poderosíssimo,
controlando o fluxo de nutrientes e impossibilitando que os vírus e bactérias o
agridam. Dentro do corpo da mãe há dezenas de trilhões de micróbios, mas a
placenta permite que se desenvolva num ambiente 100% estéril. Uma das
raríssimas exceções é representada pelos microplásticos. Quando a gestante
ingere esses fragmentos eles se espalham, chegam à placenta onde inibem um gene
chamado ESRRG que controla o crescimento do feto, com isso o bebê pode nascer
menor e corre o risco de desenvolver pressão alta, diabetes e doenças da
tireoide ao longo da vida.
Os plásticos estão presentes em todos os lugares, até
na neve dos Alpes e do Ártico. Um estudo da Universidade de Newcastle analisou
a quantidade presente nos peixes, mariscos, sal, cerveja, água, mel, açúcar e
concluiu que cada adulto ingere em média 20 gramas de plásticos por mês. Eles
já estão dentro de nós, 75% nas amostras de leite materno e 77% no sangue de
voluntários confirmam.
A ONU assinou o primeiro acordo internacional de
combate aos resíduos plásticos que inclui mais de 70 países e é o maior pacto
ambiental desde o Tratado de Paris, criado em 2015 para tentar frear as
emissões globais de CO2. Os países signatários até 2024 para definir um cronograma
de metas e averiguações. A União Europeia propôs a criação de uma série de leis
que obriguem a reciclagem de garrafas e limitam o uso de plástico em embalagens
as mais diversas.
Resíduos plásticos continuam poluindo o planeta, em
cada ano a humanidade fabrica 400 milhões de toneladas dele que se somam às 9,2
de bilhões já produzidos. Segundo estimativa da ONU, apenas 10% do plástico é
reciclado e 14% e incinerado para gerar energia. Todo o resto vai parar em
lixões e nos oceanos, onde leva centenas de anos para se decompor. As
esperanças para minimizar as consequências desse problema monstruoso está nas
descobertas científicas que prometem revolucionar a reciclagem do plástico como
ocorre com as latas de alumínio que, no Brasil, alcança a expressiva taxa de
98,7%.
Em coluna a seguir analisaremos iniciativas que
prometem, se não eliminar o problema – tarefa impossível – ao menos minimizá-lo
de forma efetiva.
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
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