sábado, 17 de junho de 2023

A POLUIÇÃO DOS PLÁSTICOS 2

 


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

A POLUIÇÃO DOS PLÁSTICOS 2

Em coluna anterior abordei o fato de que a placenta tem o poder de bloquear a contaminação do feto por micro-organismos, patogênicos ou não. Esse fato permite que ele se desenvolva livre de agressões externas.

A revista “Superinteressante”, edição 451, maio de 2023, traz subsídios que ampliam o poder de agressão dos nanoplásticos, eles podem penetrar no cérebro que é envolto por uma camada de células que bloqueiam a maioria das moléculas e micro-organismos. Alguns vírus como o HIV são capazes de atravessar esta barreira, mas isso é raro, só ocorre em casos avançados, na demência precoce causada pelo HIV.

Um novo estudo mostra que a barreira pode ser perfurada por algo onipresente: os nanoplásticos. Cientistas da Universidade de Viena, na Áustria, alimentam ratos de laboratório com isopor de até 0,01 mm. e duas horas mais tarde, submetidos a uma necropsia constatou-se que o plástico já havia se alojado nos seus cérebros. As consequências dessa infiltração continuam sendo pesquisadas.

Cientistas da Universidade de Rutgers, nos EUA, criaram um modelo que simula o funcionamento do sistema digestivo humano e nos mostraram que nanoplásticos misturados aos alimentos têm o poder de aumentar até 145% a absorção de gorduras e facilitam uma tendência à obesidade. O corpo humano é biologicamente propenso a ganhar peso e luta para impedir a perda dele. Este mecanismo funcionou bem por milhares de anos ajudando nossos antepassados a sobreviver em tempos de escassez. Nos tempos modernos nos tornamos capazes de produzir alimentos de sobra – e aí esse processo começou a prejudicar, a obesidade se tornou um problema sabendo-se que mais de 50% das pessoas têm sobrepeso e isso desencadeia uma série de contratempos para a saúde em geral. Para combater a obesidade foram criadas drogas, elas representam um volume fabuloso para os laboratórios. As novas drogas antiobesidade devem alcançar U$54 bilhões anuais segundo o banco americano Morgan Stanley. Criado para tratar o diabetes. O Ozempic virou moda para combater a obesidade, revelando uma grande eficiência. A euforia esconde dois riscos: ele precisa ser tomado pelo resto da vida (ou a pessoa engorda de novo) e os medicamentos desse tipo envolvem o risco de câncer. Continuam as pesquisas para confirmar essa possibilidade e a porcentagem de ocorrências constatadas.

Na madrugada do dia 15 de junho o Rio Grande do Sul foi assolado por uma tempestade avassaladora. Cidades tiveram casas destelhadas e até arrasadas, inclusive temos a lamentar mortes de cidadãos e milhares de desabrigados.

Ocorrências de menor porte, interrupções de fornecimento de energia elétrica em locais os mais diversos – tivemos uma na avenida Rudá, Capão da Canoa – e sobre isso queremos nos referir para agradecer os técnicos da CEEE Equatorial pela eficiência no conserto apesar do horário noturno, frio de enregelar cusco, pancadas de chuva e ventanias no transcurso. Ora direis, durante uma tragédia de tamanhas proporções uma queda de luz é ocorrência de pequena monta. Permitam-me discordar, o atendimento se tornou mais significativo exatamente por ocorrer durante uma tragédia onde os esforços se concentravam nas zonas mais conflagradas. Mesmo assoberbados, exaustos, os responsáveis pela solução do “pequeno problema” foram incansáveis e merecem nossa gratidão.

Em tempo, interrupção de energia elétrica resulta na falta de refrigeração comercial e doméstica. Os prejuízos materiais são de monta e PENSEM, POR FAVOR, medicamentos que requerem refrigeração ficam invalidados e podem inclusive, por sua falta, resultarem em óbito dos que deles dependem para sobreviver. Quantas pessoas diabéticas, por exemplo, podem morrer por falta de insulina (de uso diário) que impede a hiperglicemia de consequências fatais? É possível considerar de pequena monta o risco de óbito desses pacientes?

Reitero: MUITO OBRIGADO!

Jayme Josémai de Oliveira
cdjaymejo@gl.com
Cirurgião-dentista aposentado


quarta-feira, 14 de junho de 2023

A RECICLAGEM DOS PLÁSTICOS

 


 RECICLAGEM DE PLÁSTICOS

 Plástico descartado, que não é acumulado em lixões, segue em direção aos oceanos tomando “carona” nos rios e acabam se acumulando no que se denomina de “giros”. Existem cinco, dois no Atlântico, dois no Pacífico e um no Índico. O maior e mais poluído é o Giro do Pacífico Norte, alimentado pelos dejetos do Sudeste Asiático e dos Estados Unidos. Forma uma ilha de objetos plásticos do tamanho do estado do Amazonas.

A The Ocean Cleanup está tentando um método simples, mas muito eficaz, desde 2021. Arrastar uma rede de 4 metros de profundidade e 2,5 quilômetros de extensão para recolher o plástico. Segundo a ONG, dez redes em trabalho contínuo bastariam para limpar cada um dos cinco lixões oceânicos.

Segundo a revista Science, a bactéria ”idionella sakaiensis” pode quebrar as moléculas e digerir plásticos do tipo poli (PET), material usado em garrafas de refrigerante e água. Uma descoberta feita pelo grupo Kphei Oda, do Instituto de Tecnologia de Kioto, no Japão, utiliza duas enzimas, a petase e a metase para degradar e processar o PET em seis semanas.

Há vários experimentos que testam bactérias e enzimas para a degradação do plástico e o futuro se apresenta promissor.

Há várias tentativas de transformar plástico descartável em combustível desenvolvida pela startup alemã WASTX Plastic, uma tecnologia utilizada pela empresa alemã Biofabrik White Refinary. Sediada em Dresden, dedicou seis anos à testagem a um projeto que reduzisse os impactos do plástico que polui os oceanos. O resultado foi a criação de uma tecnologia capaz de transformar o lixo plástico em combustível e energia sustentável. Pode ser a solução global para o problema que preocupa as autoridades ambientalistas.

Os idealizadores Da WASTX Plastic pretendem, no futuro, trabalhar junto com hotéis e municípios para limpar praias repletas de lixo. Turistas e moradores locais seriam convidados a jogar seus resíduos plásticos em sacos e receberiam em troca uma pequena quantidade de dinheiro.

Com a WASTX a quantidade de lixo plástico diminuiria e o combustível produzido poderia ser utilizado para abastecer navios e geradores, trazendo benefícios para as comunidades.

A empresa responsável pela WASTX Plastic já tem contatos com países como a Austrália, Japão, Estados Unidos, Coreia e Turquia. A pretensão é expandir suas atividades pelo mundo através do processo ”Trash to cach” (lixo por dinheiro).

Além da Biofabrik, existem várias empresas – uma sediada no México que recicla plástico para gasolina, querosene e óleo diesel – também interessa às autoridades mundiais para implementar políticas e leis que transformem empresas verdes em comerciantes primários ou secundários no ciclo comercial mundial.

Considerando que a tecnologia WASTX Plastic permite transformar 1 quilograma de plástico em 1 litro de combustível, o processo se autofinancia e além de benéfico à natureza, é economicamente viável.

Uma equipe de pesquisadores da Universidade da Califórnia, liderada pela engenheira química e ambiental Kandiz Abdul-Aziz criou um método que transforma plástico em fertilizante: ele é misturado com palha de milho e se transforma num tipo de carvão extremamente poroso, ideal para fertilizar o solo.

Como todas as inovações, quando uma delas prospera, logo surgem inúmeras equivalentes que transformarão um problema em solução. Aguardemos o desenrolar de novos procedimentos, auxiliarão a despoluição do meio ambiente, gerarão inúmeros empregos e, no final, todos sairemos no lucro, a natureza e os nossos descendentes agradecerão.

Segundo a Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA, na sigla em inglês), cerca de 25 milhões de toneladas de resíduos são depositadas nos oceanos anualmente. Por isso, qualquer tecnologia capaz de oferecer outro destino ao lixo plástico é mais que benvinda, é URGENTE.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado


quinta-feira, 8 de junho de 2023

A POLUIÇÃO DOS PLÁSTICOS

   


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

A POLUIÇÃO DOS PLÁSTICOS

Os plásticos se tornaram substâncias tão importantes na vida moderna que nem podemos imaginar um mundo sem eles. Em contraponto são atualmente um pesadelo que se avoluma de maneira assustadora. Sua estabilidade e resistência à desintegração, a grande vantagem que acabou sendo a escolha preferencial para a confecção de artigos os mais diversos, desde produtos usados na medicina, que salvam vidas ou as prolongam, tecidos que nos abrigam, embalagens confiáveis, de duração quase ilimitada, componentes na indústria de alta complexidade e até brinquedos que encantam nossas crianças e contribuem para a sua educação e entretenimento, são também uma causa de poluição extremamente preocupante pelo tempo que exigem para se decomporem.

A humanidade já produziu mais de 9 bilhões de toneladas deles e 80% são descartados em lixões ou, pior, vão parar nos oceanos onde levam séculos para se decompor e contaminam o planeta. No processo de decomposição transformam-se em fragmentos microscópicos que são danosos à vida, desde a marítima até a humana. Cada pessoa ingere ou inala uma média de 300 partículas diariamente. Ao longo de um mês, corresponde a 20 gramas.

Com toda a interação que um bebê tem com sua mãe, ele na realidade se desenvolve como se estivesse em outro planeta porque está separado da mãe pela placenta que funciona como um filtro poderosíssimo, controlando o fluxo de nutrientes e impossibilitando que os vírus e bactérias o agridam. Dentro do corpo da mãe há dezenas de trilhões de micróbios, mas a placenta permite que se desenvolva num ambiente 100% estéril. Uma das raríssimas exceções é representada pelos microplásticos. Quando a gestante ingere esses fragmentos eles se espalham, chegam à placenta onde inibem um gene chamado ESRRG que controla o crescimento do feto, com isso o bebê pode nascer menor e corre o risco de desenvolver pressão alta, diabetes e doenças da tireoide ao longo da vida.

Os plásticos estão presentes em todos os lugares, até na neve dos Alpes e do Ártico. Um estudo da Universidade de Newcastle analisou a quantidade presente nos peixes, mariscos, sal, cerveja, água, mel, açúcar e concluiu que cada adulto ingere em média 20 gramas de plásticos por mês. Eles já estão dentro de nós, 75% nas amostras de leite materno e 77% no sangue de voluntários confirmam.

A ONU assinou o primeiro acordo internacional de combate aos resíduos plásticos que inclui mais de 70 países e é o maior pacto ambiental desde o Tratado de Paris, criado em 2015 para tentar frear as emissões globais de CO2. Os países signatários até 2024 para definir um cronograma de metas e averiguações. A União Europeia propôs a criação de uma série de leis que obriguem a reciclagem de garrafas e limitam o uso de plástico em embalagens as mais diversas.

Resíduos plásticos continuam poluindo o planeta, em cada ano a humanidade fabrica 400 milhões de toneladas dele que se somam às 9,2 de bilhões já produzidos. Segundo estimativa da ONU, apenas 10% do plástico é reciclado e 14% e incinerado para gerar energia. Todo o resto vai parar em lixões e nos oceanos, onde leva centenas de anos para se decompor. As esperanças para minimizar as consequências desse problema monstruoso está nas descobertas científicas que prometem revolucionar a reciclagem do plástico como ocorre com as latas de alumínio que, no Brasil, alcança a expressiva taxa de 98,7%.

Em coluna a seguir analisaremos iniciativas que prometem, se não eliminar o problema – tarefa impossível – ao menos minimizá-lo de forma efetiva.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado


CÍCERO

 


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

CÍCERO.

Considerado um dos maiores oradores da Roma Antiga, Marco Túlio Cícero nasceu em Arpino, Itália, no dia 3 de janeiro do ano 107 a.C.,  filho de um rico equestre, a mais baixa das duas classes da ordem senatorial. A ordem equestre era formada por plebeus enriquecidos principalmente pela ampliação do comércio Mediterrâneo.

Recebeu fina educação, estudou grego latim e oratória. Recebeu ensinamentos dos mais insignes filósofos, poetas e historiadores gregos. Deixou-nos um legado de liberdade e ética cuja principal base é a HONESTIDADE. É dele o pensamento: “O poder propicia a um homem inúmeros privilégios, mas um par de mãos limpas raramente está entre eles”. Nem Cícero manteve-se imaculado, imagine os contemporâneos.

Devemos situar no contexto social da época quando nos referimos à LIBERDADE, devemos nos conscientizar que havia escravidão no Império Romano, como em todo o mundo contemporâneo. Seu escrivão, Marcos Túlio Tiro era um escravo que foi posteriormente libertado por Cícero. Criou o primeiro sistema organizado de taquigrafia, eram abreviaturas chamadas Notas Tironianas que foram usadas durante séculos.

Robert Harris, escritor inglês, pesquisando arquivos que relatam a época produziu uma trilogia; “IMPERIUM”, “LUSTRUM” e “DITACTOR” que reportam importantes episódios da vida de Cícero.

Quando alguém ousava dizer que a política era chata, tirava Cícero do sério. – Que coisa mais idiota que dizer “A política é chata, se a política é a História em movimento!” Que outra atividade humana mexe com o que há de mais nobre nas almas dos homens e com tudo que há de mais baixo? Ou que seja tão excitante? Ou oque mais vividamente expõe nossas forças e nossas fraquezas? Chata? Seria mais apropriado dizer que a vida é chata! (pg. 218)´ - IMPERIUM, primeiro volume da trilogia)

Após uma proposta desonrosa de Pompeu: -Talvez eu devesse ter saído de lá de imediato Cícero me confidenciou mais tarde. Isso é que o pobre e honesto teria me aconselhado a fazer. Mas Pompeu iria em frente, comigo ou não, e com isso eu só conseguiria sua inimizade, o que destruiria qualquer chance de eu vir a me tornar pretor no futuro. TUDO O QUE EU FAÇO ATUALMENTE DEVE SER ANALISADO PELO PRISMA DESSA ELEIÇÃO.

“Militares não são políticos, é uma conspiração criminosa usar o artifício das ações dos piratas para assumir o poder absoluto” – disse Cícero balançando desesperadamente a cabeça – pior: uma conspiração criminosa burra. Esse é o problema quando soldados resolvem fazer política. Imaginam que a única que precisam fazer é sair dando ordens e todo o mundo vai obedecer. Não conseguem perceber que a única coisa que em princípio os torna atraentes é o fato de serem supostamente grandes patriotas, acima da imundície da politica, é, no final, o que pode derrota-los porque ou eles permanecem acima da política, e nesse caso não vão a lugar nenhum, ou entram de cabeça na lama junto com todos os demais, e aí se mostram tão venais quanto qualquer mortal”. (pg. 230)

Imagino que deve ser duro para ele gastar tanta energia com um chefe que não admirava e com uma causa que acreditava ser fundamentalmente equivocada. Uma jornada ao topo da política muitas vezes obriga um homem a conviver com determinados companheiros de viagem incompatíveis e revela estranhos cenários, e ele sabia perfeitamente que agora não havia mais retorno. (pg. 249)

Os jogos de Apolo, no sexto dia de julho, marcavam tradicionalmente o início da temporada de eleições, ainda que, na verdade, aqueles dias sempre pareceram ser dias de eleições. Nem bem terminava uma campanha e os candidatos já começavam a preparar a seguinte. Cícero brincava dizendo que o negócio de governar o Estado era algo meramente para ocupar o tempo entre os dias de votação. E talvez essa seja uma das coisas que levara à morte da república: ela se empanturrou de eleições até morrer.

Almejo o cargo de cônsul, que significa a imortalidade, uma recompensa pela qual vale a pena lutar. Roma é uma cidade gloriosa construída sobre um rio de lama. Portanto, sim, eu defenderei Catilina, se for necessário,  e depois romperei com ele o mais rápido que puder. Ele faria o mesmo em relação a mim. Este é o mundo em que vivemos (lembro que Catilina ficou célebre por ter tentado posteriormente derrubar a República Romana). Cícero, então já desafeto, pronunciou uma série de quatro discursos, as “Catilinárias, onde a palavra não poderia ser mais torpe:  “Quousque tandem abutere Catilina patientia nostra?” (Até quando Catilina abusarás da nossa paciência?) E, também: “Hoc locus sacrus est, puer, extra mingite”. (Este lugar é sagrado guri, vá urinar lá fora). Pg. 302

Comentário do colunista: Atualmente também se constroem alianças pragmáticas, com finalidades puramente eleitoreiras e que logo se rompem, ao primeiro desentendimento.

Nas palavras de Cícero, um apanhado de qualidades paradoxais inerentes a um político mais interessado na próxima eleição que aos destinos da nação: “Fazer muitas amizades e mantê-las por devoção; dividir o que possui com todos e pôr à disposição de todos os amigos, nas horas de necessidade, dinheiro, influência, denodo e, se preciso, a ação criminosa mais inconsequente; controlar o temperamento conforme a ocasião e moldá-lo dessa ou daquela maneira; mostrar-se austero com os rígidos, flexível com os liberais, circunspecto perante os velhos, amável com os jovens, corajoso com os criminosos, dissoluto em meio aos depravados...” pg. 310.

Pasmem, Cícero acabou recusando-se a defender Catilina, com isso, adquiriu um inimigo mortal. Em coluna(s) posterior(es) veremos como terminou este triste “imbróglio” da História Romana.  De qualquer modo podemos refletir de como, passados vinte e quatro séculos, pode-se aferir que os políticos continuam usando os mais torpes estratagemas para garantir eleições.

A qualquer custo, repito.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado