“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
COLONIZAÇÕES
DÍSPARES
A cobiça europeia determinou que Buenos Aires, rica em
prata, em 1516 fosse dominada por Juan Diaz Solis. Os charruas no lado uruguaio
e os querandis, na banda argentina, não se submeteram e mataram Solis a
bordunadas. A fome grassava entre os espanhóis que não se conformavam em
trabalhar para obter os alimentos de que necessitavam. Em 1537, Juan de Ayolas
subiu o rio Paraná e entrou em contato com os índios guaranis, povo sedentário
e agrícola que, após breve conflito foi vencido e lá foi fundada a cidade de
Nuestra Señora de Santa Maria de Assunción, até hoje capital do Paraguai. Os primeiros colonos espanhóis, como os
ingleses, não tinham o menor interesse em lavrar as terras com as próprias
mãos. Queriam riquezas – ouro e prata – para saquear.
Pizarro, em 1531, chegou à cidade de Cajamarca. O imperador inca
Atahualpa dirigiu-se com seu séquito ao local do acampamento dos espanhóis que
prepararam uma armadilha, mataram os guardas de Atahualpa e o fizeram
prisioneiro. Para ganhar a liberdade prometeu encher uma sala com ouro e duas
com prata. A promessa foi cumprida, mas os espanhóis renegaram a sua parte do
acordo e estrangularam Atahualpa em 1533. Os tesouros artísticos do Templo do
Sol foram arrebatados e fundidos em barras. Em
1544 foi a vez da Bolívia, onde havia quantidades espantosas de prata. Fundaram
a cidade de Potosi que no seu apogeu, em 1560, contava com 160 mil habitantes,
mais que Veneza e Lisboa na época. A mão de obra era requisitada entre a
população adulta e, num regime que beirava a escravidão. Este processo gerou
muita riqueza para a Coroa espanhola e tornou riquíssimos os conquistadores e
descendentes, mas converteu a América Latina e Central no continente mais
desigual do mundo e solapou boa parte do seu desenvolvimento econômico.
No decorrer do século seguinte a Espanha colonizaria a
maior parte das regiões central, ocidental e sul da América, inclusive o México
enquanto Portugal ocuparia o Brasil.
As atrocidades praticadas pelos espanhóis foram
descritas pelo sacerdote dominicano Bartolomé de las Casas no seu livro
“Brevíssima relação da destruição das Índias”, escrito em 1542, destacando
principalmente o sistema de “encomiendas”, assemelhado às “capitanias
hereditárias” no Brasil.
É evidente que, ao longo dos séculos e nos mais
variados pontos da Terra, as colonizações pelos “civilizados” subjugando os
“nativos” se configurou numa desumana, injusta e desproporcional forma de
estabelecer “castas”. Não apenas na Índia o povo é separado em agrupamentos que
não se miscigenam, como se fossem raças oriundas de etnias diversas (e de certa
forma o são). A exploração imposta pelos “colonizadores” se concretizou de modo
tão vil e repugnante como entre brâmanes e párias.
Convém
ressaltar, contudo, que nem todos os colonizadores foram tão cruéis como os
espanhóis na América e bôeres (oriundos dos Países Baixos, Alemanha e
Dinamarca) que se estabeleceram nos séculos XVII e XVIII na África do Sul) e
disputaram com os britânicos o comando do país. O apartheid foi uma chaga indelével que Nelson
Mandela e Frederik Willem de Klerk, em 1994 sepultaram, o mais execrável
racismo que se tem notícia.
Estas diferenças, voltando ao início da coluna, podem
servir de parâmetro para entender como uma cidade separada por uma cerca e
habitada por pessoas de diferentes nacionalidades pode ter um estilo de vida
tão diverso. A colonização inglesa que consolidou os Estados Unidos e a
espanhola, que imperou nas Américas do Sul e Central, são díspares como os
estilos de vida das duas Nogales.
As instituições que se basearam na
exploração dos povos nativos levaram à criação de
monopólios, bloquearam os incentivos econômicos de amplos grupos menos capitalizados
– pessoas comuns como a maioria da população ativa. Outra filosofia econômica e
administrativa incentivou a capitalização via atrativos para a grande massa da
população e esse viés conduziu à prosperidade. Não se pode desprezar o
valor que representa para uma sociedade livre a contribuição popular através da
compra de ações nas bolsas de valores, ou através de instituições que girem
essa poupança, dirigidas por profissionais especializados. Assim, enquanto os
Estados Unidos iniciavam a Revolução Industrial que os catapultou ao topo da
pirâmide na primeira metade do século XIX, o México empobrecia.
Dados para esta coluna foram coletados no livro
“Porque as Nações Fracassam”, de Daron Acemoglu (Professor de Economia do MIT)
e James Robinson (professor de Administração Pública da Harward University).
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
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