“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
UTOPIA – 1
Thomas Morus (ou More) viveu num período em que a Europa
tinha como conteúdo social uma nobreza que possuía todo o poder para se
perpetuar na prosperidade faustosa, autoridade absoluta, prepotência extrema e
nem sonhava em distribuir com justiça o existente – inclusive alimentos – à
plebe que vivia em regime de semiescravidão. Fome, miséria, peste, regime de trabalho (16 horas por dia sem férias,
domingos livres, aposentadoria e que tais), intolerância e, de justiça, nem
simulacro. A revolta que sentia levou-o a escrever “UTOPIA” (do grego u-topos, não
lugar), uma ilha imaginária onde vivia uma sociedade ideal, onde tudo era perfeito,
harmônico e feliz.
Publicado
em 1516, “UTOPIA” tinha por objetivo – e de certa forma o conseguiu – embasar o
conceito humanista fundamental para explicar uma sociedade baseada em leis
igualitárias, na qual não se admite a propriedade particular, não existe o
dinheiro, tudo é comum e as pessoas vivem em harmonia, livres da violência e da
intolerância.
Com o
passar do tempo tornou-se a teoria que consubstanciou o desejo dos adeptos em
propiciar a todos os elementos que compõem a sociedade uma vida digna em que não
prosperam os demasiadamente ricos, poderosos vivendo no fausto, no desperdício,
enquanto a maioria é submetida a um regime de penúria.
É um plano que
se constata irrealizável porque exige para a sua existência que TODOS os humanos
sejam honestos e trabalhem sem remuneração para o bem-estar da
comunidade. Não admite, na realidade, que os indivíduos possam atingir posições
de maior destaque graças a seus esforços e capacidade. Este fato inibe a mais
entranhada característica humana: proporcionar a si e aos descendentes um
padrão de vida progressivamente superior. Numa sociedade utópica perpassam
gerações, séculos e milênios E TUDO PERMANECE IMUTÁVEL! Quem nasceu plebeu,
assim vive, bem como seus filhos e os filhos dos seus filhos... Os “brâmanes”
se eternizam sem sustos. E, suprema ironia – sem graça nenhuma – admitem
escravos numa sociedade que pretende ser igualitária!!!
Sócrates,
filósofo grego do século IV a.C. já ensinava a seus discípulos: “O sábio
precisa escolher entre duas “cidades”: a real e a ideal, esta não se encontra
em lugar nenhum na terra”. A utopia, para
funcionar exige um mundo perfeito, como admit e o próprio Morus. “À falta de
um mundo perfeito, é preciso adaptar às circunstâncias e evitar choques
frontais, do contrário se corre o risco de cair no ridículo, ou coisa pior”. Para os
utopianos não pode haver propriedade privada, porque tudo em Utopia é comum. O
único caminho para o bem-estar social é a IGUALDADE DE POSSES. Ora, isso retira
a alavanca que soergue o progresso: o estímulo a progredir.
A
educação utopiana visa, em primeiro lugar, criar bons cidadãos. Ela é
supervisionada por sacerdotes, vale lembrar que são poucos, nunca mais de
quatrocentos, que se dedicam a instilar na mente dos jovens “princípios que
beneficiam a vida da comunidade”, para tanto os mestres têm o dever de exortar,
advertir, conter os transgressores e excluir dos ritos sagrados os que
reconhecem como incorrigíveis. Esses terão sua impiedade punida pelo Senado,
para os recalcitrantes a punição poderá, inclusive, ser a escravidão, pois a
condição de perpetuidade duma república precisa ser diretamente absorvida e
esta atitude é incutida desde a mais tenra idade – Alguém relaciona com a
“escola COM partido”?
A
utopia sugere uma ordem social alternativa que às vezes parece atraentemente
próxima, mas que, ao fim e ao cabo, é inacessível. Incongruência que chega a
ser brutal: em Utopia, que se diz uma sociedade igualitária, existem escravos.
Alguns condenados judicialmente e também inimigos derrotados. Ninguém aventa
que seja uma forma de instituir uma força de mão de obra suplementar. Pode ser
um paradoxo que após a sua acolhida inicial, em 1516, tivesse que esperar
quatro séculos para assumir a importância atual. Marx e Engels incluíram o nome
de Morus entre as figuras fundadoras do comunismo na Inglaterra.
Os
dados que embasam esta coluna e as que se sucederem fora extraídos do livro
“UTOPIA” escrito por Dominic Baker-Smith, com tradução de Denise Bottmann.
Nesta
primeira coluna garimpei na “Introdução” assinada pelo autor, nas demais serão
priorizadas informações constantes na obra em si.
Comentário
do colunista: Como o próprio autor admite, para existir uma sociedade utopiana
faz-se necessária a existência de seres perfeitos e dispostos a seguir as
regras vigentes. Ora os humanos são caracterizados por possuírem o
livre-arbítrio e cada um é singular, diferente de qualquer outro da espécie.
Uma sociedade descrita em Utopia floresce em nosso planeta apenas em alguns
animais gregários, como as abelhas e formigas. Nas colmeias, por exemplo,
existem apenas a abelha-rainha, as operárias e os zangões. Cumprem suas funções
sem tergiversar há milhares de anos e assim continuarão. Eventuais mudanças são
ocasionadas por alterações no meio-ambiente, quando se fazem necessárias
adaptações. Fora disso, o instinto é o único fator que rege as comunidades.
“É a geração de riquezas que permitirá aprofundar valores democráticos
de liberdade e justiça. Necessária, assim a contenção de sofismas sobre a
perfeição humana. A vida corre num campo social desarmônico, repleto de
virtudes e vícios. Requer-se estabelecer a autoridade “moral” pelo mérito e
esforço individual da conquista de conhecimento e prudência”. (Alex Pipkin, professor,
doutor e consultor empresarial – Zero Hora, 05/12/2018)
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
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Cirurgião-dentista aposentado
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