“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
EDUCAÇÃO
DOMICILIAR – 09/02/2019
É gratificante para o colunista receber colaborações de
leitores. Demonstra confiança nas opiniões emitidas e desejo de colaborar.
Nesta semana, após as declarações da ministra Damares Alves, do Ministério da
Mulher, Família e Direitos Humanos sugerindo uma lei que permita a Educação
Domiciliar, a Dra. Marília Gerhardt de Oliveira, cirurgiã e traumatologista
bucomaxilofacial, sugeriu debater o tema, ampliando o seu foco e incluindo o
contraditório para esta coluna. Não apenas sugeriu como colaborou na pesquisa,
garimpando um texto de “A Montanha Mágica”, obra-prima de Thomas Mann, Prêmio
Nobel de Literatura, em 1929, pelo livro publicado em 1901: “Buddenbrooks”.
O ritmo civilizatório ocorre em ciclos. Pode-se
constatar isso em todos os setores do desenvolvimento humano. Ao contrário dos
animais, que vivem guiados pelo instinto e ele só modifica os comportamentos
quando o meio ambiente assim o determina. O cérebro humano escalona os
conhecimentos e os transmite às gerações futuras, independente de quem os tenha
produzido. Nosso cabedal técnico, ético, moral, etc., inclusive o processo
educacional assim se perpetuam e desenvolvem.
EDUCAÇÃO: No início era domiciliar, transmitiam-se de
pais para filhos os conhecimentos, tudo dentro do círculo familiar. Era oral,
com todas as vicissitudes, possibilidade de erros e, certamente, perda de
detalhes. A introdução da escrita possibilitou a uniformidade e mais, a
universalidade dos conceitos.
Johannes Gutemberg, ao inventar os tipos móveis
modificou tudo, na prática criou a imprensa e popularizou os livros. A Bíblia
foi o primeiro livro que imprimiu, iniciando em 3 de fevereiro de 1455 e terminando 5 anos
depois. Acredita-se que ao todo ele tenha imprimido 180 exemplares, dos quais
60 ainda estão em bibliotecas de universidades. A técnica de impressão lançou
as bases materiais para a disseminação da aprendizagem em massa. Pode-se dizer
que foi o “Abre-te Sézamo” da educação estendida para fora do âmbito das
famílias abonadas. Preceptores que lecionavam num lar foram substituídos por
professores e estes, em escolas, universalizaram o ensino. Foi o princípio do
futuro que conhecemos hoje. Todos podem ter acesso à Educação. Ao menos
deveriam ter.
Thomas Mann, em 1924 escreveu “A Montanha Mágica”, na
página 599 afirma: “Já não era segredo para pessoa alguma que o protótipo das
escolas, derivado das Escolas Monásticas da Idade Média representava um
anacronismo, uma grotesca velharia. Que um ensino livre, acessível a todos por
meio de conferências públicas, exposições, cinema, etc., era muitíssimo
superior”. O autor discorre sobre conflitos espirituais e ideológicos que
ANTECEDEM A... PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL.
Quaisquer reflexos sobre o ideário dos ministros Ricardo
Velez Rodrigues - Educação – e Damara Alves – Mulher, Família e Direitos
Humanos – infelizmente NÃO é mera coincidência. A ministra Damares Alves pretende
dar um gigantesco passo... PARA TRÁS. Para a Educação domiciliar.
Os
jesuítas lideraram as primeiras experiências de ensino no Brasil entre os
séculos XVI e XVIII, mas foram expulsos de Portugal e da Colônia em 1759.
Responsável por essa determinação, Sebastião José de Carvalho Melo (1699-1872),
o Marquês de Pombal, iniciou uma Reforma na Educação com o objetivo de
modernizar o Reino de Dom José I (1714-1777). Para substituir os padres ele
criou as aulas régias, mas os efeitos concretos só foram sentidos alguns anos
depois.
Depois
que o ensino sedimentou, a etapa inicial chamada de Estudos Menores, constava
de aulas de ler, escrever, contar e humanidades (gramática latina, grego, etc.).
Era a primeira vez que a Educação era responsabilidade estatal e
objetivava ser laica, mas o catolicismo ainda continuava muito presente. Para se
tornar Professor, não havia uma formação específica. Por isso, eram
selecionados os que tinham alguma instrução, muitas vezes padres.
A
primeira Escola Normal foi criada no Rio de Janeiro, em 1835. Nela, um único
professor atendia apenas alunos homens. Na década de 1870, havia instituições
masculinas e femininas e, nos anos seguintes, elas se tornaram mistas.
LINHA
DO TEMPO
1760 –
É realizado o primeiro concurso para professores públicos.
1808 –
A vinda da Família Real para o Brasil incentiva a cultura no país.
1834 –
As províncias passam a definir as regras educacionais.
1889 –
A República é decretada e surge um novo modelo de escola.
Em
1867, só cerca de 10% da população em idade escolar estava matriculada e, em
1890, no início da República, a taxa de analfabetos chegava a 67,2%. À época, o
político e escritor Rui Barbosa (1849-1923) se debruçou sobre esses e outros
números e produziu pareceres em que concluía que “somos um país de analfabetos,
e que a massa deles, se decresce, é numa proporção desesperadamente lenta”,
como Nadja Mehanna Mormul e Maria Cristina Gomes Machado apresentam no artigo
”Rui Barbosa e a Educação Brasileira – Os Pareceres de 1882”.
Apesar
dos progressos, que não foram os mais apropriados e producentes, um fator
permaneceu constante: OS PROFESSORES SÃO MUITO COBRADOS, MAS POUCO
RECOMPENSADOS.
A
educação domiciliar é legalmente admitida em pelo menos 63 países no mundo,
Este é um dado da Associação Americana
ASLDA (Home School Legal Defense Association). Nos Estados Unidos os estudantes
domiciliares já compõem mais de 4% da população em idade escolar.
A
demanda por educação domiciliar parte principalmente de grupos religiosos que
desejam educar seus filhos em casa. A Associação Nacional de Ensino Domiciliar
(ANED) estima que 7.500 famílias adotam o modelo. Esta Associação participa
efetivamente do texto. O Diretor Jurídico da entidade, Alexandre Magno
Fernandes Moreira é secretário-adjunto de uma secretaria do Ministério da
Família.
Em 12
de setembro de 2017, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o Ensino Domiciliar
era ilegal porque não havia legislação a respeito. Somente o relator do
processo, ministro Luís Roberto Barroso, votou pela legalidade, desde que fosse
submetido a condições que ele propôs fixar até que o Congresso legislasse sobre
o tema.
Um
tema que se tornou motivo de discussão após a eleição de Jair Bolsonaro é a
“Escola Sem Partido”. Aliás, desde os tempos da ditadura de Getúlio Vargas,
sempre houve interferência de ideologias na Educação, no período mencionado
foi, inclusive, proibido o ensino de línguas estrangeiras sob pena de prisão
sem julgamento. Durante o período ditatorial de 1864-1985 foi introduzido a
OSPB (Organização Social e Política Brasileira) e a EMC (Educação Moral e
Cívica). Com a redemocratização as escolas tiveram liberdade e muitas seguiram
tendências, ora direcionadas à esquerda, ora à direita. O que a verdadeira
“Escola Sem Partido” apregoa é, não apenas a laicização do ensino, a
despartidarização também, o não engajamento político em sentido amplo nas
escolas.
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
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