Coluna publicada em 22/08/2.016
http://www.litoralmania.com.br/curiosidade-insatisfacao-e-fe-por-jayme-jose-de-oliveira/
“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
CURIOSIDADE,
INSATISFAÇÃO E FÉ
O
colunista Paulo Germano (Zero Hora, 20/08/16) relata um encontro que teve com o
padre Fábio Melo:
- “Padre, tenho uma dúvida que me acompanha
desde criança. Como o senhor tem certeza que Deus existe”?
Ele
soltou um meio sorriso e, embora não tenha muita cara de padre respondeu com
uma cara de padre:
-
“Se eu tivesse certeza, não precisaria ter fé”.
Ao
ler, lembrei uma coluna que escrevi em 17/07/2.015, com o título: “Se Deus não
tivesse criado o homem, o homem se veria compelido a criar Deus”. E, de certa
forma, o fez”.
Em
qualquer época, em qualquer recanto do mundo, mesmo em isolamento absoluto como
na Ilha da Páscoa, nas profundezas da selva amazônica ou nos mais remotos
rincões da mãe África, os pajés, sacerdotes, pastores, muftis... nos comprovam
que se Deus não existisse, não poderíamos ter esta FÉ que nos impede de enlouquecer
de frustração ante a ignorância, jamais admitida como definitiva. Não
conseguimos entender um “mistério”? A curiosidade não nos permite desistir e a
FÉ nos dá o alento necessário para prosseguir na busca.
O
Criador nos brindou com dois atributos que, juntos, nos distinguem dos outros
seres vivos: curiosidade e insatisfação. Ao presenciar, durante uma tempestade,
a destruição duma frondosa árvore por um raio, em vez de fugir apavorado como
todos os animais, perplexo, refletiu sobre o poder dessa força inimaginável e
donde poderia ter surgido, quem a dominava. Que ente era esse, tão poderoso
que, num átimo, provara seu poder de destruição?
A
curiosidade era manifesta nesse raciocínio. A insatisfação que sucedeu quando
não encontrou resposta levou-o a imaginar um “SER” acima de qualquer
comparação. Criou o primeiro deus. Com o tempo a exigência do conhecimento
cresceu, multiplicaram-se os deuses e o ápice ocorreu na mitologia grega. Não
satisfeitos, ansiaram uma equiparação e surgiram os semideuses, conjunção dum
deus com um humano. Heracles (Hércules), filho do deus Zeus e a humana Alcnema
foi um dos mais célebres.
A
ciência ao longo dos tempos foi deslindando mistérios e não parou jamais.
Deuses caíram ao serem desmitificados. Ainda restam muitos e o homem não
descansará até deslindar o último desconhecimento, verdadeira tarefa de Sísifo
porque “Para cada resposta que obtemos surgem dez novas questões, mas o que
nunca acabará é a procura do homem pelo conhecimento”. (Jayme J. de Oliveira)
“Mesmo quando era jovem, não conseguia acreditar que, se o conhecimento
oferecesse perigo, a solução seria a ignorância. Sempre me pareceu que a
solução tinha que ser a sabedoria. Qualquer avanço tecnológico pode ser
perigoso, mas, os humanos não seriam humanos sem eles”. (Isaac Asimov)
Cabe, como em tudo, separar o joio do trigo.
Como afirmou Isaac Asimov, pode ser perigoso, não apenas no tecnológico como
nos costumes. Ao descobrir a forma de forjar o aço, o homem pôde fazer um
bisturi que salva ou um punhal que assassina. A ética distingue o correto do
pérfido, o lado claro do obscuro da nossa mente. Os terroristas que se dizem
inspirados num deus sanguinário são a escória da humanidade. Têm como
contraponto portentoso os Médicos Sem Fronteiras. Edificante. A FÉ pode
conduzir às maiores demonstrações de solidariedade.
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