segunda-feira, 18 de maio de 2020

CORRESPONDENTES






PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

CORRESPONDENTES
Uma das mais gratas constatações para um colunista é receber correspondência comentando, sugerindo assuntos, pedindo esclarecimentos ou mesmo criticando. Tudo auxilia nossa faina sequencial.
Recebi um questionamento à coluna “Acelerando a cura” sobre o porquê algumas doenças ainda não têm solução satisfatória e a possibilidade de haver sonegação por motivos econômicos. Vamos aos fatos.
É um assunto tão vasto, complexo e instigante que os maiores cientistas passam a vida no estudo, e isto há séculos. Passo a passo desbravam a selva desconhecida e há muito a percorrer ainda. É como o horizonte, a cada passo que damos se distancia junto, contudo, apesar disso continuamos e já percorremos parte considerável do caminho.
Entre as doenças que nos causam um misto de pânico e desesperança vou me fixar na asma, no diabetes, no câncer e no Alzheimer.
ASMA – Fatores ambientais e genéticos estão na origem e seu agravamento. Os fatores genéticos – por enquanto – não podemos eliminar, porém os ambientais: pó, mofo, pólen, ácaros, são alérgenos (causadores) que podem e devem ser evitados, este procedimento diminui consideravelmente as crises e está ao nosso alcance. Obedecidos os cuidados recomendados, tratamentos entram em ação e com real eficácia. São utilizados medicamentos para alívio rápido (as conhecidas bombinhas) e para uso contínuo temos à disposição controladores com ação anti-inflamatória e bronco-dilatadores.
Cumpre ressaltar que o controle da asma exige tratamento efetivo contínuo e obediência rigorosa de regras de procedimento. A não observância induz ao agravamento e, inclusive, há risco de morte.
Resumindo: não é possível evitar os fatores genéticos, porém uma vida em condições aceitáveis é possível com o uso das drogas disponíveis.
DIABETES – É uma doença causada pela falta ou má absorção de insulina, hormônio que promove o aproveitamento da glicose como energia para o nosso organismo. O pâncreas é o órgão responsável pela produção de insulina. Podemos dividir em dois grupos o diabetes.
Diabetes tipo 1 – O pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina. É própria da infância e adolescência e exige aplicação diária de insulina injetável.
Diabetes tipo 2 – As células são resistentes à insulina. Pode ser controlado com exercícios, dieta e medicamentos via oral em muitos casos. Em estágio adiantado exige, também, injeções de insulina. Acomete adultos acima dos 40 anos e tem como causas o relaxamento nas atividades físicas, dieta desregulada (excesso no consumo de açúcar principalmente) e hereditariedade. Pode-se levar uma vida com qualidade, desde que se sigam os preceitos recomendados pela medicina, exercícios físicos e, isso é de vital importância, uma dieta equilibrada que inclui abstenção total da ingestão de açúcar e congêneres. 
A descoberta da insulina, em 1921, por Frederik Bantin e equipe teve como primeira paciente Elizabeth Hughes, 14 anos. No dia 16 de agosto iniciou o tratamento com injeções de insulina e se recuperou. Parecia um milagre porque até então o único tratamento era uma dieta tão rigorosa que muitas vezes levava à morte por inanição. Elizabeth, de 4 pés 11,5 polegadas (1,51m) pesava 75 libras (34 kg) quando desenvolveu diabetes. Sob dietas de, em média 800 calorias por dia, seu peso caiu para 45 libras (20 kg) em agosto 1922.
A FDA (Food and Drug Administration) aprovou um avançado sistema de infusão de insulina, acoplado a um sistema de monitorização de glicose, em palavras simples: o pâncreas artificial. O sistema passou a ser disponibilizado na segunda semana de 2020. A ferramenta foi desenhada para uso em crianças acima de seis anos e adultos.
MAIS UM PASSO, OUTROS VIRÃO MINIATURIZADOS.
CÂNCER – É o nome dado a mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células que invadem tecidos e órgãos.
Dividindo-se rápida e incontrolavelmente, determinam a formação de tumores que podem evoluir em metástases, invadindo tecidos e órgãos vizinhos ou distantes.
As células do câncer não perdem seus telômeros nas divisões celulares por mitose, eles são repostos por uma enzima, a telomerase e, por isso, tornam-se imortais. As células de uma mulher norte-americana que morreu de câncer uterino em 1951, Henrietta Lacks (foto) - células HeLa - continuam vivas, são cultivadas em laboratórios de todo o mundo e utilizadas para experimentos científicos. A partir elas foi descoberta a vacina Salk para o controle da poliomielite.


Sendo o câncer múltiplo, várias são as terapias utilizadas: cirurgia, quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia, terapia alvo, imunoterapia, medicina personalizada, transplante de medula óssea. 
Promissores e alguns já em prática, procedimentos utilizam vetores específicos – vírus por exemplo – para atacar células afetadas. Cientistas norte-americanos estão estudando o vírus da Zica para tratar câncer do cérebro. O micro-organismo pode ser direcionado para infectar apenas as células cancerosas, deixando as células normais intactas.
O assunto é tão vasto e fascinante que uma biblioteca inteira não esgotaria. A trajetória até aqui percorrida nos anima a esperar que todos os cânceres poderão ser tratados e curados num futuro próximo ou remoto.
ALZHEIMER – Uma doença progressiva que destrói a memória e outras funções mentais importantes. As conexões das células cerebrais e as próprias células degeneram e morrem (entram em apoptose, suicídio programado).
Não existe cura, os medicamentos e as estratégias de controle podem melhorar os sintomas temporariamente.
A causa é desconhecida, mas acredita-se que seja geneticamente determinada.
Nos estágios finais o paciente perde a capacidade de executar as mais elementares capacidades tarefas, não reconhece nem s familiares, exige cuidados, vigilância permanente.
O Alzheimer não tem cura nem remissão. Um estudo feito pela Universidade de Southanpton, publicado na revista Brain, no início de 2016, sugere que é preciso enfrentar a inflamação no cérebro para cortar o avanço da doença.
De tudo o que até aqui abordamos é o que menor probabilidade de solução apresenta. Poderíamos, para ter uma ideia aproximada, considerar como o resultado da degenerescência decorrente da velhice. Alguém poderia pensar em evitar o surgimento de rugas com a idade?
As Fake News são execradas por não contribuírem em nada para nada. O tema “doenças sem tratamento” fornece material para elucubrações constrangedoras. Difícil entender que alguém possa se rebaixar ao nível de manipular o desespero.
O dia 26 de fevereiro de 1988marcou o início de uma desconfiança internacional sobre vacinas que reverbera até hoje. O médico Andrew Wakefield apresentou uma pesquisa publicada na conceituada revista Lancet descrevendo 12 crianças que desenvolveram comportamentos autistas. Em comum, dizia o estudo, as crianças tinham vestígios do vírus do sarampo no corpo. Wakefield e seus colegas levantaram a possibilidade de “um vínculo casual” desses problemas com a vacina MMR, que protege do sarampo, rubéola e caxumba e que havia sido aplicada em 11 das crianças estudadas.  Foi o suficiente para que as vacinas MMR começassem a cair no Reino Unido e, mais tarde, ao redor do mundo.
Em 2010, o Conselho Geral de Medicina do Reino Unido julgou Wakefield inapto para o exercício da profissão, qualificando seu comportamento como irresponsável, antiético e enganoso. O Lancet se retratou dizendo que suas conclusões eram totalmente falsas.
A Austin Spears, dedicada a estudos e debates sobre o autismo, escreveu no seu site em 2015: “Pedimos encarecidamente que todas as crianças sejam vacinadas”.
“O mal já se espalhara, incontáveis crianças sofreram e sofrem as consequências”.
Outra Fake News calhorda e irresponsável:
“Os laboratórios já descobriram a cura do câncer, porém, como o tratamento traz melhores resultados financeiros, é mantido em sigilo”.  
Não tenho palavras publicáveis para comentar esta aleivosia. CARAMBA! Quem descobrir a cura do câncer ficará tão rico que ele e sua descendência, até o final dos tempos estarão providos de recursos fartos e inesgotáveis.
P.S.: O esforço de cooperação global para ultrapassar a crise causada pelo COVID-19 é possivelmente o maior da história da humanidade. Passa de 14 mil o número de pesquisas engajadas, resta saber se, quando descoberta a vacina ela será disponibilizada para todos, indistintamente de sua capacidade monetária. Com mais de 300 mil mortos já pranteados o planeta testemunhará uma corrida por vacina. Dinheiro e poder não poderão ser elencados como razão para discriminar nações e pessoas menos afortunadas.
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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