segunda-feira, 26 de agosto de 2019

FOME





PONTO E CONTRAPONTO  - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

FOME – 25/08/2019

Pensamos que passou o tempo em que a escravatura era vista com naturalidade. NÃO PASSOU, mudou de formato e não se evidencia mais pela cor da pele. Reconhece-se pelo conteúdo da conta bancária e, quando não existe conta bancária o infeliz está no fundo do poço. E no fundo do poço impera a necessidade. Necessidade de moradia – nem falo de moradia confortável, simples moradia, pode até ser um tugúrio -; necessidade de acesso à instrução que catapultará a empregos dignos; necessidade de lazer – não é luxo – que não o subordine a praticar malfeitos e, principalmente, necessidade de alimentação sadia, tragável e suficiente. Não saber o que significa a FOME que corrói as entranhas, embrutece o cérebro e minimiza os códigos éticos, quando roubar não significa crime, significa sobrevivência.                       Nesse ambiente – desumano – um traficante que paga um lanche se transforma num amigo. QUEM MATA MINHA FOME É MEU AMIGO, mas não é meu senhor, posso, devo traçar meu caminho. Posso, devo manter meu caráter, minha dignidade, meu respeito. UTOPIA? Não. Pode-se sair do círculo vicioso: pobreza-fome-crime. Sim. E quem o faz merece elogios, ser louvado e apontado como exemplo a ser seguido.
É muito fácil pregar moral de barriga cheia. Com isso não quero justificar malfeitos, muito menos a chantagem praticada pelos “donos das vilas”. A solução? Difícil e multifacetada. Melhorar o nível da educação e o de vida é essencial, porém...  resultados só aparecem após anos de persistência... no decorrer desse intervalo pessoas precisam viver, se alimentar, obter conhecimentos que abram as portas para melhores empregos – e salários -, vislumbrar uma luz no fim do túnel.
Nesse mundo cinza proliferam os aliciadores de menores, futuros criminosos. Custam pouco, servem de biombo para os verdadeiros “chefões” e, quando a polícia os prende são prontamente substituídos. NÃO SE ATINGE OS VERDADEIROS MENTORES DOS CRIMES. O crime organizado se encastela em mansões, não em tugúrios infectos.
É nesse mundo cinza habitado por infelizes desesperançados que demagogos sem escrúpulos cabalam votos em troca de miragens. Como sabemos, miragens são vislumbres fictícios de paraísos onde se poderia saciar a sede. Sede de água, sede de uma vida digna – para si e para os filhos -, sede de esperança em dias melhores, dignos de serem vividos. Infelizmente... apenas miragens que se afastam quanto mais pensamos nos aproximar. Até se desfazerem no desconsolo da ilusão perdida.
Demagogos são, sim, mais abjetos que chefetes de tráfico de drogas, de proxenetas – rufiões que se refocilam nos lucros oriundos do nefando comércio do sexo -, de assaltantes, de contraventores de todo o tipo. Sim, são mais abjetos porque não apenas se apropriam de dinheiro – para si e para a quadrilha que os cerca e protege -, roubam o que de mais precioso possuímos: a esperança em dias melhores.                                                                      Uma prova evidente que não somos impelidos, inexoravelmente, a seguir o caminho aparentemente fácil ofertado pelos aliciadores são as incontáveis pessoas que nasceram na miséria, cercados de atrativos espalhados em todos os cantos por onde transitavam... e não se entregaram ao ”canto das sereias”, mavioso, encantador, ao alcance da mãos, que  lhes proporcionaria uma aparente vida de prazeres e abundância. Bastaria se engajarem numa das inúmeras quadrilhas que pululam no ambiente em que vivem esses seres humanos desesperançados e excluídos pela sociedade. É um fato que a maioria teria um período curto de vida, os caminhos do crime são perigosos e cobram com vidas os fugazes períodos de fartura. Quando não enredados nas malhas da lei, as lutas intermináveis das máfias litigantes dizimam os menos afortunados.                                                                                                                                            Esses são verdadeiros heróis que devemos cultuar, abraçar, apoiar e parabenizar. Sim, conseguir se manter no caminho pedregoso que, passo a passo os conduz à integração com a sociedade formada pelas pessoas dignas – de todas as origens, posses  e ideologias – nos leva a crer que nada está perdido e lá no horizonte se antevê não uma miragem ilusória... um futuro promissor e digno PARA TODOS.                                                                                                                 

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião

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