terça-feira, 28 de maio de 2019

OSSADAS NOS SUBTERRÂNEOS DA CÚRIA






PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

OSSADAS NO SUBTERRÂNEO DA CÚRIA METROPOLITANA – 27/05/2019

Descobertos em 2012, ossos de cerca de 120 pessoas que viveram nos séculos XVII e XIX podem revelar detalhes sobre os primeiros habitantes de Porto Alegre.
O rosto se forma de milímetro a milímetro. Começa pela mandíbula, depois as têmporas e aí os músculos da expressão facial. Então vêm os olhos, os lábios, o nariz. Assim o amontoado de argila toma forma na reconstrução do crânio e recebe um nome: Moisés. Leva algumas semanas de trabalho e já pouco lembra a caveira que um dia foi. É um rescaldo de um dos maiores achados arqueológicos da capital gaúcha.




Colocada sobre uma mesa de escritório, ela divide seu espaço com instrumentos em uma sala do Laboratório de Genética Humana e Molecular da PUCRS. Nos arredores está um tesouro formado por ossos humanos que vem sendo unidos num desafiador quebra-cabeças.                                                                                                                 As partes de Moisés, um extenso projeto que une 19 pesquisadores das mais variadas áreas também vai tomando forma. Profissionais de biologia, genética, odontologia, anatomia, arqueologia, farmácia, antropologia, medicina e história se concentram em centenas de fragmentos de ossadas encontradas durante escavações realizadas na Cúria Metropolitana de Porto Alegre.






Datadas do período de 1772 a 1850, as ossadas foram encontradas em uma das alas erguidas sobre um dos primeiros locais e sepultamento da cidade, antes de o terreno sediar a Arquidiocese. A povoação que viria a ser Porto Alegre foi fundada justamente em 1772, como Freguesia de São Francisco do Porto de Casais.                                                                              O objetivo desse trabalho é apenas o primeiro passo para uma série de pesquisas realizadas concomitantemente na PUCRS. Nelas, o objetivo é mapear tudo o que for possível desvendar das ossadas que, por enquanto, representam mais incógnitas que certezas.                                                                                                                    Numa vala que continha de 90 a 120 indivíduos havia ossadas sobrepostas de adultos, idosos, homens e mulheres. Cada ossada é retirada com cuidado e abrigada em caixas ou sacos plásticos, conforme seu tamanho e localização. O descuido com que foram depositados outrora, misturados com aterro pode significar que muitos fragmentos, ainda que não tenham sido perdidos, não possam mais ser unidos às suas partes originais, dificultando a atual etapa do trabalho de reconstituição.                                                                     O trabalho dos dentistas tem uma atribuição especial. Os dentes estão entre as estruturas melhor preservadas do corpo humano após a morte e é a partir deles que, após a devida localização e autorização pelo IPHAN – se deve extrair o material genético capaz de traçar pontos ainda desconhecidos sobre a população porto-alegrense dos séculos XVII e XIX.
Coordenando todos os trabalhos relacionados às ossadas da Cúria, a geneticista Clarisse Alho não para. Tira as dúvidas dos integrantes da equipe, - muitos deles jovens que estão dedicando seus projetos de pesquisa ao tema -, orienta mestrados e doutorados, repara análises de DNA, administra o uso compartilhado dos equipamentos com instituições como a Polícia Federal e batalha por mais recursos para uma série de atividades com andamento no seu laboratório, que não conta com incentivo financeiro exclusivo para a cooperação técnica. Os profissionais da equipe esperam, além de aprimorar seus conhecimentos, utilizarem o que aprenderem ali os consultórios e laboratórios de que participarem em outras oportunidades.  O objetivo maior, contudo, é o de poder apresentar ao público os resultados da pesquisa.
Fonte: Guilherme Justin
Fotos: Ricardo Duarte  
           Osmar Freitas – Agência RBS                                                                                                                                         
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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