segunda-feira, 25 de julho de 2016

A SUPERMÁQUINA 6 - O MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO DOS NEURÔNIOS




Publicado em "www.litorakmania.com.br" - 25/07/2.016
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PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

A SUPERMÁQUINA 6 – O MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO DOS NEURÔNIOS
O MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO DOS NEURÔNIOS
Depois de um século pensando o contrário, os cientistas descobriram que novos neurônios nascem também em adultos. Agora sonham com a cura de lesões na espinha, derrames, Parkinson e Alzheimer
Célula difícil, é a estrela do organismo, complicada que só ela. Tem centenas de ligações a solicitando ao mesmo tempo. Carrega na bolsa substâncias químicas cujos sutis efeitos os cientistas ainda não entendem bem. Como sempre acontece, essa condição de prima-dona vem acompanhada de um péssimo temperamento. Ao ser afetada por qualquer mal, sua recuperação vira um drama. Por fim, como toda celebridade, ela é insubstituível.
Era. Uma equipe da Universidade Rockefeller, em Nova York, anunciou que outra célula, chamada astrócito, consegue gerar novos neurônios em pelo menos uma região do cérebro, a que armazena a memória. Melhor ainda: os astrócitos são muito abundantes no sistema nervoso, ou seja, o potencial de restauração é gigantesco. A descoberta vem no rastro de uma outra, tão surpreendente quanto. Em novembro do ano passado, um sueco e um americano tornaram realidade o sonho de dez em cada dez neurologistas, eles concluíram que neurônios de adultos se regeneram, sim. Agora, pesquisadores do mundo todo estão tentando domar as indóceis estrelas e convencê-las a voltar ao trabalho depois de um tropeção qualquer.
Cada neurônio é diferente de todos os outros. No sistema nervoso, ao contrário dos demais tecidos, cada um é um, com forma, função e arsenal químico únicos. Imagine a dificuldade que seria repor essa célula, caso ela morra. Não é à toa que nunca se imaginou que o cérebro conseguisse se regenerar. Pode, sim!
Tudo o que sempre se pensou sobre neurônios ruiu em novembro de 1.998, quando Fred Gage, da Universidade da Califórnia, e Peter Eriksson, do Instituto Universitário de Gotemburgo, Suécia, publicaram a notícia mais esperada da história da neurobiologia. Eles tinham observado cérebros de cinco cadáveres e a conclusão chacoalhou a Medicina. Todos haviam gerado neurônios antes de morrer.
É verdade que só uma pequena região do cérebro foi pesquisada, o hipocampo, e que o número de novas células era irrisório – não mais que uma dúzia. Mas, desde 1.889, quando o neurônio foi descoberto, ninguém tinha documentado o nascimento de uma célula nervosa em humanos adultos. A simples comprovação dessa possibilidade abre caminhos incríveis.
“Eu acho que o cérebro tem um grande potencial inexplorado de regeneração”, disse o sueco Eriksson. Neurônios não se dividem ao meio. São tão especializados que não têm as proteínas necessárias para se reproduzir. Os recém-nascidos encontrados por Eriksson e Gage surgiram da divisão de um outro tipo de célula, as células-tronco, uma espécie de estepe sempre à espera de um estímulo químico para se multiplicar.
Uma pesquisa publicada em junho tornou o sonho mais real. O mexicano Arturo Alvarez Buylla, da Universidade Rockefeller, em Nova York, achou células-tronco em outra parte do cérebro, a zona subventricular. Elas, porém, não fazem neurônios naturalmente, só quando induzidas em laboratório. Acontece que Buylla também descobriu que aquelas células-tronco eram os já conhecidos astrócitos, corpos que envolvem neurônios e que ninguém julgava capazes de produzi-los. Temos bilhões de astrócitos no sistema nervoso. Ou seja, o potencial de regeneração do cérebro não seria apenas grande. Seria ilimitado.
“Estou esperançoso”, disse Buylla. “Achamos as progenitoras. Agora temos que induzi-las a gerar neurônios”. “Quando a ciência sabe o que procura, geralmente encontra”, avalia otimista o neurologista Cícero Galli Coimbra, da Universidade Federal de São Paulo.
Embora esteja provado que os neurônios são capazes de se multiplicar, sabe-se que eles não o fazem naturalmente em quantidade suficiente. Caso contrário, danos no tecido nervoso cicatrizariam como cortes na pele. “Animais mais primitivos fazem isso”, diz o neurologista Ciro da Silva, um brasileiro da Universidade de São Paulo que está entre os principais pesquisadores da área. “Ao longo da evolução, nosso cérebro foi se tornando mais complexo e ficou tão especializado que deixou de se consertar”. Ou seja, a enorme quantidade de substâncias e a grande variedade de conexões que cada célula teve que dominar quando os humanos ficaram mais espertos tornou-as difíceis de substituir.
A boa nova é que o mecanismo de cura não foi perdido. Está só desligado, à espera de substâncias químicas que o reativem. É justamente essa a área mais promissora da pesquisa e aquela à qual se dedica Ciro – a busca dos chamados fatores de crescimento. Ou seja, as substâncias certas que vão induzir as células-tronco certas a se transformar nos neurônios certos e se ligarem aos vizinhos do jeito certo. “Já foram identificados doze diferentes fatores”, diz Ciro. “Sabemos que os remédios serão combinações entre eles”.
Um dia, os cientistas poderão retirar células-tronco, possivelmente astrócitos, do pedaço do cérebro que quiserem reparar, portanto prontas para substituir os neurônios daquela região. Depois, bastará submetê-las a fatores de crescimento, deixar que elas se multipliquem e implantá-las de volta. Um grande passo para transformar essa teoria em uma terapia eficaz foi dado pelo russo Valery Kukekov, da Universidade do Tennessee, Estados Unidos. Em abril, ele anunciou que tinha conseguido cultivar células-tronco em laboratório.
“Quando os cirurgiões realizam uma lobotomia, que é a separação dos hemisférios cerebrais de pacientes graves de epilepsia, retiram células cerebrais”. “O que fizemos foi pegar esse material, estimulá-lo com fatores de crescimento e gerar novas células-tronco”. Só que, depois disso, elas tendem a continuar se multiplicando. No cérebro, esse crescimento desenfreado geraria um tumor. “Conseguimos, então, induzi-las a começar a se transformar em neurônios, perdendo a capacidade de multiplicação”, diz ele. Ou seja, reproduziram-se células do próprio cérebro, portanto sem risco de rejeição, e elas ficaram no ponto para o implante. As boas notícias não param aí. Pesquisas com ratos demonstram que neurônios imaturos sabem o que fazer quando colocadas no cérebro. A vizinhança lhes envia sinais químicos que indicam onde ficar e para que lado estender conexões. O tcheco Hynek Wichterle, da Universidade Rockefeller, injetou células em cobaias com danos cerebrais e observou que elas migravam para o lugar onde eram necessárias. “Aparentemente, elas começaram a restabelecer as conexões nervosas perdidas”.
O sueco Eriksson também está tendo resultados excelentes tratando roedores com derrame, a mais complicada de todas aquelas doenças, porque mata uma quantidade enorme de neurônios diferentes em vários lugares do cérebro. “Conseguimos o retorno de funções perdidas”. Mas não é possível dar mais detalhes porque a pesquisa não terminou”. As coisas estão acontecendo muito rápido, tudo converge para a cura do que sempre se julgou incurável. A teimosa estrela está cedendo. Vários pesquisadores, incluindo Ciro, estão conseguindo fazer que células nervosas danificadas de ratos se reconectem. Os axônios, banhados num gel de fatores de crescimento, voltam a crescer e retomam sua função. “O melhor é que estamos percebendo que um retorno estrutural de apenas 10% já garante a volta da sensibilidade e dos movimentos”. Ou seja, um ganho enorme para tetraplégicos e paraplégicos.
Os pesquisadores também perceberam que os fatores de crescimento podem proteger as células. Durante um derrame, por exemplo, a morte de um grupo de neurônios acaba liberando substâncias que matam milhares de outros, ao longo de semanas. O uso dos fatores logo após a internação interrompe essa reação em cadeia.
Um outro trabalho recente e incrível, cujos resultados deverão ser sentidos logo, relaciona a criação de novos neurônios aos estímulos do meio ambiente. A neurologista americana Elizabeth Gould, da Universidade de Princeton, provou que ratos presos em jaulas mais desafiadoras, com mais brincadeiras e labirintos, produzem mais neurônios.
Aparentemente, estímulos externos acionaram o mesmo mecanismo que os pesquisadores querem ativar com injeção de substâncias. Mais uma prova da capacidade do cérebro de se autoconsertar. “Resta saber se o mesmo se aplica a humanos”. De qualquer forma, os tratamentos de fisioterapia e de reabilitação de vítimas de derrame deverão mudar, inspirados pelos resultados com cobaias.
É. Parece que, afinal de contas, a célula nervosa não é uma estrela tão antipática quanto insinuavam os cientistas. Faltava apenas tratá-la com mais compreensão.

Cinco voluntários, em estado terminal de câncer, receberam doses de um marcador, substância que gruda no DNA da célula quando ela se multiplica. Portanto, só é absorvida quando há divisão. Assim, os pesquisadores sabem que toda célula marcada é nova.
Depois que os pacientes morreram, os médicos abriram seu cérebro e encontraram o marcador – prova de que havia células novas.
Para surpresa de todos, as células novas eram neurônios. Só que neurônios não se dividem. Quem poderia então tê-los gerado? A única explicação possível para o surgimento de neurônios novos é que eles fossem filhos das chamadas células-tronco. Elas são corpos não especializados à espera de comandos químicos para se transformar em outras células. Ao se dividirem, elas teriam absorvido o marcador.
O cérebro, então, enviou uma ordem química para a célula-tronco recém-dividida. Ele avisou que precisava de neurônios novos e mandou que ela se transformasse em célula nervosa. As substâncias químicas, então, fizeram com que ela se especializasse.
No final, surgiu uma célula nervosa igualzinha às outras, encontrada depois pelos médicos no hipocampo. Até hoje, julgava-se que o cérebro era incapaz de produzir uma dessas depois da fase embrionária, mas a nova descoberta derrubou o mito.
A cabeça pode estar cheia de células-tronco.
Nem só de neurônios é feito o cérebro. Praticamente todo o resto do espaço é ocupado por diferentes células. De todas as células cerebrais, as mais numerosas são os astrócitos, que podem ser os geradores de novas células nervosas.
Células-tronco, possivelmente astrócitos, depois de extraídas com microcirurgia da região do cérebro que está doente, seriam cultivadas em laboratório. As células-tronco se transformariam em neurônios ainda pouco diferenciados e seriam introduzidas na mesma área do cérebro.
Os cientistas esperam que elas saibam o que fazer daí para a frente. O ambiente as induziria a estabelecer conexões e a começar a funcionar.
A medula espinhal é bem menos complexa que o cérebro. Há menor quantidade de células e menos conexões. Deve ser a primeira cura a ser alcançada, ainda na próxima década.
Neurônios que passam pela espinha são muito grandes, têm mais de 1 metro de comprimento. Uma lesão ali pode cortar suas conexões, acabando com a transmissão de impulsos. Mas o corpo celular pode estar vivo lá no cérebro.
Quando os axônios são rompidos, as células param de transmitir informações e preparam-se para crescer. Como não têm as substâncias necessárias, não conseguem se consertar e podem morrer. A injeção de fatores de crescimento promove a recuperação do neurônio, que começa a estender de novo seu axônio. A conexão se restabelece. Voltam a sensibilidade e o movimento.



quarta-feira, 20 de julho de 2016

A SUPERMÁQUINA 5 - INDEFINIDAMENTE JOVENS







Publicado em "www.litoralmania.com.br" em 20/07/2.016
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PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

A SUPERMÁQUINA 5 – INDEFINIDAMENTE JOVENS

ALGUNS DOS MAIS INFLUENTES MAGNATAS DO VALE DO SILÍCIO ESTÃO APOSTANDO BILHÕES NUMA IDEIA OUSADA: A CURA DA VELHICE TORNOU-SE UM OBJETIVO CONCRETO.
Em 2.013 a Google criou uma empresa, a California Life Company que recebeu o investimento de U$ 750 milhões e tem como objetivo curar a velhice. Seu consultor Ray Kurzweil recebeu o apoio de figuras como Dave Asprey, presidente da Silicon Valley Health Institute, uma organização sem fins lucrativos dedicada a promover pesquisas que ajudem a reduzir os efeitos degenerativos da velhice. Peter Thiel doou U$ 3,5 milhões para a fundação Methuselah (grafia clássica para Matusalém) que ajuda a bancar pesquisas ligadas à longevidade.
Conforme você vive, as suas células se multiplicam, o organismo vai criando novas para substituir as que morrem. Esse processo não é infinito. Ele “desgasta” o DNA. Esse acúmulo de células capengas, então, gera doenças e dá origem àqueles sintomas todos da idade avançada. “Para cada ruga na cara, há uma ruga dentro de você”. Se pudermos consertar o que nos faz morrer de idade avançada, podemos viver muitos anos. Portanto, ao combatermos a velhice podemos evitar doenças e viver por mais tempo. E de lambuja, ainda ganhamos uma aparência jovem mais duradoura.
Em 2.004, Ray Kurzweil lançou o livro “A Medicina da Imortalidade”, assinado em parceria com o médico Terry Grossmann. Ele acredita que podemos viver para sempre.
O método é complexo, envolve dietas rigorosas, acompanhamento médico, relaxamento e restrição de calorias. O tratamento poderá fazer com que os humanos interrompam o processo de decadência do corpo a partir dos 30 anos, quando a multiplicação celular começa a apresentar defeitos.
Depois, se você sobreviver às próximas décadas, chegará a segunda fase: a biotecnologia, que será capaz de reparar os danos do seu organismo, do DNA e remover resíduos de moléculas oxidadas. Espera-se que pessoas de 70 anos tenham a aparência de 30 e poucos. Mas para chegar a esse ponto são necessárias muitas pesquisas. A segunda onda da revolução da biotecnologia proposta por Kurzweil depende do desenvolvimento de terapias capazes de agir diretamente no DNA, onde os estudos avançam a passos largos.
Grey, por exemplo, está trabalhando numa técnica de preservação de um backup do DNA mitocondrial, um dos mais afetados pela oxidação das células. Assim, após décadas, poderemos  recuperar um backup do DNA e recoloca-lo de volta na mitocôndria para que ela volte a funcionar como antes de envelhecer. O nosso metabolismo é muito complicado, é mais fácil recuperar células do que desacelerar o ritmo dos estragos produzidos nelas.
Mais tarde, chegará a hora da terceira onda: a revolução da tecnologia da inteligência artificial. Nos tornaremos “pós-humanos”. Robôs microscópicos serão programados para interagir com nossas células e realizar reparos em nossos corpos.
Stefano Palagi e equipe do Instituto Max Plang, na Alemanha, construíram microrrobôs de 0,1 mm inspirados nos cilióforos, que se movimentam em meio líquido. Minissubmarinos que naveguem pelo corpo humano para detectar e curar doenças ainda podem ser coisa de ficção científica, mas a equipe já está pensando em testar seus microrrobôs acionados por luz como assistentes na ponta de um endoscópio.

Vamos imprimir rins e fígados defeituosos em impressoras 3D e substituí-los.
Num último estágio, estamos falando em tempos de inteligência artificial – Bil Gates e Stephen Hawkins abordam o assunto com muita seriedade e certo temor das consequências -, em caso de “morte biológica”, acionaremos o backup das nossas mentes. Assim como você faz backup do seu computador, você poderá guardar cópia do seu cérebro e executá-la em um robô, que passará a ser...você. Teremos chegado à vida eterna,ao menos no tocante do nosso intelecto. 
Os últimos estágios  desse plano rumo à juventude eterna  continuam tão longe da realidade como as viagens intergaláticas.
É nesse futuro que os bilionários do Vale do Silício estão apostando.
QUANDO A CIÊNCIA SABE O QUE PROCURA, GERALMENTE ENCONTRA – Cícero Galli Coimbra, neurologista)
Na próxima coluna, que completará a série, abordaremos “O milagre da multiplicação dos neurônios”.
P.S.: Dados fundamentais para a elaboração desta coluna e das posteriores foram pesquisados na Revista Superinteressante, edição 359-A de maio/2.016 e no Google.




Jayme José de Oliveira

cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

segunda-feira, 11 de julho de 2016

MORDOMIAS, ABUSOS x SOCIAL




Coluna publicada em "www.litoralmania.com.br" - 11/07/2.016

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PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.


MORDOMIAS, ABUSOS x SOCIAL

No início de junho/2.016 o jornalista Vinicius Sassine mostrou que em três anos a FAB deixou de transportar 153 órgãos a serem transplantados. No mesmo período, atendeu a 716 reservas de ministros, juízes do Supremo Tribunal, presidentes da Câmara e do Senado.                                                                                                   
A exposição do custo político desse desvio acintoso das funções sociais para mordomias levou o governo a determinar que a FAB mantenha sempre um avião disponível para transporte de órgãos. Sassine foi conferir o resultado e constatou que, após a determinação, em apenas três semanas foram transportados oito corações, quatro fígados e do dois pâncreas.
O uso, por vezes abusivo, de meios de transporte destinados precipuamente a fins sociais para outras finalidades é um grave desvio de função.                         
O governador José Ivo Sartori incorreu nesse deslize ao utilizar um helicóptero da BM para comparecer a um churrasco. Na ocasião faltou aeronave para transportar uma criança ao ProntoSocorro.                                                                                              Durante o período eleitoral helicópteros de diversos estados, destinados a fins de interesse público foram requisitados por candidatos a fim de se dirigirem às suas bases eleitorais. Impunemente. São tantas e tão abusivas as ocorrências similares que seria abusar da paciência relatá-las, além de fastidioso. Até para a ilha de Fernando de Noronha foram realizadas.
Considerando a facilidade com que qualquer “autoridade” consegue viajar às custas do erário causou estranheza a determinação do presidente em exercício Michel Temer em restringir os voos de Dilma Rousseff exclusivamente para Porto Alegre, local de sua residência. A determinação obedece à legislação, visto que, enquanto não se definir sua situação pelo Senado, a presidente temporariamente afastada não exerce nenhuma função oficial que justifique os pedidos.
Não apenas neste particular, em inúmeros os brasileiros esperam que desperdícios, muitos abusivos e ilegais, sejam escoimados.
Projetos de alta relevância social como o “Bolsa-Família”, “Minha-Casa-Minha-Vida”, seguro desemprego, aposentadorias a pessoas carentes que por um motivo ou outro não fariam jus à bonificação por falta de contribuição, em vez de serem restringidos requerem fiscalização rigorosa para evitar abusos e extirpação sem leniência nos casos comprovados de burla. Convenhamos que, escoimando-se os abusos, poder-se-á manter os auxílios aos necessitados sem que isso venha a resultar em rombos estratosféricos no orçamento. São quantias irrisórias individualmente as excluídas, mas, lembremos que um oceano é formado por minúsculas gotas agregadas.
P.S. Abusos também são cometidos contra a nossa língua no cotidiano. Ao analisarmos o que lemos ou ouvimos deveríamos ser tão críticos como ao maldizermos jogador que desperdiça um pênalti. O mínimo que lhe assacamos é: perna-de-pau.                                                                   O que dizer de “Olimpíadas do Rio de Janeiro”, tão corriqueiro entre muitos profissionais da imprensa? Olimpíada especificada, sempre é no singular. Querendo pluralizar, use “Jogos Olímpicos”. Alguém se atreveria a dizer “CampeonatoS MundiaiS FIFA de Futebol  de 2.018 na Rússia”?                                                                                                                                    Para observar mais agressões à grafia, nem precisamos nos afastar: Avenida ParaguaSSÚ.      

1. Palavras com origem indígena são grafadas SEMPRE com “Ç”.                                                  
2. Não se acentua oxítono terminado em "U".                                                                    Paraguaçu, a índia que casou com Caramuru merece que não alterem seu nome. 




 Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado








quarta-feira, 6 de julho de 2016

PENTE FINO NO BOLSA-FAMÍLIA




Publicada em "www.litoralmania.com.br" - 06/07/2.01

http://www.litoralmania.com.br/99197-2/


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

PENTE-FINO NO BOLSA-FAMÍLIA

Pode-se pensar que diante dos estratosféricos números da corrupção já desnudados no Petrolão e afins, que os averiguados após investigações nos desvios e indicações espúrias para o Bolsa-Família e Minha-Casa-Minha-Vida possam ser considerados de menor conteúdo imoral. Afinal se destinam a pessoas no limite da pobreza absoluta. Errado, e por dois motivos, no mínimo:

1.    Exatamente por serem surrupiados de pessoas mais necessitadas, a imoralidade atinge locais que jamais se poderia sequer imaginar.
2.    Os valores são, comparativamente, tão vultosos como aqueles.

As fraudes do programa Bolsa-Família dariam para fazer quase 30.000 casas pelo programa Minha-Casa-Minha-Vida. Somente entre 2013 e 2014, pelo menos 2,6 bilhões de reais do total da verba reservada ao Bolsa-Família foram parar no bolso de quem não precisava. 
O resultado do maior pente-fino já realizado desde o início do programa do governo federal em 2.003, feito pelo Ministério Público Federal a partir do cruzamento de dados do antigo Ministério do Desenvolvimento Social com informações de órgãos como Receita Federal, Tribunais de Contas e Tribunal Superior Eleitoral, detectou mais de 1 milhão de casos de fraude em todos os estados brasileiros. O Bolsa-Família, um valor mensal a partir de R$ 77,00 por pessoa, é destinado exclusivamente a brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza. A varredura mostrou, no entanto, que entre os que receberam indevidamente o auxílio no período estão funcionários públicos, mortos, empresários e até doadores de campanha. Só de funcionários públicos foram 585.000 os beneficiários ilegais.
“Sempre alertei que havia muita gente no Bolsa-Família, em 2.014 eram 14 milhões. Ou aumentou muito a pobreza no Brasil ou tem um problema para se analisar melhor. Um dos problemas é que ele é autodeclaratório, basta a pessoa dizer que é pobre. Queremos que, quando a pessoa apresentar o CPF para o funcionário da prefeitura, já apareça se ela está ou não apta para receber o benefício. Vamos fazer um pente-fino, tirando quem não precisa e colocando quem não consegue entrar”. (Osmar Terra, Ministro do Desenvolvimento Social - Zero Hora, 27/06/2.016)
Dinheiro em profusão atrai estelionatários. Em junho foi, mais uma vez preso um assaltante de 27 anos e que colecionava 16 flagrantes. Recebia R$ 77,00 mensais. O Bolsa-Família ainda era conhecido como Fome-Zero quando vivenciou sua primeira grande onda de fraudes. O Governo Federal identificou 142.000 fantasmas.

Humberto Trezzi, jornalista da Zero Hora, escreveu em 27/06/2.016:
“Um zeloso servidor público municipal informou que, em Sapucaia do Sul, grande parte dos listados pelo “Bolsa-Família” eram inexistentes. Consegui a lista e fui apurar. Batia as portas das residências e quem residia ali não tinha recebido o benefício.
Repetimos o esforço em diversas outras cidades gaúchas e, além de identificar cartões fantasmas, flagramos gente com casa própria, automotriz e carro na garagem ganhando a verba destinada a pessoas que passam fome.
O jornal apontou mais de 500 nomes duplicados, o que levou o governo a recadastrar os 5,9 milhões de beneficiários do Bolsa-Família no país. Daí foram expurgados 142 mil nomes. Uma fiscalização que deveria ser constante”.

A Policia Federal investiga R$ 180 milhões destinados à Cultura. A operação que envolveu 124 policiais e servidores do CGU tinha por objetivo o cumprimento de 14 mandados de prisão preventiva e 37 de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. De acordo com a Procuradora da República Louise Jeanette Kahn há indícios de falta de fiscalização nos projetos em questão. A Lei Rouanet foi sancionada pelo presidente Fernando Collor em 23/12/1.991 e permite a viabilização de projetos por renúncia fiscal do Imposto de Renda.
Em 22/04/2.016 uma festa luxuosa para 120 convidados, em Jurerê Internacional (SC), com show de sertanejo famoso, foi paga com recursos públicos da Lei Rouanet, segundo aponta investigação da PF. Segundo os promotores da festa, “todos os projetos inscritos na Lei Rouanet foram apresentados na forma da lei”.
Artistas consagrados utilizaram os recursos em espetáculos de alta rentabilidade comercial. Como a lei não faz distinção entre quem precisa ou não, essa depuração deveria ser feita pela Comissão Nacional de Incentivo à Cultura. Infelizmente, o órgão não tem cumprido adequadamente o papel.

Comentário do colunista: “Leis instituídas com finalidade de alavancar a ascensão social e cultural de parcelas carentes de oportunidades devem ser fiscalizadas com rigor e sem leniência, para evitar que vigaristas se locupletem. Este rigor não se verifica em projetos como o Bolsa-Família, Minha-Casa-Minha-Vida e Lei Rouanet”.

DE BOAS INTENÇÕES O INFERNO ESTÁ CHEIO.

A interpretação nos remete à motivação real dum empreendimento ou ação que pratiquemos ou propusermos institucionalizar. O resultado obtido geralmente é meritório, o que poderá macular é, pura e simplesmente, uma intenção originária menos nobre. Exemplo: Há uma diferença abissal entre criar uma fundação com fins filantrópicos por altruísmo, o Médicos Sem Fronteira pode servir de paradigma. Não se percebe nenhuma intenção subjacente à de prestar serviços humanitários. Por outro ado, quando um grupo político cria um programa que resulta em benefícios sociais importantes, aparentemente se equipara ao anteriormente citado. Pode, porém, haver uma grande diferença: subjazer a esperança de garantir o voto futuro dos beneficiários. Condenável? Não! Passará a sê-lo caso se divulgue, por exemplo que, na eventualidade de ocorrer vitória eleitoral de outra facção os benefícios serão desconstituídos, embora não seja essa a perspectiva nem o desejo de ninguém.                                                                               Na democracia, em sua plena acepção, tudo o que ocorre em benefício da população, sejam carentes ou abonados, deve ter continuidade que se estenderá no tempo. As únicas modificações e ou correções admissíveis e mesmo estimuladas, sãono sentido de aprimorar as regras e fiscalizar COM RIGOR as possíveis tentativas de desvirtuar os projetos.
E COMO É DIFÍCIL!!!






                                                                                                                             Jayme José de Oliveira
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