PONTO E CONTRAPONTO - por
Jayme José de Oliveira
“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
DAR AS MÃOS,
NÃO CERRAR OS PUNHOS – 02/11/2018
O desgaste da política, das siglas
tradicionais e a crise econômica cansada de tanta corrupção criaram condições
para o surgimento de Bolsonaro, na esteira do vácuo deixado pela descrença nos
atores tradicionais.
A retórica direta, simplista – quase simplória
– foi compreendida pelo eleitor comum, cansado, desiludido do palavreado
pomposo que tentava – inutilmente – ocultar o viés do aproveitamento indevido,
indecoroso, das verbas que deveriam ser aplicadas no bem estar da população.
Por outro lado, investimentos maciços em obras no exterior – porto Mariel,
metrô de Caracas, ponte sobre o rio Orinoco, estradas na África, etc., causaram
justa revolta. Financiados a juros ínfimos com dólares captados a juros de
mercado, a diferença bancada pelo Brasil. Os pagamentos serão efetuados, SE
FOREM HONRADOS PELOS TOMADORES ESTRANGEIROS, com prazos a perder de vista. Brasileiros
de bom senso e inconformados com a falta de empreendimentos similares no país
inflaram das urnas.
O atentado a faca
contra Bolsonaro, inicialmente considerado fake por adversários consubstanciou
a possibilidade de vitória, sem maiores desgastes pelo não comparecimento a
debates. Estes, tradicionalmente favorecem opositores em desvantagem nas
pesquisas, sempre usados para “metralhar” quem ponteia.
Redução da maioridade penal para 16
anos; excludente de ilicitude para policiais que matam em confronto com
delinquentes; flexibilização do Estatuto do Desarmamento; redução dos
benefícios da progressão de penas; penalização severa para as invasões de
propriedades rurais ou urbanas, classificando-as como atos terroristas e outras
alterações na legislação apenas serão factíveis se obedecerem os trâmites
democráticos, com alterações na Constituição. Isto representa uma garantia
contra arroubos autoritários tão temidos por muitos cidadãos, mesmo que tenham
votado no candidato vencedor.
O desafio do PT, na avaliação de
analistas, será superar divergências internas e aglutinar o apoio de siglas
que, na reta final da disputa se mantiveram longe do palanque de Haddad, como o
PDT de Ciro Gomes. Este, inconformado com a rasteira que lhe foi aplicada no 1º
turno – Lula o responsável direto – não apenas se abstraiu de auxiliar, viajou
para o exterior e em declarações após o retorno deixou patente o ressentimento
que persiste e trará profundos reflexos nos próximos pleitos. Os preitos de
Haddad para apoio foram sumariamente rejeitados.
O PT sempre foi hábil como oposição,
porém, agora, o encanto que irradiava como o partido da ética, da moral e do
desenvolvimento foi soterrado pela avalanche da corrupção, desperdício e até
mesmo da apropriação indébita, os conhecidos “malfeitos” que, aliás, foram
muito mais que simples “malfeitos”. Contudo, mesmo derrotado o PT saiu fortalecido
da eleição, considerando o sorvedouro que submergiu outros partidos,
principalmente o PSDB. O PMDB ultimamente se caracterizou como o partido do
“engajamento” ao vencedor. Suas últimas aparições na disputa foram pífias, vejam-se
os votos que Orestes Quércia e Henrique Meirelles conquistaram quando
disputantes.
As possibilidades dos partidos
derrotados recuperarem posições nos próximos pleitos dependem,
fundamentalmente, de Bolsonaro não corresponder aos anseios de seus eleitores e
do mercado. E isso a curto prazo.
Para refletir: o panorama político
virou um autêntico “samba do crioulo doido”. Compensando parcialmente o
imobilismo de possíveis – e desejados – correligionários, adversários ferrenhos
apoiaram o PT no 2º turno: Alberto Goldman (ex-governador de São Paulo); Rubens
Ricupero (ex-ministro); Jarbas Vasconcelos (senador) que afirmou: jamais
votaria em Bolsonaro, não há condições. Viram-se
na condição de Odisseu (Ulisses para os romanos) descrita por Homero em
“Odisseia”: entre Cila e Caridbis, qualquer decisão apontava mais para um
naufrágio que para a chegada a Ítaca, a ilha do porto seguro onde o aguardava,
por dez anos, sua esposa Penélope.
Estamos numa situação tão caótica que
um único caminho se apresenta para a sobrevivência. Nossa, dos nossos filhos e
dos filhos dos nossos filhos, pode ser resumido numa palavra: CONCILIAÇÃO. Em
coluna anterior apontei a coragem e desprendimento de Nelson Mandela, África do
Sul, ao desconsiderar toda a humilhação e inconformismo com os 26 anos que
sofrera no cárcere. Mostrou-se ao mundo como um verdadeiro HOMEM, conciliou
negros com brancos e fez ressurgir uma NAÇÃO!
FAÇAMOS O MESMO!
P.S.: Pronunciamentos de Bolsonaro e
Haddad após a divulgação do resultado: todos ESCUTARAM as mesmas palavras. Cada
qual OUVIU e INTERPRETOU à sua maneira. Por enquanto continua o DISSENSO.
Em ambos os grupos que disputaram no voto a presidência do Brasil há
radicais que se consideram “donos da verdade” e são eles que aprofundam a
fissura que dividiu os brasileiros de maneira aparentemente incontornável. A
eles dedico um pensamento de frei Betto, incontestável partidário das esquerdas
no Brasil: “Existem três verdades: a sua, a minha e a verdade verdadeira. Nós
dois, juntos, devemos procurar a verdade verdadeira”.
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado