Coluna publicada em "www.litoralmania.com.br" - 11/11/2017
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PONTO E CONTRAPONTO - por
Jayme José de Oliveira
“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
BURACO NEGRO
No apêndice do livro “Vozes de
Tchernóbil” de Svetlana Aleksióvitch, Prêmio Nobel de Literatura 2015, a autora
reproduz um tabuleta afixada à porta dum cemitério: “ALTA RADIAÇÃO, PROIBIDO
ENTRAR A PÉ OU DE CARRO”. Nele jazem os corpos dos que lacraram a usina de
Tchermóbil, incendiada em 26/04/1986, ocasião em que lançou imensa quantidade
de partículas radioativas sobre a URSS e boa parte da Europa. O livro é um
libelo contra os que tentaram, inutilmente, abafar a catástrofe. “A ciência era
conduzida pela política, a medicina estava amarrada à política”.
No mundo em geral e no Brasil em
particular as decisões políticas equivocadas – para dizer pouco – também
resultaram em catástrofes. Segundo Flávio Tavares: “O mal não está na política,
o mal está naqueles que transformaram os partidos brasileiros em cabides de
negócios”; “o significado da política passou a ser tratar bem as pessoas para
conseguir votos. A classe política corre o risco de se transformar em coveira
da democracia”. Tanto a direita
como a esquerda querem mudar o mundo. Para conseguir é necessário que, mesmo
sendo adversários, dialoguem em busca de soluções. Infelizmente, hoje, a
política partidária busca se acomodar em termos pessoais. Faça-se qualquer
coligação, mesmo com adversários imiscíveis. Tenta-se, inutilmente, misturar
água com óleo na expectativa de que se tornem um corpo homogêneo. Impossível. As
autoridades não são uma gangue de criminosos. Não, elas são antes de tudo, uma
combinação letal de ganância e corporativismo. O princípio de vida deles,
adquirido nos meandros dos sindicatos e no submundo dos gabinetes é o poder e
suas benesses. Este é o ponto. Negociam-se promoções e as regras do jogo são:
se você não agradar seus superiores, não ascenderá no cargo, não compartilharás
os dividendos – de prestígio e monetários. Continuamos sendo um “governo de
coalizão”. O poder e os benefícios monetários são as prioridades. Não a pátria
e o povo. Todos aguardam a chamada telefônica, ninguém faz nada por conta
própria, ninguém assume as responsabilidades. Quanto custou e continua custando
ao país? Quantas vidas poderiam ter sido salvas se o dinheiro desviado tivesse
sido usado com o destino para o qual foi arrecadado? As blindagens e os foros especiais são responsáveis pela tranquilidade
para esses procederes não republicanos e a convicção que não responderão pelos
malfeitos. Isso já é história. História de um crime. Apesar dos pesares eu
creio na História. No julgamento da História. A Lava-Jato não terminou, apenas
começou.
FATOS QUE DESLUSTRAM:
A defesa do ex-ministro Geddel Vieira
Lima (PMDB-BA) quer saber qual o número do telefone que fez a ligação anônima
que levou a Polícia Federal (PF) a descobrir o apartamento onde estavam os R$
51 milhões em espécie, em Salvador, BA, que seriam do político. Quer também a
identidade do policial que recebeu o chamado. PARA QUE SERÁ? O advogado Gamil Föppel argumenta que a busca
e apreensão foi decretada tendo por base, unicamente, uma denúncia anônima, o
que seria ilegal.
A Ministra dos Direitos Humanos,
Luislinda Valois (PSDB-BA) é aposentada como desembargadora no valor de R$
30.471,10 e requer receber, cumulativamente, R$ 30.934,70, salário de ministra.
Se for atendida, perceberá R$ 61.405,80. Os vencimentos estão limitados constitucionalmente
em R$ 33.700,00, equivalentes ao subsídio dos ministros do STF.
Para
justificar a solicitação, num arrazoado de 207 páginas escreveu que a situação,
“sem sombra de dúvidas” se assemelha ao trabalho escravo, o que é rejeitado
peremptoriamente pela legislação brasileira desde os idos de 1888 com a Lei da
Abolição da Escravatura. À rádio CBN ressaltou que na condição do cargo de
ministra há a necessidade de se apresentar “trajada dignamente”. É cabelo, é
roupa, é sapato, é perfume, é alimentação.
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Como vou comer, beber e calçar? A controvérsia acabou com uma frase nota de sua assessoria na qual
Luislinda retirava o pedido.
O caso da ministra não é singular,
outras categorias pleiteiam - e recebem - acima do teto, usando os mais
diversos subterfúgios. Resta, agora, seguindo o mesmo padrão universalizar o
critério. Citemos alguns dos “penduricalhos” vigentes: Auxílio moradia; carros oficiais com motorista; prêmio por
produtividade; auxílio-creche; auxílio-educação; auxílio-funeral; reembolso por
despesas médicas e odontológicas não cobertas pelo plano-saúde; ajuda de custo
para capacitação; retribuição por acúmulo de funções; diárias; passagens
aéreas; verba de representação; gratificação por exercício de cargo em locais
de difícil acesso; etc.
A magistratura está requerendo, para
2018 um aumento de 5,33%, mesmo que seja aprovado projeto de bloqueio dos
reajustes de vencimentos. Funcionários, não satisfeitos com o índice pleiteiam
20%.
O ex-prefeito de São Bernardo Luiz
Marinho é um dos petistas mais próximos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Ex-ministro do Trabalho e da Previdência, o ex-prefeito alçado ao posto
de pré-candidato ao governo de São Paulo afirmou ao jornal Estado de São
Paulo que o PT tem de rever para as eleições de 2018 a
proibição de alianças com os partidos que apoiaram o impeachment de Dilma
Rousseff. Para “RECUPERAR A MAIORIA DO POVO BRASILEIRO”.
Rompido com o PT desde que derrubou Dilma e mandou
o PT para casa, o PMDB decidiu que o divórcio já não é mais necessário. O
comando nacional do PMDB autorizou novos casamentos com o PT, tudo com vistas
às eleições do ano que vem. A ordem partiu do senador Romero Jucá.
Quando uma categoria como o judiciário se considera
descompromissada com a situação calamitosa da economia e requer reposições
salariais diferenciadas e indevidas; quando ministra se considera merecedora de
acumular aposentadoria com vencimentos acima do teto legal; quando ex-ministro
pego com a “boca na botija” exige ações contra patriotas que denunciam suas
falcatruas; quando partidos, com fins exclusivamente eleitorais desconsideram
as coligações espúrias para, oportunisticamente, contribuir para defenestrar
ex-aliados e, na primeira oportunidade reatam as relações como se nada houvesse
ocorrido... cria-se um BURACO NEGRO que engolfa tudo e todos, principalmente a
honorabilidade do sistema. Para desespero da população indefesa, à mercê de
tanta promiscuidade e desfaçatez.
Podemos relembrar as Catilinárias de Cícero:
“Quousque tandem abutere patientia mostra?” (Até quando abusarás da nossa
paciência?)
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado