Encíclica ‘Laudato si’ – Por Jayme José de Oliveira
O Vaticano divulgou na manhã de 18/06/2.015 a nova Encíclica do Papa Francisco, “Laudato si – sobre o cuidado da casa comum”. O texto trata da ecologia humana e o clima está no centro das preocupações apresentadas pelo pontífice. Além disso, são apontadas as problemáticas e desafios de preservação e prevenção, como também aspectos da proteção à criação e questões como a fome no mundo, pobreza, globalização e escassez.
Este é o primeiro documento escrito integralmente pelo pontífice. Em 2013, no início do pontificado do Papa Francisco, o primeiro documento publicado foi “Lumen Fidei”, que já tinha sido iniciado pelo papa emérito Bento XVI.
Ao final da Audiência Geral do dia 17/06/2.015, o Papa Francisco disse que a Terra tem sido maltratada e saqueada. “Esta nossa casa está sendo arruinada e isso prejudica a todos, especialmente os mais pobres. Portanto, o meu apelo é à responsabilidade, com base na tarefa que Deus deu ao ser humano na criação: cultivar e preservar o jardim em que Ele o colocou. Convido todos a acolher com ânimo aberto este Documento, que está em sintonia com a Doutrina Social da Igreja”, exortou Francisco.
A nova Encíclica é composta por seis capítulos, são eles: “O que está a acontecer à nossa casa”, “O Evangelho da criação”, “A raiz humana da crise ecológica”, “Uma ecologia integral”, “Algumas linhas de orientação e ação” e “Educação e espiritualidade ecológicas”.
Ao longo do texto, o papa convida a ouvir os gemidos da criação, exortando todos a uma “conversão ecológica”, a “mudar de rumo”, assumindo a responsabilidade de um compromisso para o “cuidado da casa comum”.
À primeira vista a Encíclica se apresenta como um anátema aos esforços do homem em modificar a natureza com fim de agregar mais, melhores e mais lucrativos produtos para comercialização e consumo. Para tanto, seriam desconsideradas as mais comezinhas precauções em preservar o meio ambiente nas condições ideais tornando, a médio e longo prazos, a habitabilidade do planeta comprometida em definitivo.
Agricultura em larga escala, organismos geneticamente modificados, poluição por queima de combustíveis fósseis, degradação da terra, do ar e dos sistemas hídricos seriam um resultado inevitável.
Por outro lado, apenas as nações mais ricas e desenvolvidas usufruiriam as benesses desse “progresso”, enquanto os pobres seriam cada vez mais espezinhados e destinados a uma sobrevivência em condições sub-humanas.
Nada mais falso, o Papa Francisco que afirmou com a convicção oriunda do seu profundo conhecimento que o Big-Bang não contraria os cânones da Igreja e que ciência e religião não são antípodas mas complementares, jamais cometeria a heresia de condenar o progresso que, em última análise, desde já e cada vez mais, labora na melhoria das condições de vida de TODOS. Apenas para exemplificar, foi a ciência que nos trouxe os medicamentos mais diversos, desde os fitoterápicos até os transgênicos (vacina H1N1, insulina, etc.), os meios de locomoção, os alimentos abundantes para saciar a fome que o malthusianismo apregoava como irreversível, o lazer, etc.
Para possibilitar uma análise racional da encíclica destaco alguns tópicos e, no final, um link que permite o acesso na íntegra.
Lembro um pensamento do Papa Francisco: “SE O MAL É CONTAGIOSO, O BEM TAMBÉM O É. DEIXEMO-NOS CONTAGIAR PELO BEM”.
“Ajudar os pobres com o dinheiro deve ser sempre um remédio provisório para enfrentar emergências. O verdadeiro objetivo deveria ser consentir-lhes uma vida digna através do trabalho”.
“Com o suor do teu rosto comerás o teu pão, até que retornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás”. (Genesis – 3.19)
- Finalmente reconhecemos, a propósito da situação e das possíveis soluções, que se desenvolveram diferentes perspectivas e linhas de pensamento. Num dos extremos, alguns defendem a todo o custo o mito do progresso, afirmando que os problemas ecológicos resolver-se-ão simplesmente com novas aplicações técnicas, sem considerações éticas nem mudanças de fundo. No extremo oposto, outros pensam que o ser humano, com qualquer uma das suas intervenções, só pode ameaçar e comprometer o ecossistema mundial, pelo que convém reduzir a sua presença no planeta e impedir-lhe todo o tipo de intervenção. Entre estes extremos, a reflexão deveria identificar possíveis cenários futuros, porque não existe só um caminho de solução. Isto deixaria espaço para uma variedade de contribuições que poderiam entrar em diálogo a fim de se chegar a respostas abrangentes.
- Não somos Deus. A terra existe antes de nós e nos foi dada. Isto permite responder a uma acusação lançada contra o pensamento judaico-cristão: foi dito que a narração do Génesis, que convida a “dominar” a terra (Genesis – 1.28), favoreceria a exploração selvagem da natureza, apresentando uma imagem do ser humano como dominador e devastador. Mas esta não é uma interpretação correta da Bíblia, como a entende a Igreja. Se é verdade que nós, cristãos, algumas vezes interpretamos de forma incorreta as Escrituras, hoje devemos decididamente rejeitar que, do fato de sermos criados à imagem de Deus e do mandato de dominar a terra, se deduza um domínio absoluto sobre as outras criaturas.
A liberdade humana pode prestar a sua contribuição inteligente para uma evolução positiva, como pode também acrescentar novos males, novas causas de sofrimento e verdadeiros atrasos. Isto dá lugar à apaixonante e dramática história humana, capaz de transformar-se num desabrochar de libertação, engrandecimento, salvação e amor, ou, pelo contrário, num percurso de declínio e mútua destruição.
- Deus escreveu um livro estupendo, cujas letras são representadas pela multidão de criaturas presentes no universo. O sol e a lua, o cedro e a florzinha, a águia e o pardal. O espetáculo das suas incontáveis diversidades e desigualdades significa que nenhuma criatura se basta a si mesma. Elas só existem na dependência umas das outras, para se completarem mutuamente no serviço umas das outras.
- Cada camponês tem direito natural de possuir um lote razoável de terra onde possa estabelecer o seu lar, trabalhar para a subsistência da sua família e gozar de segurança existencial. Este direito deve ser de tal forma garantido que o seu exercício não seja ilusório mas real. Isto significa que, além do título de propriedade, o camponês deve contar com meios de formação técnica, empréstimos, seguros e acesso ao mercado.
É justo que nos alegremos com estes progressos e nos entusiasmemos à vista das amplas possibilidades que nos abrem estas novidades incessantes, porque “a ciência e a tecnologia são um produto estupendo da criatividade humana que Deus nos deu”. [81] A transformação da natureza para fins úteis é uma característica do gênero humano, desde os seus primórdios e assim a técnica “exprime a tensão do ânimo humano para uma gradual superação de certos condicionamentos materiais”. [82] A tecnologia deu remédio a inúmeros males que afligiam e limitavam o ser humano. Não podemos deixar de apreciar e agradecer os progressos alcançados especialmente na medicina, engenharia e comunicações. Como não havemos de reconhecer todos os esforços de tantos cientistas e técnicos que elaboraram alternativas para um desenvolvimento sustentável?
- É difícil emitir um juízo geral sobre o desenvolvimento de organismos modificados geneticamente (OMG), vegetais ou animais, para fins medicinais ou agropecuários, porque podem ser muito diferentes entre si e requererem distintas considerações. Além disso, os riscos nem sempre se devem atribuir à própria técnica, mas à sua aplicação inadequada ou excessiva. Na realidade, muitas vezes as mutações genéticas foram e continuam a ser produzidas pela própria natureza. E mesmo as provocadas pelo ser humano não são um fenômeno moderno. A domesticação de animais, o cruzamento de espécies e outras práticas antigas universalmente seguidas podem incluir estas considerações. É oportuno recordar que o início dos progressos científicos sobre cereais transgênicos foi a observação de bactérias que, de forma natural e espontânea, produziam uma modificação no genoma dum vegetal. Mas, na natureza estes processos têm um ritmo lento que não se compara com a velocidade imposta pelos avanços tecnológicos atuais, mesmo quando estes avanços se baseiam num desenvolvimento científico de vários séculos.
- Devido à quantidade e variedade de elementos a ter em conta na hora de determinar o impacto ambiental dum empreendimento concreto, torna-se indispensável dar aos pesquisadores um papel preponderante e facilitar a sua interação com uma ampla liberdade acadêmica.
- Sabemos que a tecnologia baseada nos combustíveis fósseis – altamente poluentes, sobretudo o carvão, mas também o petróleo e, em menor medida, o gás – deve ser, progressivamente e sem demora, substituída.
Observação do colunista: Desde 1.961,a partir dos estudos do físico russo Lev Andreevich Artsinovich visando a utilização da fusão nuclear não poluente, livre de resíduos radioativos e com capacidade infinita de produzir energia a partir dos isótopos do hidrogênio (deutério e trítio) os progressos tem sido acelerados e podemos dizer que estamos no limiar de resolver o problema da energia limpa e inesgotável. O desenvolvimento do “TOKAMAK” é uma realidade mais próxima que se possa imaginar tornará obsoletos todos os métodos dependentes da queima de combustíveis fósseis. O TOKAMAK utiliza o mesmo princípio do sol para transformar matéria em energia, seguindo a Lei da Relatividade descoberta por Albert Einstein.
Jayme José de Oliveira – cdjaymejo@gmail.com