Napoleão e a criação do estado do Israel – Por Jayme José de Oliveira
ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE – IV
A humanidade é constituída por uma maioria de pessoas classificadas como médias, não confundir com medíocres. Eventualmente surgem luminares que mercê suas aptidões, personalidades e outros atributos elevados aos píncaros catapultam a civilização, moral, ética, cultural e tecnologicamente rumo ao ápice.
Hoje pretendo prestar uma justa homenagem ao pequeno-grande corso que, a par de ter convulsionado o mundo com suas conquistas nos campos de batalhas, tinha uma visão humanista pouco conhecida e menos ainda divulgada.
Napoleão Bonaparte não conheceu judeus na infância nem, possivelmente nos anos em que estudou na França. Seu primeiro contato com uma comunidade judia ocorreu em 9 de fevereiro de 1.797 durante a campanha da Itália.
Quando o exército francês entrou em Ancora, a comunidade judia vivia confinada num gueto durante a noite. Napoleão se surpreendeu ao constatar que portavam gorros e braçadeiras com estrelas de Davi. Um dos seus oficiais esclareceu que eram judeus e, obrigatoriamente, tinham de retornar ao gueto durante a noite, estavam marcados para identificação. Napoleão, imediatamente, ordenou fossem substituídos pelo emblema tricolor. Suprimiu o gueto e instruiu que lhes fosse permitido praticar abertamente sua religião. Napoleão também libertou os judeus dos guetos de Roma, Veneza, Verona e Pádua.
Em 16 de junho de 1.798, quando os franceses se apoderaram de Malta, inteirado que os Caballeros tratavam os judeus como escravos ordenou sua libertação e permitiu que erigissem uma sinagoga.
Quando os franceses assediavam San Juan del Acre, Napoleão planejou criar na Palestina um estado judeu independente. Os ingleses que acorreram para ajudar os turcos o impediram de realizar o projeto.
PROCLAMAÇÃO À NAÇÃO JUDIA
Quartel General de Jerusalém
10 de abril de 1.799 – VII ano a República Francesa
Na África e Ásia, aos herdeiros legítimos da Palestina:
Israelitas, nação que conquistadores e tiranos privaram durante anos de sua terra ancestral, porém não do seu nome, nem da sua nacionalidade!
Os observadores atentos e imparciais do destino das nações, mesmo não tendo os dons proféticos de Israel e de Joel, se deram conta da veracidade dos profetas que na véspera da destruição de Sion predisseram que os filhos de Sion regressariam à sua pátria com canções de felicidade e os lamentos de tristezas não retornaram jamais (Isaias 35.10).
De pé, exilados felizes! Esta guerra sem similar em toda a história foi empreendida em defesa das terras hereditárias que eram consideradas pelos inimigos como uma presa a ser desfrutada. Agora deixam de existir mil anos de ignomínia. Mesmo que a época pareça desfavorável à expressão de vossas petições, esta guerra lhes oferece hoje, contrariamente às expectativas, o patrimônio de Israel!
A Providência enviou para cá um exército jovem guiado pela justiça e acompanhado pela vitória. Meu quartel general está em Jerusalém e em breve estarei em Damasco, cuja proximidade não deverá mais causar sobressaltos à cidade de David, herdeiros legítimos da Palestina!
A Grande Nação não trafica homens e países como aqueles que venderam vossos ancestrais a todos os povos (Joel 4.6). Não usurpa vosso patrimônio. Não! Solicita apenas o que já conquistou com vosso apoio e autorização e conservará apesar de todos os adversários!
Levantai-vos e mostrai todo o poder que vossos opressores não puderam aniquilar e o valor dos descendentes desses heróis (Macabeo 12.15). Mostrai que dois mil anos e escravidão não foram suficientes para apagar este valor!
Apressai-vos! Este é o momento que talvez não volte nem em mil anos, de exigir a restauração de vossos direitos civis, de vosso lugar entre os povos do mundo. Tendes o direito de uma existência política como nações no concerto das nações. Tendes o direito de adorar livremente ao Senhor de acordo com vossa religião (Joel 4.20).
Não ocorresse o fracasso na frente de San Juan del Acre, Napoleão por meio desta proclamação acordada e impressa em 20 de abril de 1.797, teria criado o Estado de Israel. Os judeus não teriam de esperar 150 anos antes de voltar a ter um estado independente.
Esta proclamação, contudo, produziu frutos, deu origem ao Sionismo ao reforçar a ideia de que era justo que os judeus recobrassem uma pátria. As ideias expressas por Napoleão exaltaram o entusiasmo de todos que viram nelas a realização da profecia bíblica segundo a qual os judeus recobrariam um dia a posse da terra dos seus ancestrais. Cento e dezoito anos depois, em 1.917, o conde de Balfour, que era o chefe do Partido Conservador, declarou que a Inglaterra deveria ajudar o povo judeu a recuperar a Palestina, porém apenas 31 anos após, em 1.948, quando o Estado e Israel foi reconhecido por um voto da Assembleia Geral das Nações Unidas.
A declaração de Napoleão, nesse primeiro dia de Páscoa de 1,799, teve portanto um papel importante na criação do Estado de Isael.
No “El Moniteur Universal” de Paris em 22 de maio de 1.799, encontramos: “Bonaparte publicou uma proclamação por meio da qual convida a todos os judeus da Ásia e da África a juntarem-se sob sua bandeira com a finalidade de restabelecer a antiga Jerusalém”.
Em 16 de agosto de 1,800, Napoleão declarou: “Se eu governasse uma nação judia, reconstruiria o Templo de Salomão”.
Para finalizar este texto, cujo conteúdo suponho inédito para muitos, não podemos deixar de ressaltar a fundamental importância da atuação do gaúcho Osvaldo Aranha que presidiu a II Assembleia Geral da ONU que votou o plano para a partição da Palestina em 1.947, que culminou com a criação do Estado de Israel, fato que lhe rendeu eterna gratidão dos judeus e sionistas por sua atuação – postergou por três dias a votação, até que no decorrer do debate se chegasse ao número necessário de votos favoráveis, 30, três a mais do mínimo exigido, do Haiti, da Libéria e das Filipinas – em claro confronto com os países árabes da região.
Jayme José de Oliveira – cdjaymejo@gmail.com