“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
NOVA ROTA DA
SEDA? – 23/03/2022
“As
guerras dizem que ocorrem por nobres razões: a segurança internacional, a
dignidade nacional, a democracia, a liberdade, a ordem, o mandato da
civilização ou a vontade de Deus. Ninguém tem a dignidade de confessar: Eu mato
para roubar”. (Eduardo Galeano, autor de ‘As Veias Abertas
da América Latina’). O escritor, ao ser
entrevistado por Cynara Menezes surpreendeu ao afirmar: “Eu não seria capaz de ler novamente As Veias Abertas da América Latina...,
cairia desmaiado”.
Esta declaração, repudiando sua mais impactante obra,
pode servir de parâmetro para tentarmos entender as incongruências nas relações
internacionais. Aliás, Ramón de Campoamor, autor do famoso poema que diz: “Nada hay de verdad ni mentira, todo es
segun el color del cristal com que se mira”, bate na mesma tecla.
Embrenhemo-nos nas nuances mais recônditas desta
invasão que a Rússia perpetrou na Ucrânia: Quando Putin planejou a agressão que relembra o episódio bíblico de
Golias contra Davi, selou um acordo com Xi-Jinping, presidente da República
Popular da China, aparentemente com a finalidade subjacente de alterar o
sistema internacional da estrutura do PODER. Ledo engano, a China tende a se
manter afastada do conflito. Elucubra-se que Taiwan possa ser a Ucrânia de
amanhã.
Interesses comerciais falam alto, cada um pensa em
auferir vantagens num mundo futuro em que os Estados Unidos não terão o
protagonismo atual. Para a China é vantajoso que haja um desfecho pacífico.
As sanções econômicas impostas à Rússia são um alerta
vermelho para Xi-Jinping. Por outro lado, uma Rússia em dissonância com o resto
do mundo ficará ainda mais dependente da China.
Não devemos esquecer que a China nunca pensou em
política internacional a curto ou médio prazo. Como diria o jornalista,
professor e deputado federal Jorge Alberto Beck Mendes Ribeiro: “Aponta muito baixo quem mira as estrelas”.
A legendária “Rota da Seda”, milenar, que conectou o
mundo antigo, estendia-se de Chang’na, na China, até Antióquia, na Ásia Menor,
Coreia e Japão, a maior rede comercial do mundo antigo. Caravanas, embarcações
oceânicas faziam ligação entre o Oriente, Coreia, Japão, inúmeros países e
regiões, chegando até a Suécia.
No volume “Marco Polo e a Rota da Seda”, da coleção “Descobertas”,
Jean-Pierre Drège, especialista em história da China, narra a saga desse
personagem numa abordagem original, inspirada no relato da viagem do jovem
veneziano em 1271.
Decorridos éculos, alguém duvida que a China tenha os
olhos voltados para refazer uma nova rota, não da seda, mas do comércio
internacional, em que manejaria os cordéis, tendo o mundo no papel de
marionete? Os Estados Unidos aparentemente não dispõem mais do poder que
ostentavam, incontestes, nas últimas décadas. O campo está aberto para ser
explorado por quem tenha competência para tanto.
Ao longo da História os impérios surgem, chegam ao
clímax, estagnam e cedem o lugar aos mais afoitos, impetuosos e perseverantes.
Estará chegando a vez da China?
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado
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