sexta-feira, 7 de agosto de 2020

VOX POPULI, VOX DEI

 


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

VOX POPULI, VOX DEI – 09/08/2020

Esta alegoria já era conhecida pelos gregos antes da era cristã. Tito Livio (59 a.C. – 17 d.C.), historiador romano, em sua obra “Ab Urbe Condita”, a História de Roma a citava.                                                 Nicolau Machiavelli de Florença em sua obra mais famosa, “O Príncipe”, aconselhava os poderosos como ganhar e preservar o poder. Etc.

É uma falácia e, num debate com quem usava o argumento para coonestar despautérios de governos recentes contestei:
“Se a voz do povo é a voz de Deus Pilatos agiu corretamente ao libertar Barrabás e mandar crucificar Jesus”.    Esta falácia é paradigmática, um enunciado falso que, entretanto, simula a verdade. Um sofisma.

Em 2002 a dívida externa+interna do Brasil (federal, estadual e municipal) era de R$ 852 bilhões, acumulada em 180 anos, desde a Independência do Brasil. Em 2018, catapultou para R$ 4,25 trilhões, (Zero Hora, 28/02/2020). O AUMENTO EXTRAPOLADO SE VERIFICOU EM 16 ANOS. Se “vox populi, vox Dei” exprimisse o correto este fato que remete às futuras gerações um ônus exorbitante seria admitido sem tergiversações nem revolta. O recrudescimento da inflação (que tanto tempo nos esgoelou) está à vista logo adiante, será um efeito secundário e terrível da irresponsabilidade nefasta.

Bolsonaro, o presidente atual, afirmou (um dia após apoiar as manifestações pedindo o retorno do AI-5) ter sido eleito pelo povo e, portanto, representa a Constituição (???).

Vire a página e reflita comigo sob um ângulo peculiar: “A maior dificuldade em decidir ocorre quando ambos os lados têm razões indiscutíveis”. Lembro uma passagem de um livro de Paulo Coelho “Na Busca da Verdade” (não sou fã dele):

Andavam pelo deserto Maomé e um discípulo quando avistaram, ao longe, um vulto largar algo na beira do caminho. Curioso o discípulo perguntou:

- Mestre, quem é e o que está fazendo?                                                                                                                    - É o diabo e espalha fragmentos da verdade.                                                                                                    - Então ele não é tão mau assim.                                                                                                                         - Engano seu, é o que ele quer sugerir. Largando esparsos fragmentos da verdade, cada vez que alguém encontrar um deles ficará convicto que possui o todo e defenderá com empenho a sua VERDADE, repelindo e combatendo os que recolheram outros fragmentos. O contraponto será rejeitado com intensidade e não haverá acordo possível. Cada um defenderá seu fragmento e não haverá acordo possível, o caos se estabelecerá.

Mutatis mutandis, é o que ocorre no Brasil no momento atual.

Primeiro fragmento da verdade: a Economia não pode parar senão o país soçobra.                                   Segundo: o isolamento social é necessário para impedir a propagação da catástrofe provocada pelo vírus.                                                                                                                                                                     Com quem ficamos? A quem dar ouvidos e fé?

Os latinos já tinham a resposta: “in médio stat virtus”, no meio está a virtude. Não podemos paralisar todas as atividades, seria determinar o caos econômico, muito menos permitir aglomerações irresponsáveis... a vida é o bem maior.

A AUTORIDADE (assim mesmo, com letras maiúsculas) com a “caneta”, discernimento e inteligência saberá dosar as providências. E, para ser justo, imparcial, coerente, estabelecerá a quantia certa para cada caso. O mesmo critério não poderá ser aplicado para São Paulo e para municípios de baixa população e sem recursos. Os parâmetros de população com risco de contágio, comportamento dos populares, etc., são díspares. Portanto... É neste momento que se conhece “quem tem farinha no saco”, sabedoria e, acima de tudo, coragem para adotar providências, mesmo que amargas e impopulares.

“Um político pensa na próxima eleição; um estadista, na próxima geração”- James Clarke

 Jayme José de Oliveira
Cirurgião-dentista aposentado

cdjaymejo@gmail.com


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