sábado, 15 de dezembro de 2018

POLIIZAÇÃO DO ENSINO




Coluna publicada em "www.litoralmania.com.br" - 15/12/2018

http://www.litoralmania.com.br/politizacao-do-ensino-jayme-jose-de-oliveira/

PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

POLITIZAÇÃO NO ENSINO

Se controlar a geração na qual os fatos ocorrem já é um problema que sempre se manifestou preocupante para os soberanos, conseguir doutrinar as gerações futuras uma cogitação fascinante. Pudera, além de incrementar a tranquilidade contemporânea garantiria a paz e estabilidade interna para os sucessores.                                                                                             A politização nas escolas é, portanto, um assunto recorrente e os primeiros dados que possuo datam de 502 anos. Mais de cinco séculos. Sim! Aparecem explicitamente em ”Utopia”.
Thomas Morus escreveu “Utopia” que foi publicada em 1516. Descreve uma sociedade perfeita onde o dinheiro e a propriedade privada sequer existem e TODOS possuem os mesmos direitos. Para possibilitar a existência desse regime faz-se necessário um mundo perfeito e uma das maneiras de consegui-lo é estabelecer um regime educacional concebido e executado de maneira rígida, com regras inflexíveis.                                                                                                    A educação utopiana visa, em primeiro lugar, criar bons cidadãos. Ela é supervisionada por sacerdotes, vale lembrar que são poucos, nunca mais de quatrocentos, que se dedicam a instilar na mente dos jovens “princípios que beneficiam a vida da comunidade”, para tanto os mestres têm o dever de exortar, advertir, conter os transgressores e excluir dos ritos sagrados os que reconhecem como incorrigíveis. Esses terão sua impiedade punida pelo Senado. A condição de perpetuidade duma república precisa ser diretamente absorvida e esta atitude é incutida desde a mais tenra idade. Não será exagero afirmar que a função dos “educadores” se baseia nos mais comezinhos preceitos da técnica mais conhecida como “lavagem cerebral”.
Decorridos séculos agregou-se no Brasil um ingrediente asqueroso: a xenofobia. Durante o período do Estado Novo (1937-1945), entre as medidas tomadas por Vargas está a campanha de nacionalização, que tinha como objetivo integrar os imigrantes e seus descendentes à cultura brasileira. Nas escolas, os professores deveriam ser brasileiros natos ou naturalizados, as aulas deveriam ser ministradas em português e era proibido o ensino de línguas estrangeiras. Em 1939, medidas mais drásticas foram adotadas: houve a proibição de falar uma língua estrangeira em público - inclusive durante celebrações religiosas.  Em 1942, com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, as repressões ficaram ainda mais violentas, pessoas que não falassem português eram presas e parte da memória dos imigrantes foi destruída (jornais, revistas, livros, documentos, etc.).
Em 1964, a “Revolução Redentora” para uns ou “Ditadura Militar” para outros, incluiu a Organização Social e Política Brasileira (OSPB), disciplina que, de acordo com o Decreto Lei 869/68, tornou-se obrigatória no currículo escolar brasileiro a partir de 1969, juntamente com a disciplina de Educação Moral e Cívica (EMC). Ambas foram adotadas em substituição às matérias de Filosofia e Sociologia e ficaram caracterizadas pela transmissão da ideologia do regime autoritário ao exaltar o nacionalismo e o civismo dos alunos e privilegiar o ensino de informações factuais em detrimento da reflexão e da análise.
Até aqui nenhuma objeção foi levantada aos fatos de per si incontestes por quem, na atualidade, não admite que as escolas abdiquem de “politizar” os alunos.
Em 15 de março de 1985 encerrou o ciclo revolucionário e a redemocratização evoluiu em etapas até hoje. Continua em curso. Partidos foram criados, eleições ocorreram e presidentes foram empossados e dois deles sofreram impeachment.
Os estabelecimentos de ensino, libertos do jugo da OSPB gerenciaram seu estilo e, isto é indubitável, dividiram suas tendências, professores tiveram liberdade para expor suas ideias e, junto com elas seus vieses políticos. Direita e esquerda ocuparam espaços. Até hoje isto ocorre.
Os órgãos estudantis, capitaneados pela União Nacional dos Estudantes (UNE) desde o início teve dirigentes universitários ligados aos partidos de esquerda. Após a eleição de Jair Bolsonaro o Movimento Brasil Livre (MBL) pretende competir no pleito, na próxima eleição pretende apresentar um candidato e este fato transforma o atual panorama numa disputa real. Aguardemos o desfecho. Assim se exercita a democracia.
Como foi acima exposto, desde 1516 existem escolas COM partido e foram, ao menos as brasileiras, criticadas severamente pelos dirigentes. Em tempo, atualmente há, sim, partidarização em muitos estabelecimentos de ensino e, de maneira esdrúxula, este fato é defendido pelos que não aceitam “Escolas SEM Partido”. Ressaltamos com toda a ênfase: professores podem, e devem ter convicções. Professores não podem, e não devem defendê-las nas salas de aula. Vale para os de direita, vale para os de esquerda. Quem se opõe a que se condene proselitismo no ensino, no mínimo não mantém as convicções que alardeava contra o OSPB.
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado





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