sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

VOTOS







PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

VOTOS

Os da terceira idade, me incluo, lembram dois grandes jornais: “Correio do Povo” e “Diário de Notícias”, ambos extintos.
Tabloides – incluindo o novo “Correio do Povo” – mais fáceis de ler e manusear circulam a  partir de 1936 (“Folha da Tarde”). “Última Hora” (1960-1964), sob a direção de Samuel Wainer foi fechada pela Ditadura Militar devido à sua vinculação como presidente deposto.  Em 04 de maio de 1964 “Zero Hora” preencheu a lacuna, iniciativa de Maurício Sirotsky Sobrinho, do grupo RBS.                                                                                                                   Jornalistas da velha guarda, podemos destacar Breno Caldas, Arlindo Pasqualini, Flávio Alcaraz Gomes e muitos outros, foram responsáveis pelo jornalismo no RS. Inúmeros profissionais engrandeceram a mídia gaúcha e lutaram ombro a ombro com os grandes centros do país.

 Sérgio Jockyman (Palmeira das Missões (RS)29 de abril de 1930 – Campinas (SP)16 de fevereiro de 2011) foi um jornalistaromancistapoeta e dramaturgo brasileiro. Seu pai, um engenheiro agrônomo e farmacêutico, e sua mãe, professora primária, tiveram uma forte influência para que nele despertasse o gosto pela literatura. Jornalista desde os 17 anos, trabalhou no Diário de Notícias, Correio do Povo, Folha da Tarde, Rádio Guaíba, Rádio Farroupilha, Rádio Pampa, TV Piratini, TV Difusora e TV Gaúcha. Autor de inúmeras peças teatrais, poesias, contos e romances.
Para os leitores de “Litoralmania” uma obra-prima de Sérgio Jockyman nesta passagem de ano:
VOTOS
Pois desejo primeiro que você ame e que amando, seja também amado.                          E que se não o for, seja breve em esquecer e esquecendo não guarde mágoa.                Desejo depois que não seja só, mas que se for saiba ser sem desesperar.                          Desejo também que tenha amigos e que mesmo maus e inconsequentes sejam corajosos e fiéis.                                                                                                                              E que em pelo menos um deles você possa confiar e que confiando não duvide de sua confiança.                                                                                                                                        E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos, nem muitos nem poucos, mas na medida exata para que algumas vezes você interpele a respeito de suas próprias certezas.                                                                                                                E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo para que você não se sinta demasiadamente seguro.                                                                                                  Desejo depois que você seja útil, não insubstituivelmente útil, mas razoavelmente útil.                                                                                                                                                  E que nos maus momentos, quando não restar mais nada, essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.                                                                                            Desejo ainda que você seja tolerante, não com que os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com aqueles que erram muito e irremediavelmente.                                            E que essa tolerância não se transforme em aplauso nem em permissividade, para que assim fazendo um bom uso dela, você dê também um exemplo para os outros.   Desejo que você sendo jovem não amadureça depressa demais,
e que sendo maduro não insista em rejuvenescer,
e que sendo velho não se dedique a desesperar.
                                                         Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram dentro de nós.                                                                                                                                 Desejo por sinal que você seja triste, não o ano todo, nem um mês e muito menos uma semana, mas um dia.                                                                                                             Mas que nesse dia de tristeza, você descubra que o riso diário é bom, o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.                                                                                        Desejo que você descubra com o máximo de urgência, acima e a despeito de tudo, talvez agora mesmo, mas se for impossível amanhã de manhã, que existem oprimidos, injustiçados e infelizes.                                                                                                                  E que estão à sua volta, porque seu pai aceitou conviver com eles                                       E que eles continuarão à volta de seus filhos, se você achar a convivência inevitável.     Desejo ainda que você afague um gato, que alimente um cão e ouça pelo menos um João-de-barro erguer triunfante seu canto matinal.                                                                 Porque assim você se sentirá bom por nada.                                                                           Desejo também que você plante uma semente e acompanhe seu crescimento dia a dia, para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.                               Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro porque é preciso ser prático. E que pelo menos uma vez por ano você ponha uma porção dele na sua frente e diga: Isto é meu   Só para que fique claro quem é o dono de quem.                                                                   Desejo ainda que você seja frugal, não inteiramente frugal, não obcecadamente frugal, mas apenas usualmente frugal.                                                                                      Mas que essa frugalidade não impeça você de abusar quando o abuso se impuser.   Desejo também que nenhum de seus afetos morra. Mas que se morrer, você possa chorar sem se culpar e sofrer sem se lamentar.                                                            Desejo por fim que, sendo mulher, você tenha um bom homem e que sendo homem tenha uma boa mulher.                                                                                                               E que se amem hoje, amanhã, depois, no dia seguinte, mais uma vez e novamente de agora até o próximo ano acabar.                                                                                                E que quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda tenham amor pra recomeçar.      E se isso acontecer, não tenho mais nada para desejar.
Fonte: Folha da Tarde – Porto Alegre – 30 de Dezembro de 1978.




Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

domingo, 23 de dezembro de 2018

INDULTO DE NATAL






PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

INDULTO DE NATAL

Qual o mais esperado presente de Natal em 2018? Não é uma bola; não é uma boneca; não é uma bicicleta; não é um celular; não é um smartphone; não é nenhum dos tradicionais. É o “Indulto de Natal”!                                                                                               Qual o mais execrado, o mais abominado pelos cidadãos que trabalham para suprir seu sustento e dos familiares; para pagar o aluguel; para educar os filhos; para pagar um plano de saúde? Não é nenhum desses, é o “Indulto de Natal”!                                                   Papai Noel é esperado por delinquentes; por corruptos; por corruptores; por delatores; por dirigentes de corporações; por CEOS de construtoras. O Bom Velhinho tem mais este fardo a carregar, distribuir, além dos presentes esperados por crianças e adultos desde sempre.
Em 28/11/2018 o STF iniciou o julgamento do Indulto de Natal assinado pelo presidente Temer em 2017 e questionado pela PGR.

O ministro do STF, Luís Roberto Barroso, relatou o processo que julga a constitucionalidade, a justiça, a possibilidade de outorga-lo ou não.                                                                                                                            “Sinto vergonha sempre que me deparo com a leniência com que são tratados os crimes neste país”. Disse ainda que o costume da edição anual de indultos natalinos tem caráter geral, abstrato, sem convincente e excepcional justificativa humanitária. O ministro ressaltou uma “tendência de abrandamento nos requisitos para a concessão de perdão presidencial”. Se até 1990 “havia uma longa lista de delitos excluídos, a relação foi progressivamente reduzida passando-se inclusive a admitir para crimes com emprego de violência”.                                                                                                                  O ato tem graves problemas de legitimidade, no momento em que as instituições e a sociedade brasileira travam uma batalha ingente contra a corrupção e crimes correlatos.
É inconstitucional a concessão se indulto a multas, não tem fins humanitários para idosos, pacientes de doenças graves que não possam ser tratadas na instituição penal. Afronta a decisão do próprio STF que já decidira ser condição sine qua non para a concessão.                                                                                                                   É inconstitucional conceder a casos dissimilares ao da liberdade condicional que é de 30% de cumprimento da pena.                                                                                                                             É inconstitucional para penas superiores a 8 anos.                                                         É inconstitucional para crimes de concussão, corrupção passiva, corrupção ativa, tráfico de influência, crimes contra o sistema financeiro nacional, crimes previstos na lei de licitações, lavagem de dinheiro, ocultação de bens, associação criminosa e para quem tem acusação pendente de análise.
A ONU avalia sempre a gravidade dos delitos. Quanto maior a gravidade, quando se retira do uso público verbas concedidas à corrupção aumenta esta gravidade e, por conseguinte, as penas a serem aplicadas. Quando não fazemos isso, criamos um país desonesto.
Não somos atrasados por acaso, somos porque os crimes são muito bem defendidos. Exemplos vergonhosos:                                                                                                  Investir verbas dos Fundos Previdenciários em fundos podres como ocorreu com os da Argentina e Venezuela trouxe como consequência a descapitalização dos mesmos. Bilhões de reais. Foram grupos criminosos profissionais enquistados no governo que se locupletaram.                                                                                                              O foro privilegiado é um acinte e colide frontalmente com o Art. 5º da Constituição – todos são iguais perante a lei.                                                                                                                                    A SOCIEDADE NÃO ACEITA E VOTOU CONTRA.
Enquanto os “progressistas” acham que os fins justificam os meios e os “conservadores” acham que a corrupção é prática exclusiva dos “outros” a solução não se avista na fímbria do horizonte.
Há dois tipos de corruptos afirma o ministro Barroso:                                                     1. Os que não querem ser punidos.                                                                                2. Os que não querem ser honestos, nem a partir de hoje.  
A “Operação Mãos Limpas” foi derrotada na Itália. A classe política para se proteger criou leis para proteger criminosos. A LUTA NÃO FOI LEVADA ATÉ O FIM E FOI O FIM DA ESPERANÇA.
No Brasil já foram investigados, alguns julgados, condenados e presos:                              Um ex-presidente.                                                                                                        Um presidente denunciado duas vezes e investigado duas vezes também.                   Vários governadores e ex-governadores.                                                                    Ex-presidentes da Câmara Federal.                                                                                    Inúmeros políticos, doleiros, dirigentes de corporações, CEOS de construtoras, etc.              NINGUÉM assume os erros, todos se dizem vítimas de perseguição política. Pasmem, afirmam que não houve corrupção.
As pessoas perderam o senso crítico quando defendem o Indulto de Natal.                          O indulto dá incentivos errados para pessoas erradas. Os honestos são penalizados, perdem o norte e a esperança.                                                                                                  Barroso conclui: “Cada um escolhe o lado que quer estar na história, só não pode estar dos dois lados. Um presidente não pode decidir sozinho quem vai ser agraciado com o indulto”.
QUE MENSAGEM VAMOS PASSAR AO POVO SE O STF APROVAR O INDULTO?                                                                              
Resumo do voto do relator Luís Roberto Barroso – 4 minutos 47 segundos
Após o voto do relator, contra a concessão do indulto, Alexandre Machado votou a favor, empatando e assim foi encerrada a sessão no dia 28/11.                                                  Reiniciada no dia seguinte, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio, Gilmar Mendes e Celso de Melo acompanharam Alexandre Machado e Edson Fachin votou com o relator.  O resultado parcial, com seis votos a favor decidia o julgamento, porém Luiz Fux pediu vista e o julgamento fica com o resultado em suspenso tendo em vista que qualquer juiz, mesmo já tendo votado, pode reconsiderar até o encerramento do julgamento.
Convém registrar que o “Indulto de Natal” significa o PERDÃO DA PENA, com sua consequente extinção. É regulado por Decreto do Presidente da República, com base no artigo 84, XII da Constituição Federal.
A procuradora geral da República, Raquel Dodge, disse que os termos do decreto enfraquecem a luta contra a corrupção no país. Cabe ao Judiciário fixar a pena e essa deve ser cumprida na medida do possível integralmente, para desestimular a prática de corrupção no país. Estamos todos num esforço muito grande de investigação e punição dos crimes de colarinho branco e o decreto indulta as penas aplicadas.
O procurador Daltan Dallagnol diz que “esse indulto transforma o trabalho da Lava Jato e as penas de corrupção numa piada”.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

sábado, 15 de dezembro de 2018

POLIIZAÇÃO DO ENSINO




Coluna publicada em "www.litoralmania.com.br" - 15/12/2018

http://www.litoralmania.com.br/politizacao-do-ensino-jayme-jose-de-oliveira/

PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

POLITIZAÇÃO NO ENSINO

Se controlar a geração na qual os fatos ocorrem já é um problema que sempre se manifestou preocupante para os soberanos, conseguir doutrinar as gerações futuras uma cogitação fascinante. Pudera, além de incrementar a tranquilidade contemporânea garantiria a paz e estabilidade interna para os sucessores.                                                                                             A politização nas escolas é, portanto, um assunto recorrente e os primeiros dados que possuo datam de 502 anos. Mais de cinco séculos. Sim! Aparecem explicitamente em ”Utopia”.
Thomas Morus escreveu “Utopia” que foi publicada em 1516. Descreve uma sociedade perfeita onde o dinheiro e a propriedade privada sequer existem e TODOS possuem os mesmos direitos. Para possibilitar a existência desse regime faz-se necessário um mundo perfeito e uma das maneiras de consegui-lo é estabelecer um regime educacional concebido e executado de maneira rígida, com regras inflexíveis.                                                                                                    A educação utopiana visa, em primeiro lugar, criar bons cidadãos. Ela é supervisionada por sacerdotes, vale lembrar que são poucos, nunca mais de quatrocentos, que se dedicam a instilar na mente dos jovens “princípios que beneficiam a vida da comunidade”, para tanto os mestres têm o dever de exortar, advertir, conter os transgressores e excluir dos ritos sagrados os que reconhecem como incorrigíveis. Esses terão sua impiedade punida pelo Senado. A condição de perpetuidade duma república precisa ser diretamente absorvida e esta atitude é incutida desde a mais tenra idade. Não será exagero afirmar que a função dos “educadores” se baseia nos mais comezinhos preceitos da técnica mais conhecida como “lavagem cerebral”.
Decorridos séculos agregou-se no Brasil um ingrediente asqueroso: a xenofobia. Durante o período do Estado Novo (1937-1945), entre as medidas tomadas por Vargas está a campanha de nacionalização, que tinha como objetivo integrar os imigrantes e seus descendentes à cultura brasileira. Nas escolas, os professores deveriam ser brasileiros natos ou naturalizados, as aulas deveriam ser ministradas em português e era proibido o ensino de línguas estrangeiras. Em 1939, medidas mais drásticas foram adotadas: houve a proibição de falar uma língua estrangeira em público - inclusive durante celebrações religiosas.  Em 1942, com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, as repressões ficaram ainda mais violentas, pessoas que não falassem português eram presas e parte da memória dos imigrantes foi destruída (jornais, revistas, livros, documentos, etc.).
Em 1964, a “Revolução Redentora” para uns ou “Ditadura Militar” para outros, incluiu a Organização Social e Política Brasileira (OSPB), disciplina que, de acordo com o Decreto Lei 869/68, tornou-se obrigatória no currículo escolar brasileiro a partir de 1969, juntamente com a disciplina de Educação Moral e Cívica (EMC). Ambas foram adotadas em substituição às matérias de Filosofia e Sociologia e ficaram caracterizadas pela transmissão da ideologia do regime autoritário ao exaltar o nacionalismo e o civismo dos alunos e privilegiar o ensino de informações factuais em detrimento da reflexão e da análise.
Até aqui nenhuma objeção foi levantada aos fatos de per si incontestes por quem, na atualidade, não admite que as escolas abdiquem de “politizar” os alunos.
Em 15 de março de 1985 encerrou o ciclo revolucionário e a redemocratização evoluiu em etapas até hoje. Continua em curso. Partidos foram criados, eleições ocorreram e presidentes foram empossados e dois deles sofreram impeachment.
Os estabelecimentos de ensino, libertos do jugo da OSPB gerenciaram seu estilo e, isto é indubitável, dividiram suas tendências, professores tiveram liberdade para expor suas ideias e, junto com elas seus vieses políticos. Direita e esquerda ocuparam espaços. Até hoje isto ocorre.
Os órgãos estudantis, capitaneados pela União Nacional dos Estudantes (UNE) desde o início teve dirigentes universitários ligados aos partidos de esquerda. Após a eleição de Jair Bolsonaro o Movimento Brasil Livre (MBL) pretende competir no pleito, na próxima eleição pretende apresentar um candidato e este fato transforma o atual panorama numa disputa real. Aguardemos o desfecho. Assim se exercita a democracia.
Como foi acima exposto, desde 1516 existem escolas COM partido e foram, ao menos as brasileiras, criticadas severamente pelos dirigentes. Em tempo, atualmente há, sim, partidarização em muitos estabelecimentos de ensino e, de maneira esdrúxula, este fato é defendido pelos que não aceitam “Escolas SEM Partido”. Ressaltamos com toda a ênfase: professores podem, e devem ter convicções. Professores não podem, e não devem defendê-las nas salas de aula. Vale para os de direita, vale para os de esquerda. Quem se opõe a que se condene proselitismo no ensino, no mínimo não mantém as convicções que alardeava contra o OSPB.
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado





domingo, 9 de dezembro de 2018

A FÁBULA DOS DOIS BURRINHOS





COLUNA PUBLICADA EM 08/12/2018

http://www.litoralmania.com.br/a-fabula-dos-dois-burrinhos-jayme-jose-de-oliveira/

PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

A FÁBULA DOS DOIS BURRINHOS
Esopo era um escravo grego que se tornou escritor e adquiriu destaque com suas fábulas. A dos dois burrinhos foi inclusive lembrada e citada por La Fontaine, fabulista francês. Ambos usavam animais que falavam e procediam como humanos e, dessa maneira, representava simbolicamente nossas virtudes e defeitos.
A que me refiro serve como uma luva para o Brasil de hoje.
Em vez de dividirmos e dessa maneira usufruirmos as riquezas e oportunidades que se nos deparam, o comum é uma luta sem quartel (não tirem ilações) que apenas desgasta e inibe um proveito comum. Quando se digladiam e procuram alijar os rivais, TODOS ficam “a ver navios” e o Brasil patina em vez de alçar voo rumo ao progresso e bem estar que se avista na fímbria do horizonte.   
      
O Brasil se tornou um país maniqueísta, reage com nuances ciclotímicas que induzem a uma pobreza intelectual sem tamanho. Não admitimos meios termos, ou és de esquerda (comunista) ou de direita (nazista). Ora, comparar o Brasil com a República de Weimar, responsável pela tentativa de extermínio dos judeus, ciganos e minorias várias é tão esdrúxulo como se rotular os adversários de seguidores de Lenin, um regime tão sanguinário e violento como o de Hitler. Ambos patrocinaram milhões de mortes e arrasaram seus países e aliados.
A dicotomia que rege nossos passos se retrata em quantas oportunidades apareçam. Quando um partido ascende ao poder trata, incontinenti, de desfazer o que o anterior elaborara. Não importa tenham sido avanços ou desastradas atitudes. Assim ocorre, por exemplo, com os “Mais Médicos”.
Na gestão da presidente Dilma foi acordada a vinda de médicos cubanos para suprir necessidades prementes no Brasil. Ocorreram disparidades e desvios, inclusive desconsiderando a legislação vigente: aos médicos cubanos não foi exigido o exame revalida, indispensável à efetivação de TODOS os estrangeiros postulantes que queiram atuar no Brasil. Uma das cláusulas do contrato assinado com a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) repartiu os R$ 11.865,00 – pagos pelo Brasil - em duas partes desiguais: R$ 8.865,00 ao governo de Cuba e R$ 2.996,00 aos médicos.                                                                                                                             “Ninguém vem de Cuba enganado, afirma Richele Collago Cruz, médico que atua no município de Chapada-RS. Quando a gente vê a diferença, se comparado com os R$ 300,00 (o equivalente ao salário em Cuba) corresponde a um grande salário”.                                    Parece uma partilha justa, se consideramos que ambas as partes estão concordes. Esse contrato representa o equivalente a uma terceirização de vínculo empregatício.                                                                                                              A lei nº 13.429/2017 foi votada e aprovada pelo Congresso Nacional. O presidente Temer sancionou. A incongruência reside no fato de o PT, em sua totalidade, e os seus aliados na ocasião (em sua maioria) votaram A FAVOR do contrato de terceirização dos “Mais Médicos” e CONTRA a supracitada lei da terceirização brasileira.                                                      Não cabe aqui julgar se a lei é justa ou prejudicial aos trabalhadores brasileiros, mas ressaltar que, para situações equivalentes, deputados votaram de maneira oposta, de acordo com as convicções do momento.
Especula-se, com justa razão, da oportunidade de o presidente eleito ter provocado um conflito que resultou na ordem de retorno aos médicos cubanos, ordem esta emanada do governo de Cuba. Uma coisa é indubitável: cerca de 24 milhões de brasileiros ficarão carentes de assistência médica até ocorrer a reposição. O governo federal lançou um edital para suprir essas vagas (inscrições no site “maismedicos.gov.br”).
Vagas abertas no edital: 8.517, até 03/12/2018 foram recebidas 34.357 inscrições. Destas, 8.393 tiveram vagas selecionadas, o equivalente a 98,5% do total.                                    Vagas para os estados do Amazonas, Pará e Amapá ainda não tinham médicos interessados. São 124, em locais de maior vulnerabilidade. Embora a adesão ao edital seja considerada alta, a possibilidade de desistências gera preocupações.
Desde 29/11/2018 o Ministério de Saúde passou a ligar para médicos inscritos para solicitar que se apresentem de forma imediata. Também pedem que aqueles que planejam desistir comuniquem para apurar o lançamento de um novo edital.
Um problema de proporções gigantescas foi criado e a solução não pode tardar. Milhões de brasileiros não podem ficar desassistidos.
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado



sábado, 1 de dezembro de 2018

RESQUÍCIOS DA PRÉ-HISTÓRIA





Coluna publicada em "litoralmania.com.br" - 01/12/2018.

http://www.litoralmania.com.br/resquicios-da-pre-historia-jayme-jose-de-oliveira/

PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

RESQUÍCIOS DA PRÉ-HISTÓRIA
“A evolução nos conduziu para a vida tribal. Entenda “tribal” não como primitivo, mas como uma família estendida. Fomos programados para conviver em grupos pequenos, com indivíduos que encaram a vida de uma forma parecida com a nossa – que comungam das mesmas crenças, hábitos e valores. Quem não comungasse era considerado um inimigo, um predador humano, alguém pronto para roubar a sua comida e matar você ao longo do processo”. (Joshua Greene, professor de Harvard)
Foi dessa forma que organizamos nossa vida coletiva por centenas de milhares de anos. O cérebro criou mecanismos para proteger os laços tribais. Somos recompensados com pequenas doses de dopamina, o neurotransmissor do prazer cada vez que alguém repetir crenças e valores iguais aos nossos e isso indica que irá nos proteger. Na realidade nosso cérebro ainda não saiu da caverna e raciocina como na pré-história em alguns setores. E REAGE DE ACORDO.                                                                                                 Por isso temos INIMIGOS e não ADVERSÁRIOS (bolsomínions-fascistas; petralhas-comunistas).
Nós não estamos apenas ouvindo cada vez menos uns aos outros, estamos também acirrando os ânimos contra os que pensam de maneira diferente e reforçando os preconceitos. Ambas as partes.                                                                                      Esta situação aumenta a possibilidade de sermos engolidos pela histeria e na hora do voto colocarmos o maniqueísmo no centro de nossas escolhas, radicalizando a crença que opositores políticos representam um clã selvagem inimigo capaz de desestabilizar legal e economicamente a nossa tribo. E, se observarmos atentamente, os que assim pensam são seres absolutamente normais que encontramos diuturnamente em cada esquina.
Persiste, e é incontornável, um movimento no sentido de rotular quem vota em certos partidos ou candidatos como os “outros”; quem acompanha a minha opção pertence à turma dos “meus”. O incrível é que os “outros” sempre são preconceituosos, corruptos, alienados e merecedores de adjetivos igualmente degradantes. Eu e os “meus”, por outro lado, somos o símbolo do equilíbrio e da aceitação plena – menos dos “outros”, é claro – pois esses não podem ser aceitos por ninguém. Se alguém dos “meus” comete a heresia de aceitar os “outros”, logo se transforma num deles e deixa de fazer parte do grupo seleto dos “meus”. (Renata Brasil Araujo, psicóloga – Zero Hora, 27/11/201l8).                                                                                                              É a dicotomia entre o “bem” e o “mal”. E o mal sempre é representado pelos “outros”. Devem ser execrados. Para todo o sempre.
Quem se expressou magnificamente sobre o assunto foi um humorista brilhante, Millôr Fernandes: “Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim”. 

Aos que consideram uma falácia o acima exposto, lembro os ásperos encontros protagonizados a todo o momento pelos nossos edis, tanto nos municípios, nos estados, na Câmara Federal, no Senado e, inclusive, nos meandros dos poderes Executivo e Judiciário. São escrachadamente divulgados pela mídia.
Esta repetição monocórdia me faz lembrar o Ministro da Propaganda na Alemanha Nazista, Paul Joseph Goebbels: “Uma mentira contada mil vezes, torna-se realidade”. Substituindo a palavra mentira por conduta teremos a situação vigente.
Para vislumbrar um futuro em que possamos viver uma verdadeira DEMOCRACIA devemos dar uma guinada no viés que serviu de mote para esta coluna e dar um salto de qualidade e redirecionar nosso cérebro para o pan-humanismo, meta final do ciclo civilizatório.
Concluo com dois pensamentos de Chico Xavier, médium e o maior psicógrafo brasileiro:
“A caridade começa dentro da nossa casa, com nossa família, respeitando cada um que está perto de mim... depois disso estamos preparados para fazer caridade fora”.
“Sua luta só pode terminar quando seus sonhos se realizam”.
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado



segunda-feira, 26 de novembro de 2018

OS EXTREMOS




Coluna postada em "www.litoralmania.com.br" - 26/11/2018

http://www.litoralmania.com.br/os-extremos-por-jayme-jose-de-oliveira/


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

OS EXTREMOS
A "águia americana" símbolo do escudo dos Estados Unidos da América aqui, em Duch Harbour, Alaska, sendo alimentadas por um pescador.
 Vale a pena ver!
O pescador do Alaska alimenta águias americanas no Dutch Harbor, Alaska, e registra num vídeo de 2 minutos!
 Jessie Peck tem muitas amigas águias carecas, quando ele sai no convés deste barco de pesca em Dutch Harbor, Alaska, com uma panela cheia de peixe fresco, é uma tremenda revoada. No começo você vê algumas águias no convés... então a câmera gira em torno e... elas estão empoleiradas em todo o barco e voando acima.
Melhor visualizar em tela cheia.




A Polícia Civil investiga o que teria causado a morte de cães em Herval do Sul, RS, na última semana. Já foram registradas oito ocorrências, 24 cachorros e um gato teriam sido mortos entre 16 e 17 de agosto de 2018 na cidade que tem menos de 7 mil habitantes. Segundo moradores os envenenamentos teriam ocorrido à noite.
Esses dois registros evidenciam como os humanos tanto podem apresentar comportamentos de altruísmo, respeito à vida e cooperação interespécies, como episódios de selvageria e crueldade inomináveis. A matança de cães em Herval do Sul, RS, nos enche de vergonha e revolta.
Não há dúvida que esses relacionamentos tão antagônicos revelam valores diferenciados da nossa espécie. O homo sapiens sapiens é capaz de gestos que o elevam ao píncaro e, também, de revoltantes procedimentos. Nem parece que indivíduos de comportamentos tão díspares pertencem à mesma espécie.






Vale ainda ressaltar que a existência de atitudes tão contraditórias são consequências de, ao contrário de todos os outros seres vivos, o livre-arbítrio nos permite optar pelo caminho a trilhar. Tanto podemos participar de gestos nobres como chafurdarmos no lodaçal da imbecilidade. Cabe a nós, exclusivamente a nós, a escolha. Não seguimos cegamente o que está escrito no “Livro da Vida”, “Maktub”, palavra árabe que significa “já estava escrito”. Também podemos chamar de “destino”, “predestinação”. Contrapõe-se ao livre-arbítrio que direciona o pensamento para uma liberdade não circunscrita e determinada pelos astros. Fôssemos prisioneiros do que nos obriga o destino não teríamos méritos nem culpas pelos atos que praticamos. Tanto para nossos altruísmos como para os nossos crimes. Afinal... maktub, estava escrito.                                                                                                                          


Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado